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DEZ APÓS O TERREMOTO NO HAITI, O SISTEMA DE SAÚDE DO PAÍS ESTÁ À BEIRA DO COLAPSO

Relatório descreve os desafios recentes enfrentados pelos profissionais de saúde e pacientes haitianos
Leogane foi a cidade mais próxima ao epicentro do terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro de 2010. O hospital de MSF na cidade foi inaugurado em setembro de 2010

Dez anos após o terremoto que devastou o Haiti, a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) homenageia as vítimas do desastre e destaca, em relatório divulgado hoje, a deterioração das instalações médicas do país, em um sistema de saúde à beira do colapso.

"Este terremoto catastrófico matou milhares de pessoas, deslocou milhões de homens, mulheres e crianças e destruiu 60% do sistema de saúde haitiano, que já era disfuncional", disse Hassan Issa, coordenador-geral de MSF no Haiti. "Dez anos depois, a maioria dos profissionais médico-humanitários saíram do país e o sistema de saúde haitiano está mais uma vez à beira do colapso, em meio a uma crescente crise política e econômica."

No dia 12 de janeiro de 2010, o terremoto de magnitude 7,0 devastou o Haiti. MSF, presente no país desde 1991, não foi poupada: 12 profissionais foram mortos e dois dos três centros médicos apoiados pela organização foram amplamente danificados. Em resposta às necessidades urgentes e imensas da população, MSF organizou uma de suas maiores operações de emergência já realizadas, atendendo mais de 350 mil pessoas afetadas pelo terremoto, em apenas 10 meses.

Dez anos depois, à medida em que tensões políticas e econômicas se intensificam, as instalações médicas – incluindo aquelas mantidas por MSF – enfrentam grandes dificuldades para responder às necessidades dos pacientes. 

O relatório "Haiti, 10 anos depois" destaca esses desafios. Desde um aumento brusco no preço do combustível, em julho de 2018, que desencadeou a crise, hospitais e centros de saúde têm concentrado grandes esforços para fornecer serviços básicos, devido à escassez de medicamentos, oxigênio, bolsas de sangue, combustível e profissionais.

"O apoio internacional recebido, ou prometido, pelo país após o terremoto praticamente desapareceu ou nunca se materializou", declarou Sandra Lamarque. "A atenção da mídia também foi se esvaindo à medida que a vida cotidiana da maioria dos haitianos se tornou cada vez mais precária devido à inflação descontrolada, falta de perspectivas econômicas e surtos regulares de violência".

Em 2019, houve vários meses de paralisações em todo o Haiti (situação conhecida localmente como “peyi lok”, que significa, literalmente, "país bloqueado"). Ruas foram fechadas por barricadas de pneus em chama, cabos de energia e até muros construídos da noite para o dia. Esses protestos dificultaram o movimento de ambulâncias, profissionais de saúde, suprimentos médicos e pacientes.

No ano passado, o centro de estabilização de emergência de MSF na região de Martissant, em Porto Príncipe, recebeu uma média de 2.450 pacientes por mês; 10% deles tinham ferimentos a bala, lacerações ou outras lesões causadas por violência. O hospital de MSF no distrito de Drouillard, em Porto Príncipe, a única estrutura médica no país para pessoas com queimaduras graves, teve um pico de atividade em setembro, quando recebeu um total de 141 pacientes com queimaduras graves causadas principalmente por acidentes. Em Delmas, onde MSF mantém um programa para sobreviventes de violência sexual, o número de atendimentos diminuiu durante o período de violência intensa, porque era muito difícil chegar até o local.

Nas áreas rurais, como Port-à-Piment, no sudoeste do Haiti, onde MSF há muito tempo apoia serviços de saúde materna e de emergência na região, o efeito da crise no sistema de saúde haitiano é muito evidente. Em casos graves, quando a hospitalização é necessária, MSF tem dificuldade para encontrar um estabelecimento para encaminhar seus pacientes. O hospital de referência e o banco de sangue do Departamento do Sul fecharam em outubro de 2019, depois de serem saqueados. Eles ainda não estão totalmente funcionais atualmente. Alguns pacientes gravemente doentes levam até 5 horas para encontrar um hospital que possa aceitá-los. No norte do país, onde MSF se preparava para abrir duas unidades de atendimento a sobreviventes de violência de gênero, as atividades não puderam começar devido à falta de combustível e ao difícil acesso.

Em resposta ao agravamento da crise política e econômica, MSF lançou novas iniciativas para atender pacientes cujo sistema de saúde haitiano não tinha capacidade. Em novembro de 2019, também reabrimos nosso centro de trauma de 50 leitos no distrito de Tabarre, bairro de Porto Príncipe. Durante as primeiras cinco semanas, 574 pacientes foram tratados, mais da metade deles havia sido baleada. Cento e cinquenta pessoas em risco de morte foram internadas.

A organização também ampliou seu apoio ao Ministério da Saúde, por meio de doações de equipamentos e materiais médicos, da reabilitação de instalações, do treinamento da equipe do principal hospital público de Porto Príncipe e de um hospital em Port Salut, no departamento sul, e de 10 centros de saúde em todo o país.

"Sabíamos que estávamos atendendo a necessidades graves e urgentes, mas a situação é pior do que imaginávamos. Outros atores precisam se mobilizar para atender às demandas médicas atuais", conclui Hassan Issa.

Sobre Médicos Sem Fronteiras
Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. 

Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos.

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