quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ESTUDO REVELA RISCOS NO CONSUMO DE AGUARDENTE PELA POPULAÇÃO MOÇAMBICANA

Primeiro estudante estrangeiro do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica da UFLA produziu tese que pode colaborar para projeto social em Moçambique 

De acordo com o professor moçambicano que concluiu o doutorado na Universidade Federal de Lavras (UFLA) Manuel Carlos Minez Tábua, em seu país o consumo de aguardente é motivo para preocupações. Segundo ele, as condições sociais levam a população a um consumo exagerado da bebida, alcançando inclusive crianças. 

O alto consumo, aliado ao fato de que a cadeia produtiva da aguardente segue padrões muito caseiros e tradicionais, carentes de critérios de qualidade, traz grandes riscos aos consumidores. 

Esse cenário levou Manuel a desenvolver, na UFLA, uma pesquisa que permitiu comparar a qualidade da aguardente de Moçambique com as cachaças produzidas no Brasil.

Os resultados confirmaram que há motivos para que o tema ganhe atenção. Utilizando os Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ’s) para a cachaça adotados pelo Ministério a Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Brasil, o pesquisador fez análises nas aguardentes de Moçambique, que revelaram a presença de contaminantes que trazem grandes riscos à saúde. Identificou-se excesso de acidez, metanol, cobre, aldeído, carbamato de etila e outras substâncias. 

De acordo com a professora do Departamento de Química (DQI) Maria das Graças Cardoso, orientadora da pesquisa, nesse grupo há componentes cancerígenos, tóxicos, que atacam o sistema nervoso central e outros órgãos do corpo. 

“Esses contaminantes são provenientes de etapas do processo de produção e de problemas com higienização. A má qualidade da bebida, conjugada ao consumo exagerado, é um grande alerta para a saúde pública no país”, esclarece.

Para realizar as análises, os pesquisadores utilizaram amostras de 13 aguardentes moçambicanas e 4 cachaças brasileiras, avaliando todas as 17 substâncias consideradas para controle de qualidade no Brasil, além de incluir a análise de metais, glicerol e compostos voláteis. 

Manuel relata que todas as amostras moçambicanas estavam fora dos parâmetros aceitáveis no Brasil, enquanto as brasileiras atenderam aos quesitos de qualidade estipulados pelo Mapa.

Com os resultados, o Programa de Pós-Graduação em Agroquímica da UFLA, que recebeu Manuel como seu primeiro estudante estrangeiro, colocou a pesquisa a serviço de uma internacionalização que poderá ter reflexos sociais no país africano. 

A expectativa é de que, com o fruto de seus estudos, Manuel possa montar um laboratório para análise de qualidade da aguardente na Universidade Pedagógica de Moçambique, onde atua, já que aprendeu todas as técnicas no Brasil. 

Segundo ele, os planos são de desenvolver, a partir daí, um trabalho social envolvendo produtores e atores políticos do país, tanto para estimular a adoção de padrões de qualidade quanto para conscientizar sobre os riscos do consumo em excesso. 

“Espero poder manter um intercâmbio com a UFLA, para que possamos melhorar as questões relacionadas à aguardente em Moçambique. Espero também mobilizar o governo moçambicano para o estabelecimento de padrões de qualidade”, explica.

A professora Graça, realçando os objetivos de internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica, destaca que essa primeira experiência foi gratificante, justamente por permitir a colaboração científica entre países e ter a perspectiva de gerar benefícios sociais. 

“Foi engrandecedor para nós do Laboratório de Análise de Qualidade de Aguardente , para mim como orientadora, e também para o Programa de Pós-Graduação em Agroquímica”

A diferença entre cachaça e aguardente
Na pesquisa desenvolvida por Manuel, há que se considerar uma diferenciação importante dos termos cachaça (associado à bebida no Brasil) e aguardente. 

Mas qual o que torna a cachaça, genuinamente brasileira, diferente das aguardentes produzidas pelo mundo? Segundo a professora Graça, a cachaça é produzida exclusivamente a partir da cana-de-açúcar e possui teor alcóolico de 38% a 48%, a 20 graus Celsius. 

Já as aguardentes podem ter outras matérias-primas, como ocorre em Moçambique, com aguardente de arroz, caju, abacaxi e outros frutos açucarados – além do fato de que a aguardente foge da graduação alcoólica definida para a cachaça. Assim, toda cachaça é uma aguardente, mas nem toda aguardente é cachaça.

com Ana Eliza Alvim - da assessoria

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