ATO DE DESAGRAVO EM SOLIDARIEDADE A SÉRGIO PERERÊ E AOS REINADOS NEGROS DE MINAS GERAIS REÚNE LÍDERES RELIGIOSOS
Cerimônia inter-religiosa que repudia conteúdo racista será realizada na terça-feira, 8/7, às 19h, na Igreja das Santas Pretas, no Muquifu, em Belo Horizonte; ato terá as presenças de Sérgio Pererê, Padre Mauro Luiz da Silva, Pai Ricardo de Moura e Rainha Belinha
O vídeo em questão ataca Sérgio Pererê por uma apresentação no festival “Fado nas Cidades Históricas”, realizada no dia 1º de junho, na Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Ouro Preto. Identificada como Fernanda Rocha, que publicou o conteúdo em seu perfil, no dia 2 de junho, a narradora categoriza a apresentação como “profanação da Igreja Católica”, chama as músicas de Pererê de “barbaridades” e questiona a legitimidade de sua presença dentro da igreja, por não se tratar de um “artista cristão”. O conteúdo foi replicado na página “Guerreiro da Santa Igreja”, no dia 9 de junho.
Idealizador do ato, Padre Mauro aponta para o anacronismo com relação ao conteúdo do vídeo e o caminho institucional seguido pela Igreja Católica no Brasil, nos últimos anos. O capelão cita o documento de reparação histórica, assinado por Dom Walmor em 2023, que reconhece os danos causados por Dom Cabral ao expulsar os Reinados das Igrejas. "Institucionalmente, a Igreja tem buscado reparação para a população negra; mas, individualmente, grupos fundamentalistas continuam evocando documentos que não têm mais validade", afirma Padre Mauro. "Essas pessoas não estão em consonância com a própria Igreja. A manifestação de racismo e intolerância religiosa feita no vídeo vai contra o movimento institucional da Igreja Católica no Brasil", completa.
Para Sérgio Pererê, o ato de desagravo reflete um momento de esperança em meio à dor e ao cansaço impostos pela situação. "Ao mesmo tempo em que a gente vê essa dificuldade de conseguir convencer a Justiça de que estamos diante de um episódio de racismo e intolerância religiosa, também percebemos os nossos se movendo junto e dando as mãos. Então, este será um momento de respiro, de esperança, onde poderemos trocar entre nós e fortalecer a crença de que é possível mudar esta situação. De que temos força para mover a roda e escrever um novo capítulo da luta contra o racismo no Brasil", afirma.
Ação judicial
Amparado por um coletivo qualificado de advogados, o músico moveu, no dia 17/6, uma ação judicial pedindo a suspensão imediata do vídeo da internet, sob pena de multa aos infratores. No entanto, no dia 26/6, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) negou o pedido de liminar. Em sua decisão, a juíza Adriana Garcia Rabelo reconhece que o conteúdo pode ter causado constrangimento ao artista, mas não considera prudente determinar a exclusão do vídeo indicado. O coletivo, que agora conta com o advogado Hédio Silva Júnior, um dos maiores especialistas em intolerância religiosa do país, vai recorrer da decisão.
Autor de teses, livros e artigos sobre liberdade de crença, racismo, racismo religioso, ações afirmativas e defesa do patrimônio cultural afro-brasileiro, o advogado desenvolve, há 24 anos, litigância pro-bono em defesa da igualdade racial e dos direitos das religiões afro-brasileiras. "Dr. Hédio e sua equipe irão trabalhar junto à equipe de juristas que já atuam no caso em defesa do artista Sérgio Pererê, agregando todo seu farto expertise no assunto. Ele traz também o precedente favorável, que será muito importante no combate aos discursos fundamentalistas de ódio e incitação ao racismo religioso", afirma Joviano Maia, um dos advogados do coletivo.
Sobre Sérgio Pererê
Cantor, compositor, multi-instrumentista, ator e diretor musical, Sérgio Pererê é reconhecido pelo diálogo que estabelece entre a tradição e a experimentação, pela profusão de sonoridades – com destaque para as referências afro-latinas –, e pelo timbre peculiar de sua voz. Sua poesia entrelaça temas cotidianos a enunciados metafísicos e elementos do sagrado de matriz africana, como o culto à ancestralidade e aos orixás. Já se apresentou em várias regiões do Brasil e em países como Canadá, Áustria, Espanha, Moçambique, China e Argentina. Sérgio Pererê considera-se amadrinhado pelas raízes banto de Minas.
Em 2024, lançou “Samba de Preto Velho”, seu primeiro disco dedicado ao samba. O trabalho sucede “Canções de Outono” (Natura Musical), primeiro álbum do mineiro dedicado inteiramente à temática do amor e gravado junto a 14 cantoras, incluindo Mônica Salmaso, Fernanda Takai e Letrux. Ainda no ano passado, lançou “Sérgio Pererê e Bloco Oficina Tambolelê”, que celebra os 25 anos de um dos blocos afro precursores em Minas Gerais; e “Bentu”, gravado com a cantora e violonista paulista Badi Assad.
SERVIÇO | ATO DE DESAGRAVO A SÉRGIO PERERÊ E AOS REINADOS MINEIROS
Quando. 7/7, terça-feira, às 19h
Onde. Igreja das Santas Pretas / Museu dos Quilombos e Favelas Urbanas - Muquifu
(Rua Santo Antônio do Monte, 708 - Vila Estrela / Santo Antônio)
Quanto. Entrada gratuita
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