quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES EXIBE 108 FILMES

Evento homenageia atriz Grace Passô e discute expressividade dos corpos na produção artística
Atriz, dramaturga e diretora mineira Grace Passô é a homenageada da edição deste ano

A 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada na pequena Tiradentes, nas Vertentes, abre o calendário audiovisual brasileiro com vasta programação gratuita, entre os dias 18 e 26 de janeiro. 

Ao longo de nove dias, serão 108 filmes (28 longas, 2 médias e 78 curtas-metragens), em 49 sessões e 30 debates e encontros, além de performances artísticas, oficinas, lançamentos de livros e apresentações musicais. 

As atividades mobilizam a cidade histórica e ocupam três importantes espaços locais: o Largo da Rodoviária, que recebe a instalação do Complexo de Tendas - que inclui o Cine-Tenda e o Sesc Cine-Lounge; o Largo das Fôrras, que recebe o Cine-Praça; e a Praça de Convivência, no Centro Cultural Sesiminas Yves Alves, que, além de ser a sede do evento, recebe a programação de debates e filmes no Cine-Teatro.

A abertura, na noite do dia 18, homenageia a atriz, dramaturga e diretora mineira Grace Passô. A cerimônia exibe, em estreia mundial, o média-metragem “Vaga Carne”, uma coprodução assinada pela Universo Produção, EntreFilmes e Grãos de Imagem, dirigida por Grace Passô e Ricardo Alves Jr. O encerramento da Mostra será com outro trabalho mineiro, o longa “Os Sonâmbulos”, de Tiago Mata Machado, no dia 26, às 20h.

“Idealizada para ser a aliada do cinema brasileiro, a Mostra Tiradentes, em mais de duas décadas de existência, reafirma seu compromisso de apresentar ao público a diversidade da produção cinematográfica nacional contemporânea. Ao mesmo tempo, está consolidada como palco de encontros, discussões, formação e tendências do setor audiovisual no Brasil”, destaca a coordenadora geral e diretora da Universo Produção, Raquel Hallak.

Temática
A partir do desejo de valorizar a presença física, tanto no interior de uma sala de cinema quanto no espaço público e também como projeção do futuro, a curadoria da Mostra, coordenada por Cleber Eduardo, definiu “Corpos Adiante” como temática desta edição. 

A curadoria buscou encontrar, tanto nas representações estéticas do audiovisual quanto nos acontecimentos recentes do noticiário brasileiro e mundial, as relações possíveis entre corpos que ocupam os espaços que o tempo contemporâneo lhes oferece e, muitas vezes, tenta lhes atribuir.

“Antes do corpo no cinema, o corpo está em todo lugar, primeiro como matéria de carne, ossos, sangue, pele, cérebro e músculos, capacidades sensoriais, intelectuais e emocionais, aparência e superfície. Depois, vem o corpo como sujeito, agente, escolha existencial”, define Cleber. Ele tomou esses conceitos para chegar à arte como exaltadora do corpo – o que a Mostra vai reforçar em 2019, ao propor discutir as questões não apenas dentro do cinema e das imagens em movimento, mas também por meio de outras manifestações artísticas, como as artes visuais, o teatro e a performance.

Homenagem
Em 2019, a Mostra Tiradentes presta homenagem à atriz, dramaturga e diretora mineira Grace Passô, um dos nomes mais incensados das artes brasileiras nos últimos anos, referência no teatro e, mais recentemente, no cinema. 

Dona de forte presença, tanto física quanto simbólica, a homenageada se relaciona diretamente à temática “Corpos Adiante”. 

Para Cleber Eduardo, Grace é “um corpo que não é prescrito pelas convenções do que deve estar no protagonismo das imagens, e isso serve como um sentido político na nossa escolha. Ela é um só corpo, mas também muitos, e muitas mulheres, todas com sua marca distinguível, cada uma única em si. Grace é uma criadora, sob todos os aspectos. Ao vestir o interior e o exterior de outras mulheres em seu corpo, ela inventa vidas, presenças, modos de falar, de caminhar, de respirar, de olhar e de existir”. 

