terça-feira, 19 de abril de 2016

A CARA DO IMPEACHMENT

Raquel Muniz teve marido preso na manhã desta segunda-feira, 18, um dia após votar a favor do impeachment


No último domingo, 17, a Câmara dos Deputados protagonizou um vexame internacional, que colocou o Brasil nas páginas tristes da imprensa do mundo inteiro.

E foi uma deputada federal por Minas Gerais quem proferiu o voto símbolo dos que declararam apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Raquel Muniz (PSD-MG) dedicou seu voto pelo impeachment a seu marido, o prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz. “Meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão”, anunciou ontem a deputada.


No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com a Polícia Federal (PF), deflagrou a Operação Máscara da Sanidade II. 

A pedido do MPF, foram presos preventivamente o prefeito de Montes Claros, no Norte de Minas, Ruy Adriano Borges Muniz, esposo da deputada federal e a atual secretária de saúde do município, Ana Paula de Oliveira Nascimento. 

Além das prisões, foram cumpridos quatro mandatos de busca e apreensão e dois de busca pessoal, com o objetivo de apreender celulares e smartphones.

Segundo a denúncia, eles são acusados de falsidade ideológica, dispensa indevida de licitação, desvio de verbas federais, peculato, estelionato majorado e advocacia administrativa. 

Os réus desviaram recursos do Sistema único de Saúde (SUS) para benefício de um hospital particular, cujo prefeito é proprietário. O ex-secretário de saúde Geraldo Edson Souza Guerra consta também na lista dos acusados. 

De acordo com o procurador regional da República Alexandre Camanho, mesmo após o oferecimento de denúncia, em agosto de 2015, os acusados mantiveram práticas criminosas, além de ameaçarem testemunhas. 

“A prisão preventiva baseou-se na reiteração de graves ações delitivas que acarretaram no caos na gestão da saúde pública de Montes Claros e de outros municípios”, afirma Camanho. 

A investigação aponta que os acusados utilizaram de meios fraudulentos para inviabilizar o funcionamento de hospitais públicos e filantrópicos de Montes Claros, que atendiam cerca de 1,6 milhão de pessoas no Norte de Minas. 

Em outubro do ano passado, os denunciados retiraram cerca de 26 mil consultas especializadas e 11 mil exames dos hospitais, causando graves prejuízos à população. Com isso, eles pretendiam favorecer o hospital privado do prefeito, Âmbar Saúde. 

O prefeito também utilizou recursos públicos destinados ao SUS para a criação e divulgação de campanhas difamatórias contra os hospitais concorrentes, publicando inclusive dados e informações falsas sobre esses hospitais. 

Muniz atuava para que o município contratasse o hospital Âmbar. Segundo o MPF, o prefeito e o ex-secretário fraudaram deliberação que autorizaria o credenciamento do Âmbar Saúde para disputar as licitações, inserindo dados falsos nos documentos e forjando a aprovação em nome do Conselho Municipal de Saúde de Montes Claros.

Repasses indevidos
De acordo com a Portaria MS/GM nº 1034/2010, quando for insuficiente a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. 

O estado ou o município deverá, ao recorrer às instituições privadas, dar preferência às entidades filantrópicas e às sem fins lucrativos, observado o disposto na legislação vigente. 

Apesar de o hospital Âmbar Saúde não possuir o Certificado de Entidade Beneficente (CEBAS), que comprova o caráter filantrópico das entidades, foram repassados mais de R$ 1 milhão ao Âmbar Saúde, conforme a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Ao todo, cerca de 20 repasses indevidos foram feitos.

Ação de improbidade administrativa
Na esfera federal, em meados de março de 2016, o MPF ajuizou ação de improbidade administrativa contra Ruy Muniz, sua esposa e um “laranja”, por falsificação de documentos, apropriação fraudulenta de entidade vinculada ao poder público, subtração de bens móveis desta entidade, fraude e ilusão tributária na importação de equipamentos no valor de R$ 9 milhões e patrocínio de interesses privados ilícitos perante o Fisco. 

Tais fatos podem caracterizar, em tese, os crimes de falsidade ideológica, estelionato majorado, furto qualificado, descaminho qualificado e advocacia administrativa. 

Os presos, denunciados perante o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TFR1), responderão pelos crimes de falsidade ideológica majorada, dispensa indevida de licitação pública, estelionato majorado e peculato. As penas somam cerca de 30 anos. 

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