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NOVA PESQUISA MOSTRA QUE EL NIÑO 2015 E INCÊNDIOS CONTRIBUÍRAM PARA O COLAPSO DE INSETOS NA AMAZÔNIA

Pesquisador coletando os besouros de esterco em florestas afetadas pela seca na região de estudo

A seca e o fogo que atingiram as florestas durante o El Niño 2015 causaram uma perda de mais de 50% nas populações dos besouros chamados rola-bosta. Esses insetos são essenciais para a recuperação dos ecossistemas através da dispersão de sementes e nutrientes.

Uma equipe internacional de pesquisadores, entre os quais estão representantes da Universidade Federal de Lavras (UFLA), foi até a Amazônia para investigar como a seca extrema e os incêndios florestais durante o fenômeno climático do El Niño em 2015 impactaram a biodiversidade animal e os processos ecológicos realizados pelos animais nas florestas. O estudo, publicado nesta segunda-feira, 10, na revista científica internacional Biotropica, é resultado de uma pesquisa de longo prazo envolvendo cientistas do Brasil, Reino Unido e Nova Zelândia, conduzido antes e depois dos incêndios de 2015.

Os cientistas trouxeram novas revelações sobre como uma força climática catastrófica afetou a fauna Amazônica. Um dos principais resultados revela que a seca extrema e os incêndios florestais durante o El Niño de 2015 causaram consequências drásticas para os besouros conhecidos como rola-bosta e, consequentemente, para contribuição desses insetos para processos ecológicos que são importantes para as florestas.


Segundo Filipe França, pesquisador brasileiro na Universidade de Lancaster no Reino Unido, egresso da UFLA e primeiro autor do estudo, embora todos os sítios florestais tenham apresentado um número reduzido de besouros após o El Niño, maiores perdas populacionais foram observadas nas florestas queimadas do que em florestas afetadas apenas pela seca. 

“Nós coletamos cerca de 8 mil besouros antes do El Niño. No entanto, a seca e os incêndios florestais em 2015 causaram uma perda de mais de 50% nas populações de besouros – impactos que se perpetuaram ao longo do tempo, ficando ainda piores depois de quase dois anos”, salienta França.

A doutoranda da University of Canterbury na Nova Zelândia e mestre em Ecologia Aplicada pela UFLA, Laís Maia, explica que a perda de besouros também afetou a contribuição dos insetos para a manutenção da saúde e recuperação florestal. 

"Muitos besouros morreram por causa da seca e dos incêndios que ocorreram durante o El Niño em 2015. O mais triste é que a perda dos besouros também resultou em menores taxas de dispersão de sementes e nutrientes – algo preocupante para a recuperação em longo prazo das florestas amazônicas”. 

Outro resultado apontado no artigo foi que atividades antrópicas, como a remoção de madeira, que ocorreram muito antes do El Niño de 2015, também influenciaram os impactos da seca e incêndios florestais na biodiversidade de besouros. 

O professor Júlio Louzada, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (UFLA), coautor do estudo, esclarece que florestas que já haviam experienciado exploração madeireira e incêndios florestais, e que pegaram fogo novamente durante o El Niño, foram mais afetadas do que as que eram até então intactas. 

“Nós monitoramos tanto florestas que eram intactas e não tinham distúrbios antrópicos, quanto florestas que já haviam sofrido com exploração madeireira e incêndios anteriores ao El Niño. Assim, nossos resultados mostram que os besouros e suas atividades ecológicas foram impactados não apenas pela seca e incêndios durante o El Niño, mas também por distúrbios antrópicos que aconteceram naquelas florestas muito antes do evento climático de 2015”, destaca o professor.

A investigação foi realizada na região de Santarém, no estado do Pará.

‘Apocalipse dos insetos’ em pauta
Cientistas vêm alertando para o fato de que o planeta estaria passando por um ‘apocalipse dos insetos’, com cerca de 40% de todas espécies de insetos conhecidas sob risco iminente de extinção.

França avalia que a situação é preocupante, pois os insetos desempenham um papel essencial para os ecossistemas e populações humanas. “No caso dos rola-bosta, por exemplo, a contribuição deles para a recuperação das pastagens e controle de pragas nos Estados Unidos foi estimada em 380 milhões de dólares. Porém, esse valor pode ser muito maior se considerada a importância desses besouros para a manutenção da saúde do solo e recuperação dos ecossistemas florestais”.

Para a bióloga Joice Ferreira, co-autora do estudo e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Oriental), a pesquisa demonstra que são múltiplas as ameaças contribuindo para a perda global dos insetos. “Nosso estudo é um bom exemplo das múltiplas ameaças que os insetos das florestas tropicais vêm sofrendo ao redor do mundo. Mais importante que isso: nós demonstramos que os impactos das ameaças antrópicas e climáticas não se limitam apenas às perdas nas populações de insetos, mas também na contribuição deles para processos ecológicos importantes para os ecossistemas”.

França destaca que as atividades humanas, como desmatamento e degradação florestal, também favorecem as mudanças climáticas que, por consequência, estão causando eventos extremos climáticos mais frequentes que trazem consequências drásticas para a biodiversidade florestal. 

“As florestas tropicais ao redor do mundo estão cada vez mais ameaçadas por múltiplos fatores, e os besouros rola-bosta nos mostraram que a combinação de climas mais quentes e secos, extremos climáticos e distúrbios florestais causados pelo homem podem agravar ainda mais o apocalipse de insetos, bem como a perda dos beneficios que eles trazem para a natureza e humanidade.”

Entenda melhor a pesquisa:
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As instituições brasileiras envolvidas no projeto são: Rede Amazônia SustentávelEmbrapa Amazônia OrientalUniversidade Federal de Mato GrossoUniversidade Federal do Oeste do ParáUniversidade Federal de LavrasUniversidade do Estado de Minas Gerais e Museu Paraense Emílio Goeldi. No exterior, as instituições envolvidas na pesquisa incluem a Lancaster University University of Oxford, no Reino Unido; e a University of Canterbury na Nova Zelândia.

por Ana Eliza Alvim - da assessoria da UFLA

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