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JOÃO LAURINDA, O SINEIRO DA MATRIZ


Em Minas, nós sabemos: o toque dos sinos é parte da nossa história! Esse toque vem de mãos habilidosas como as de João Laurinda da Cunha, em Nazareno, no Campo das Vertentes.

João conhece de cor um repertório de toques, formado por badaladas e repiques (realizados com o sino paralisado) e por dobres (realizados com o sino em movimento), tocados de acordo com cada ocasião.

Nazarenense, nascido e criado na cidade, João conheceu o tocar do sino ainda criança. Seu pai era sineiro e sacristão da igreja. João começou porque seu pai era muito atuante. Aos oito anos, já era coroinha e acompanhava Cônego Heitor na garupa de sua bicicleta para as celebrações nos povoados. Aprendeu o ofício de sineiro com o pai aos nove/dez anos, e, de lá pra cá, foram sete décadas de arte, ofício e devoção.

Nada impede João de tocar o sino do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. Sua esposa, Adelina, conta que agora, no Natal de 2022, a família estava reunida e João suspendeu a prosa e disse: vocês me dão licença que eu vou lá tocar o sino. É sempre assim, com muito zelo e amor pelo que faz. 

Ao relembrar o início, ainda criança, conta que quando ia “dobrar o sino”, o sino dava um arranco e o puxava para baixo. Hoje, aos 78 anos, bom de prosa, Sr. João nos explica que o toque dos sinos das igrejas católicas anuncia celebrações religiosas, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras funções. 

João conta que o sino é tocado sempre uma hora antes da missa. “Você repica o sino, depois você dobra”, diz. Como é isso? Pergunto. “Dobrar o sino é puxá-lo e deixá-lo virar, dando uma volta”. A ordem é a seguinte: “você repica o sino pequeno, depois repica o grande, depois repica os dois juntos. Aí você dobra umas 12 vezes. Para e repica outra vez do jeito que começou: repicando o sino pequeno, depois o grande e depois os dois. Aí dá 30 puxões no sino grande e depois mais três, em um total de 33 que representa a idade de Cristo”.

Faltando meia hora para a missa começar, toca mais 33 vezes no sino grande; e faltando 15 minutos, toca-se a chamada “entradinha”, que são seis puxões no sino grande e depois 33 no sino pequeno. Nessa meia hora e nos 15 minutos que antecedem a missa, não precisa subir na torre para tocar, é possível puxar o sino pela corda que fica lá embaixo. 

O sineiro nos explica que em sepultamentos o toque é distinto: “você dobra três vezes no sino grande e três vezes no sino pequeno”, e segue nessa toada até o corpo entrar na igreja. Quando o corpo sai, repete o toque da entrada. 

Os sinos de Nazareno tocam também em toda missa de quinta-feira, onde é realiza a benção do Santíssimo, e em toda missa por ocasião da primeira sexta-feira do mês. Na Semana Santa, o sino é tocado durantes todas as celebrações, como é uma festa mais solene, João explica que usa mais a “dobrada” do sino.

Em missas festivas o sino também é tocado na saída. “Em festa solene quando canta o Glória você repica o sino”, afirma o sineiro, que nos conta que quando é para ele tocar o sino, o padre tem que cantar o Glória no microfone para ele conseguir ouvir, pois se o Glória for cantado apenas pelo coro, ele não ouve lá da torre. Mas quando o padre canta, João ouve perfeitamente e logo começa a tocar o sino. “Aí é só repicar os dois juntos e pronto, uns dois ou três minutos”. 

A dedicação da família de João à igreja vem da devoção à Nossa Senhora de Nazaré, e como ele próprio relata, também pela “alma do Cônego Heitor”. Sua esposa, dona Adelina, também ajuda muito a igreja, há 15 anos é responsável por lavar os tecidos, conjuntos do altar, panos e tolhas utilizados. Tudo voluntariamente. 

João ensinou uma pessoa da cidade a tocar o sino e este ensinou um terceiro. João preocupa-se em perpetuar o ensinamento e deixar sucessores. Um dos que ensinou, andava a pé por 2Km para aprender a tocar o sino com ele.

*Com assessoria

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