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"ACREDITO QUE VIVEREMOS NOVOS ARES NA CÂMARA", DIZ A VEREADORA ELEITA ROSE OLIVEIRA

Quinta mais votada nas eleições deste ano, com 909 votos, ela fala sobre suas ideias e propostas, destaca a importância da representação feminina e negra no Legislativo e conta como será sua atuação perante o governo da prefeita eleita Jussara Menicucci

"Meu trabalho e minha postura nesses anos de militância foi fundamental para que as pessoas acreditassem em mim. Minha eleição representa a possibilidade de novos debates na Câmara", destaca a vereadora eleita

Mulher negra, militante, professora, mãe, avó e poeta. Rosemeire Aparecida de Oliveira, a Rose Oliveira, é uma das quatro mulheres eleitas para representar a população de Lavras, no Sul de Minas, na Câmara Municipal da cidade a partir de 2021. Está será a maior representação feminina no Legislativo de Lavras na história da cidade. Eleita com 909 votos pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Rose foi a quinta mais votada entres os vereadores eleitos.

Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Sebastião Filho, editor do Blog O Corvo-Veloz, Rose Oliveira conta sobre sua trajetória que culminou com a sua expressiva vitória nas urnas, fala sobre suas ideias e propostas, destaca a importância da representação feminina e negra no Legislativo e conta como será sua atuação perante o governo da prefeita eleita Jussara Menicucci (PSB).

Rose, você vem de uma trajetória de lutas, principalmente no que tange ao movimento negro em Lavras e a sua vitória expressiva nas urnas veio justamente no mês da Consciência Negra. Como você avalia esse momento histórico em sua vida?

Rose Oliveira - É um momento histórico para nossa cidade. Em Lavras sempre tivemos uma Câmara composta por homens, brancos e de pessoas que carregam um perfil de status econômico, de família tradicional. Temos a partir de 2021 uma Câmara mais representativa. Eleger uma mulher negra sem esse perfil social, uma pessoa do povo. Eleger também um número maior de mulheres e um número maior de representação negra. Me sinto esperançosa porque percebo nisso novos ares. E vejo nisso resultado das minhas escolhas na vida, como cidadã, como militante. Também avalio que minha candidatura traz um novo fôlego ao PT e a esquerda em Lavras.

O que pretende propor concretamente em nome das bandeiras antirracista e contra o machismo?

RO -  Primeiro, ter um mandato que seja instrumento de fortalecimento dos movimentos sociais, de mulheres e de combate ao racismo, dos Conselhos Municipais que precisam existir e serem reconhecidos. Discutir junto ao Executivo o racismo institucional.  Propor a formação de servidores para compreender o racismo. Criar projetos para a arte e cultura afro brasileira, propor que o Fórum Permanente de Educação e Diversidade, que o CMPIR realiza com muita dificuldade, seja uma política do município, como instrumento de formação permanente sobre a questão racial. Ter uma ação legislativa de combate a violência contra a mulher, além de trazer a necessidade de um programa municipal de políticas para as mulheres.

Como aconteceu seu envolvimento com a política partidária? Quando se filiou e por que a escolha pelo PT?

RO -  Iniciei minhas atividades em coletivos, na igreja. Aos poucos fui percebendo que precisava ampliar o sentimento de solidariedade que aprendi, precisava atuar para transformar a realidade, mudar a estrutura. Escolhi o partido por me identificar com sua proposta de sociedade: equidade, respeito, direitos para uma vida digna, bens partilhados e socializados. E no PT estou a mais de 30 anos, primeiro como simpatizante, depois como filiada. Único partido em que estive.

Quais serão as prioridades do seu mandato parlamentar? Quais suas propostas?

RO - Um vereador deve estar tento as demandas e problemas da cidade. Fazer leis para dar essas respostas a esses problemas. Fiscalizar denunciar o que estiver errado, sem se submeter a jogos de trocas de favores, benefícios pessoais. Precisa aplaudir o que for bom, melhorar o que precisa, propor soluções e cuidar para que o bem público seja cuidado e bem utilizado para toda a população. E sim, pode também ter suas bandeiras e prioridades. No meu caso, são as mulheres, o antirracismo, a educação – principalmente da valorização das professoras e professores; atenção especial para garantir e conquistar direitos, a juventude, educação e cultura. Me preocupo muito com questões de acessibilidade e mobilidade como transporte digno, atendimento pontual, constante e dentro das necessidades de um tratamento em caso de doenças crônicas e daquelas que nos afetam quando idosos; e também a construção de um mandato popular e participativo, criando meios de ouvir a população de forma constante.

