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ESTUDO APONTA POTENCIAL TERAPÊUTICO DA FIBRA DE LEVEDURA PARA MELLITUS TIPO 1


A diabetes mellitus tipo 1, na sua forma mais comum, é uma doença autoimune desafiadora: o próprio sistema imunológico considera as células do pâncreas como "invasoras" e, por isso, passa a atacá-las. O pâncreas é o órgão responsável pela produção da insulina, hormônio envolvido na utilização da glicose pela maioria das células. Sem a insulina, a concentração de açúcar no sangue dispara e, quando não tratada, pode levar até à cegueira e à amputação de membros. Pesquisadores do mundo todo não medem esforços para tentar descobrir tratamentos para o problema.

Uma pesquisa elaborada na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras (UFLA) mostrou o potencial do uso de uma fibra extraída da parede celular da levedura Saccharomyces cerevisiae - o beta-glucano - para controle da doença. Os pesquisadores observaram que, com a ingestão dessa fibra por animais diabéticos, vários parâmetros metabólicos e inflamatórios melhoraram.

Para o estudo, ratos foram separados aleatoriamente entre grupos semelhantes, para evitar diferença de peso no início do experimento. Os pesquisadores induziram a diabetes tipo 1 nos animais, os roedores com diagnóstico da doença receberam administração do medicamento a base de beta-glucano durante 28 dias. Estudos sanguíneo e dos tecidos permitiram avaliação dos efeitos imunológicos e metabólicos da droga.

O coordenador da pesquisa e professor do setor de Bioquímica, Fisiologia e Farmacologia da faculdade, Luciano José Pereira, explica que os beta-glucanos apresentam duas funções no organismo: a principal é a metabólica, reduzindo a absorção de lipídios e carboidratos no intestino, que produz efeito antidiabético, e a segunda é estimular a resposta imunológica do organismo.

Há dez anos ele estuda o polissacarídeo. Mas ainda havia dúvidas sobre a relação entre a dose ingerida e os efeitos sobre o organismo. “Buscamos investigar se o aumento da dose poderia causar melhor efeito sobre os parâmetros metabólicos e inflamatórios sem causar eventos adversos significativos. Dependendo do medicamento, ao aumentarmos a dosagem, podemos gerar efeitos tóxicos ao organismo”, informa.

Nesse mesmo estudo, os pesquisadores também compararam os efeitos do beta-glucano ao do ômega-3. “Esses ácidos graxos possuem efeitos benéficos já comprovados à saúde, principalmente para o sistema imune, por causa do seu efeito anti-inflamatório”, justifica a escolha.

Os resultados em roedores submetidos à terapia mostraram potencial para tratar o diabetes tipo 1. “O efeito do beta-glucano variou com a dose, e nas dosagens investigadas, não encontramos efeitos tóxicos. Mesmo na aplicação de doses baixas, de 10 miligramas por quilo, já encontramos efeitos benéficos ao metabolismo e ao sistema imunológico. E, nos parâmetros avaliados, os resultados do beta-glucano foram iguais ou melhores aos do ômega 3”, comenta Luciano.

A intenção do pesquisador é avaliar medidas alternativas que possam colaborar para o tratamento tradicional do diabetes tipo 1. “A ideia não é substituir o tratamento convencional, até porque isso não é possível somente com o uso do beta-glucano. Ele é um adjuvante que pode auxiliar no controle da glicemia e, consequentemente, reduzir os efeitos da doença”, conta.

Diabetes mellitus tipo 1
Outra inovação do estudo foi testar o beta-glucano contra diabetes tipo 1, doença crônica que, em geral, surge na infância, por volta dos dez anos de idade, e na adolescência.

Há dois tipos principais da doença: o diabetes mellitus tipo 1, uma deficiência em geral autoimune que leva à destruição das células produtoras de insulina do pâncreas, prejudicando a produção de insulina, responsável por manter os níveis de glicose no sangue normais; e o diabetes mellitus tipo 2, relacionada à obesidade, a hábitos de vida não saudáveis, como má alimentação, falta de atividade física. Só no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, são mais de 13 milhões de diabéticos.

“Já tínhamos estudos prévios mostrando que o beta-glucano auxilia o metabolismo na obesidade e no diabetes tipo 2, que é a mais comum na população. Normalmente, os pacientes, nesses casos, são obesos, com mais de 40 anos de idade e apresentam hipertensão arterial sistêmica. Mas queríamos saber se o beta-glucano poderia beneficiar também o tipo 1, porque o controle metabólico desses pacientes é mais difícil; a doença costuma ser ainda mais grave e permanece por toda a vida do diabético”, justifica o professor.

Luciano explica que, caso o diabético não trate a doença, controlando a glicemia e o metabolismo, pode sofrer danos renais, problemas visuais, excesso de radicais livres, inflamações e doenças vasculares, como aterosclerose. “São várias as consequências e elas podem reduzir a qualidade e expectativa de vida do diabético”, adverte.

Pós-pandemia
As medidas sanitárias de contenção da propagação da Covid-19 mudaram a rotina da sociedade, inclusive das pesquisas científicas em todo o mundo. Até o momento, essa pesquisa na UFLA foi feita com roedores em laboratório. A etapa de testes em humanos já vinha sendo desenvolvida até ser interrompida em razão da pandemia do novo coronavírus. “Quando autorizados, voltaremos com estudos em humanos para validação dos resultados”, disse.

Nesta fase, a ideia é que os pacientes ingiram duas cápsulas de 200 miligramas de beta-glucano por dia. Na literatura, a recomendação oficial de consumo, reconhecida pela agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados, Food and Drug Administration (FDA), é de dose máxima de 200 miligramas por refeição ou dose máxima diária de 500 miligramas.

A pesquisa sobre os efeitos terapeuticos da levedura Saccharomyces cerevisiae no controle glicêmico foi publicada na revista internacional Diabetology & Metabolic Syndrome.

*Do Portal da Ciência da UFLA

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