Além de “Vaga Carne”, média-metragem dirigido por Grace em parceria com Ricardo Alves Jr, o público poderá conferir o trabalho da atriz nos filmes da Mostra Homenagem “Temporada”, de André Novais Oliveira, e “Elon não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr, e na performance teatral inédita “Grão da Imagem”, na qual Grace descreve cenas reais e cinematográficas, tentando fazê-las visíveis sem projetá-las no espaço.

Longas e médias
Na programação de longas e médias-metragens serão exibidos 30 títulos em pré-estreia (28 longas e 2 médias), divididos em sete seções temáticas (Aurora, Olhos Livres, Homenagem, Corpos Adiante, Praça, Mostrinha e Valores), mais os filmes de encerramento. A seleção foi feita por Lila Foster e Victor Guimarães, com coordenação de Cleber Eduardo. Os filmes vêm de nove estados: Rio de Janeiro (7), São Paulo (6), Minas Gerais (5), Ceará (3), Bahia (2), Acre (2), Goiás (2), Pernambuco (2) e Paraíba (1).

Na Mostra Aurora, a variedade de proposições estéticas segue como marca da produção contemporânea brasileira, em filmes de cineastas com até três longas no currículo. Os sete selecionados, que serão avaliados pelo Júri da Crítica, são “A Rosa Azul de Novalis” (SP), de Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro; “A Rainha Nzinga Chegou” (MG), de Junia Torres e Isabel Casimira; “Tremor Iê” (CE), de Elena Meirelles e Lívia de Paiva; “Seus Ossos e seus Olhos” (SP), de Caetano Gotardo; “Vermelha” (GO), de Getúlio Ribeiro; “Desvio” (PB), de Arthur Lins; e “Um Filme de Verão” (RJ), de Jo Serfaty. “São todos filmes que buscam desconstruir os códigos da ficção e do documentário, com dramaturgias que se desenham entre o passado da ancestralidade, o presente dos conflitos e a incerteza do futuro”, aponta a curadora Lila Foster.

Em seu terceiro ano de realização, a Mostra Olhos Livres destaca a inventividade de filmes que buscam expandir as formas de abordagem de temas e estéticas. A serem avaliados pelo Júri Jovem e concorrendo ao Troféu Carlos Reichenbach, os títulos deste ano são “Carmen ou Corpo Impossível” (RJ), de Felipe Bragança e Catarina Wallenstein; “Superpina: Gostoso é Quando a Gente Faz!” (PE), de Jean Santos; “Trágicas” (RJ), de Aída Marques; “Currais” (CE), de David Aguiar e Sabina Colares; “Parque Oeste” (GO), de Fabiana Assis; e “Calypso” (RJ), de Rodrigo Lima e Lucas Parente. Para o curador Victor Guimarães, “as poéticas dos seis filmes nos parecem reunir algumas das apostas mais singulares em jogo no cinema brasileiro hoje”.

A Mostra Corpos Adiante carrega no nome a temática central da 22a edição do evento, que se dedica a refletir as presenças cênicas e físicas no cinema e na sua relação com outras manifestações artísticas. 

Para o curador Victor Guimarães, “os filmes reunidos nessa mostra inventam um futuro que não se contenta com a tarefa interminável de reagir às urgências: tratam de inventar, aqui e agora, um amanhã dissonante, imprevisível, indomado”. 

Os selecionados em longa e média são “Bimi, Shu Ikaya” (AC), de Isaka Huni Kuin, Siã Huni Kuin e Zezinho Yube; “Corpo Quilombo” (SP), de Leonel Costa; “Ilha” (BA), de Ary Rosa e Glenda Nicácio; e “Inferninho” (CE), de Guto Parente e Pedro Diógenes.

As sessões da Mostra Praça, pela terceira vez, serão seguidas de bate-papo dos diretores e diretoras com o público presente, numa aproximação ao ar livre que vem dando muito certo desde 2017. Para este ano, a curadoria buscou títulos que se relacionassem com o cenário atual da política e da sociedade brasileira. 

