Cidade universitária, Lavras é a 25º em potencial de consumo no Estado e a 252º nesta colocação no Brasil. A última greve, ocorrida em 2012, durou 124 dias e causou um impacto de R$10 milhões no comércio
O mês de agosto começa cercado de incertezas para os comerciantes de Lavras, no Sul de Minas. Além do momento econômico pelo qual passa o Brasil e o mundo, a greve dos docentes e servidores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) deixam mais de 10 mil estudantes sem previsão de retorno às aulas.
O semestre letivo, que estava previsto para iniciar no próximo dia 10, foi suspenso até que termine o movimento grevista na instituição. Em uma cidade universitária como Lavras, fica claro a importância dos estudantes no desenvolvimento do município.
Consumo, eventos e projeção do nome da cidade onde moram e para todos os cantos do país. Com a paralisação das aulas, a grande maioria dos estudantes que já começariam a retornar, vão continuar em sua terra natal. Estimativas extraoficiais preveem que a queda nas vendas em alguns setores pode girar entre 5% e 30%, caso a greve perdure até o fim de agosto ou por um prazo ainda maior.
Economia lavrense
De acordo com a Série Identidade dos Municípios Mineiros 2014, publicação do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), o potencial de consumo total da cidade de Lavras em 2013 foi de 1.706 milhões, o 27º no ranking Estado e o 252º no Brasil.
Ainda segundo o levantamento, o potencial de consumo urbano por classe de rendimento em 2013 foi de R$347 milhões (21% do total ) na classe, pela classe B (a classe média) o índice foi de R$846 milhões (51%), pela C foi de R$413 milhões (25%) e pelas classes D e E foi de R$53 milhões (3%).
A Série Identidade dos Municípios Mineiros 2014 também mostrou que no ano 2000, o valor adicionado por setor de Lavras foi de 379 milhões, sendo 64% deste total oriundo do setor de serviços, 27% da indústria e 9% da agropecuária.
Já no ano de 2011, o valor adicionador por setor da cidade foi de 1.401 milhões, sendo 65% oriundo do setor de serviços, 29% da indústria e apenas 6% da agropecuária. Os dados só retratam uma realidade histórica. Apesar de possuir empresas de destaque, o comércio é o maior responsável pelo desenvolvimento e progresso da economia da cidade. Segundo dados levantados de 2012, Lavras possui 43 empresas de médio e grande porte, somando 0,7% de participação em Minas Gerais e correspondendo a 62,3% de participação na microrregião.
Micros e pequenas empresas somam 4.292, mas a participação no Estado delas é menor em relação as médias e grandes, ficando em 0,6% e somando 44,0% de participação na microrregião. Já empreendedores individuais somam 1.579, perfazendo 0,4% de participação em Minas e 33,1% na microrregião.
Com a incerteza sobre o retorno dos estudantes, os comerciantes estão tendo que rever os planos. De acordo com um promotor de vendas procurado pela nossa reportagem, a queda nos pedidos de produtos é grande e o clima é de desânimo. A ausência dos universitários afeta todos os setores comerciais do município.
A última greve na instituição, ocorrida em 2012, causou um impacto de R$10 milhões em perdas no comércio local. A paralisação durou 124 dias e afetou a vida acadêmica e profissional de milhares de estudantes.
Polêmicas e falta de consenso
Diferente do seu histórico de lutas, a assembleia dos docentes da Universidade Federal de Lavras, ocorrida no dia 25 de maio e que decidiu pela deflagração da greve da categoria, foi cercada por clima tensa e polêmicas.
Antes de iniciar os trabalhos e sem consulta, a presidente da Associação dos Docentes da Ufla (Adufla) impediu a permanência do jornalista do Blog O Corvo-Veloz deixando no local somente uma equipe de televisão convocada por ela. Além disso, foi ordenado que os estudantes deveriam se retirar do local.
Com 137 votos favoráveis, 91 votos contrários e 7 abstenções, foi aprovada a deflagração da greve dos docentes na instituição. Sem consenso, não foi definida nenhuma data de adesão naquele momento, sendo convocada outra assembleia posteriormente, que decidiu pela adesão no último dia 10 de julho. A data foi estipulada na Assembleia Geral Extraordinária do dia 8 de junho.
Sombras de 2012
Em 2012, ocorreram greves em diversas instituições federais de ensino superior no Brasil, sendo considerada até então, a maior paralisação já realizada no país, com adesão de mais de 95% das instituições.
O movimento iniciado em 17 de maio de 2012, com apoio de dez universidades e organizado pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, teve como reivindicações principais a reestruturação da carreira dos docentes e o reajuste salarial.
Algumas universidades paralisaram o calendário acadêmico devido ao grande atraso do cronograma pela falta de aulas. A greve teve forte adesão nacional, em uma semana, mais de quarenta instituições federais estavam em greve, afetando cerca de 100 mil estudantes em todo o País.
No estado de Minas Gerais, diversos campi entraram em greve no dia 17 de maio de 2012. Na Universidade Federal de Lavras, cerca de 500 professores aderiram à greve, afetando mais de 9 mil alunos da instituição à época.
Sob o impacto da greve dos professores de 2012, que durou 124 dias, a Universidade Federal de Lavras, assim como as outras que aderiram, seguiu com o calendário desalinhado ao cronograma comum.
A greve dos professores da instituição já preocupa os alunos e futuros calouros das instituições. “Ao passarmos pelo acirrado processo seletivo, temos uma vibração positiva por estar em uma universidade conceituada e de qualidade, professores de destaque, mas fico na expectativa de quando começo o curso e sem perspectiva de conclusão na data certa pela greve”, lamentou frustrado um estudante que vai ser calouro em Ciência dos Alimentos na UFLA.
Pautas
Os servidores pedem reajuste salarial, reestruturação da carreira e aumento de investimentos nas federais. Já os docentes elegeram cinco eixos: defesa do caráter público da universidade; condições de trabalho; garantia da autonomia; reestruturação da carreira e valorização salarial de ativos e aposentados, reivindicar que o processo negocial seja retomado a partir do acordo assinado com a Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC), em abril de 2014, que cobra a reversão dos cortes no orçamento e ampliação de investimento nas IFE.
Os docentes também lutam contra a contratação via Organizações Sociais e a terceirização no serviço público.
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