Para que muitas propostas sejam levadas a diante e implementadas, é necessário um entendimento com o Executivo. De que forma pretende atuar em relação à gestão da prefeita eleita Jussara Menicucci (PSB)? Seu mandato será de oposição?

RO - Meu mandato será de diálogo, de cooperar, sugerir, ajudar a construir projetos que forem de acordo a necessidade e desejo da população – aprendi esse diálogo nos Conselhos Municipais e na militância em associação de moradores. E será de autonomia quando for preciso denunciar, cobrar. Estarei ao lado das mulheres eleitas, pela primeira vez quatro mulheres, e ao lado dos colegas negros eleitos - também primeira vez que temos um número, ainda que pequeno, expressivo - com pautas que nos unem, com lutas em comum. 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a destinação proporcional aos candidatos negros dos recursos do Fundo Eleitoral recebidos pelos partidos para 2022, sendo que por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a regra já vigorou. Houve atenção dentro PT de Lavras para atender esta exigência? 

RO - Tivemos destinação considerando a questão das mulheres. 

Como a sua vitória foi recebida pelo partido? 

RO - Como uma eleição que aponta para uma representatividade importante. Que demostra a importância de candidaturas oriundas de uma militância real em movimentos sociais, conselhos entendendo que meu resultado tem a ver com minha trajetória. Também é um fortalecimento para o partido. Alguns no partido acreditavam num resultado positivo da minha candidatura pela minha história. Outros nem tanto por eu não ser uma figura conhecidíssima. Mas meu trabalho e minha postura nesses anos de militância foi fundamental para que as pessoas acreditassem em mim. Minha eleição representa a possibilidade de novos debates na Câmara.

Após essa “onda” de mulheres negras eleitas, como é possível aumentar a capilaridade de novas candidaturas? 

RO - Primeiro é a representatividade, identidade. Mais pessoas se verão como capazes. Crianças e meninas negras vão ter modelos e poderão desejar atuar nesses espaços no futuro. Mais pessoas e mulheres, terão apoio de nós, mulheres eleitas, para também assumir esses espaços. Nós mulheres eleitas abriremos debates sobre necessidades antes não vistas, e esses debates depois de instalados, vão exigir que mais pessoas também os assumam.

Encerrando a entrevista, a vereadora eleita disse que "acredito que viveremos novos ares na Câmara".  Ela ainda complementou a fala: "Fácil não vai ser. Mas minha candidatura foi construída por um coletivo de pessoas que acreditaram e assumiram voluntariamente a campanha e estarão juntos comigo construindo o mandato. Sempre acreditei que sozinhos não podemos. Mas no coletivo temos nossa força e nossa coragem redobrada. Minha eleição só foi possível por isso. Fiz uma campanha respeitando o distanciamento social, nem pude estar em todos os lugares que desejava, foi uma campanha simples, sem grandeza econômica porém muito verdadeira."

"Agradeço ao Blog O Corvo-Veloz a oportunidade de falar sobre minhas propostas", finalizou a vereadora eleita. 

Comentários

Unknown disse…
Um importante ganho para a cidade de Lavras a eleição de alguém como a Rose! Que venham os novos ares!!!
Luan Ribeiro disse…
Espero que a candidatura da Rose sirva como um símbolo pioneiro, que seja um marco de uma nova era de representatividade na Câmara Municipal.
pequena disse…
Que fala assertiva, propositiva e fortalecedora. Com certeza Rose irá fazer a diferença, com amabilidade, firmeza política, poesia e sem submissão. Lavras saiu ganhando
Cynthia disse…
Excelente entrevista, parabéns pelas questões levantadas, muito pertinentes! Gostei especialmente da postura que se projeta, de diálogo e a autonomia para construir, com trabalho coletivo, avanços em nossa cidade. Vejo a vitória de Rose como uma vitória do povo lavrense, das pautas que realmente podem modificar nossas vidas e nosso trabalho, que constrói essa cidade. Muita força!
Anônimo disse…
Reconheço e atesto que se trata de uma pessoa do bem, mesmo sendo de um partido cujas lideranças são nojentas.
Anônimo disse…
Não adianta ser mulher,ser afrodescendente se a casa tem seu rito próprio e com raízes impregnada na cultura de continuísmo. Entra ano, sai ano, a coisa se mantém do mesmo jeito desde 1932. Serão 4 anos de estagnação.
Se quiserem mesmo mudar alguma coisa, terão que vasculhar os porões daquela casa e ver como e onde foi enterrada aquela cabeça de burro

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