A curadora Lila Foster detalha: “Foi pensando na necessidade urgente de afirmarmos conquistas que os cinco filmes selecionados trazem a afirmação de lutas e formas de resistência. São batalhas vividas no cotidiano, na esfera íntima e no coletivo, na defesa da fabulação e do sonho, na investigação da ancestralidade, na firme presença do corpo negro e na constante defesa de direitos adquiridos”. Os longas são “Bando, um Filme de” (BA), de Thiago Gomes e Lázaro Ramos; “Clementina” (RJ), de Ana Rieper; “Empate” (AC), de Sérgio de Carvalho; “Meu Nome é Daniel” (RJ), de Daniel Gonçalves; e “Para’í” (SP), de Vinicius Toro.

Para as sessões de encerramento, no dia 26 de janeiro, dois títulos estarão em pré-estreia: “Depois da Farsa”, com direção coletiva de Cristiano Burlan, Dellani Lima, Frederico Machado e Taciano Valério; e “Os Sonâmbulos”, de Tiago Mata Machado – filmes que, para a curadora Lila Foster, são diferentes em quase tudo, mas se complementam. 

“Ambos lidam com a política de modo direto e enviesado a um só tempo, ora empregando as palavras como interpretação ou conclusão dos movimentos mentais e factuais de um país dividido em mais de duas partes, ora explorando a montagem como estratégia de convivência pouco lisa entre palavras, sons e imagens, corpos e espaços”, afirma ela.

Curtas
Em 78 produções, vindas de 13 estados do país, os espectadores poderão conferir a força expressiva do formato curto e suas possibilidades diante de temáticas, estéticas e abordagens das mais variadas. A curadoria de curtas-metragens desta edição foi de Pedro Maciel Guimarães, Camila Vieira e Tatiana Carvalho Costa, que assistiram a centenas de filmes durante o processo de seleção para chegar aos trabalhos selecionados.

Os títulos são de Minas Gerais (21), São Paulo (17), Rio de Janeiro (9), Goiás (5), Pernambuco (5), Bahia (6), Ceará (3), Distrito Federal (2), Paraná (3), Rio Grande do Norte (1), Paraíba (2), Rio Grande do Sul (1), Amazonas (1) e Mato Grosso (1). Os filmes estarão distribuídos em nove seções segmentadas dentro da grade de programação: Foco, Panorama, Corpos Adiante, Formação, Jovem, Regional, Praça, Valores e Mostrinha.

Para Pedro Maciel, os filmes desta edição estão marcados por reações de cineastas ou personagens a acontecimentos recentes da política brasileira. 

“É possível detectar certo estado de coisas a partir de dois aspectos. De um lado, uma total letargia dos protagonistas a partir do que vem acontecendo no Brasil, num misto de lamúria, lamentação, ensimesmamento, depressão e de uma vontade de compartilhar afetos. São filmes sobre juventudes perdidas, discussão de rumos e de enclausuramento em seus espaços”, aponta Pedro. 

O curador chama atenção para o protagonismo coral que poderá ser percebido em grande parte dos curtas-metragens de Tiradentes em 2019. 

“O grupo se torna personagem principal no filme, e os rumos desse grupo apontam os caminhos do filme. Essa difusão, essa falta de centralidade nos papéis, está muito presente tanto nos documentários quanto nas ficções”.

Avaliada pelo Júri da Crítica – formado por profissionais da reflexão audiovisual que escolhem o melhor título e concedem o Troféu Barroco e prêmios de parceiros do evento –, a Mostra Foco conta com 12 filmes, divididos em 3 séries. Segundo a curadora Camila Vieira, os curtas “propõem diferentes estratégias dos corpos mediante seus lugares no mundo e situações de crise”.

Debates
Parte fundamental da programação da Mostra de Cinema de Tiradentes, o Seminário do Cinema Brasileiro reúne dezenas de profissionais da produção e da reflexão audiovisual para debates, discussões e trocas de ideias, criando uma extensão das exibições, marca registrada do evento. Neste ano, o seminário conta com 37 profissionais, entre críticos, jornalistas e pesquisadores de cinema e outras áreas artísticas.

Todos os títulos das mostras Aurora, Olhos Livres, Foco e Corpos Adiante, além do média “Vaga Carne” e o longa "Temporada", vão ter bate-papos na série Encontro com os Filmes, sempre no dia seguinte às exibições e com presença de realizadores e críticos convidados. Já os debates relacionados à temática e homenagem da Mostra serão: “Corpos Adiante: perspectivas da curadoria”; “A presença de Grace Passô”; “Corpos em trânsitos artísticos por dentro da ‘cena’”; e “Performatividade e corpo-ficção no cinema”.

Presenças internacionais
A 22ª edição da Mostra vai contar com diversos representantes da indústria audiovisual e de festivais internacionais de países como Argentina, Bósnia, China, Equador, França, Holanda, Itália, México e Suíça. 

Dois deles, a crítica e pesquisadora francesa Claire Allouche e o crítico e programador argentino Roger Koza, integrarão o Júri da Crítica, responsável pela escolha do melhor longa da Mostra Aurora e do melhor curta da Mostra Foco.

As demais presenças estrangeiras são os argentinos Diego Lerer, representando a Quinzena dos Realizadores de Cannes, e Violeta Bava, representante do Festival de Veneza; a equatoriana María Campaña Ramia, programadora de festivais do México, Holanda e Equador; e a francesa Mathilde Henrot, representante dos festivais de Sarajevo e de Locarno.

Ao longo dos últimos anos, os convidados internacionais em Tiradentes têm assumido papel cada vez mais central na Mostra, repercutindo e levando as produções descobertas na programação para os grandes festivais do mundo. 

Casos recentes são o curta “Pouco Mais de um Mês”, de André Novais Oliveira, exibido na Mostra Foco em 2013 e posteriormente selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes; e o longa “Baronesa”, de Juliana Antunes, que rodou mais de 30 festivais e venceu mais de dez prêmios no mundo todo após sair vencedor da Mostra Aurora em 2017.

Oficinas
Desde sua primeira edição, em 1998, a Mostra Tiradentes promove oficinas audiovisuais, visando à formação e capacitação para o mercado de cinema e criando oportunidades para novas gerações de atores e realizadores. Trata-se de uma iniciativa de vanguarda no circuito de mostras e festivais, sempre em processo de aprimoramento.

Em 2019, são 10 oficinas e 270 vagas para atender públicos e interesses diversos, de olho na qualificação e desenvolvimento da indústria audiovisual em Minas Gerais e no Brasil. As oficinas são sempre gratuitas e permitem a reciclagem para os que já trabalham na área e o despertar de novos ofícios para muitos alunos.

Mostrinha
A criançada tem diversão garantida na Mostrinha, em sessões de longas e curtas-metragens voltadas ao público infantojuvenil e presença da Turma do Pipoca. Também com objetivo de inserir novos olhares para o cinema brasileiro, a Mostra Jovem reúne curtas-metragens que dialogam com questões e experiências adolescentes.

Artes
Nem só de cinema é feita a Mostra de Tiradentes. Repetindo a bem-sucedida parceria cultural com o Sesc, o evento leva à cidade artistas de destaque na cena mineira e nacional, relacionados de alguma forma às temáticas e debates propostos durante toda a programação.

A curadoria artística, desenvolvida pela equipe do Sesc, partiu das provocações dos “Corpos Adiante” e definiu artistas, grupos, bandas para apresentações diárias. O Sesc Cine Lounge se estabelece como um espaço de múltiplas e amplas possibilidades de encontro, reflexão e construção de narrativas que tomam conta da programação e se estenderão às ruas de Tiradentes. Com trabalhos que trazem a reflexão sobre o corpo, também o Largo das Fôrras (praça central) será ocupado com atividades culturais de visibilidade às existências possíveis e necessárias.

Exposições, cortejos, teatro de rua, performances e várias intervenções artísticas ao longo da programação prometem fazer de Tiradentes a capital da cultura. O coletivo #eufaçoaMOSTRA estará na produção de conteúdos audiovisuais interativos e instantâneos que integram a Campanha #eufaçoaMOSTRA.

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