Logo após o final da manifestação popular que acompanhou a saída de Dilma Rousseff (PT) do Palácio do Planalto, na manhã desta quinta-feira, 12, um grupo de 30 mulheres, militantes de diferentes movimentos sociais, acorrentou-se às grades, em frente à sede do governo, e promete sair de lá só à força.
Elas protestavam contra a presidência interina de Michel Temer (PMDB), a quem chamam de golpista, traidor e ilegítimo. Temer montou um ministério sem nenhuma mulher e sem negros. A postura do presidente interino foi mal recebida e duramente criticada.
Ernesto Geisel (1974-1979), presidente do Brasil na ditadura militar, foi o último no Brasil a ocupar Presidência da República sem nomear mulheres para sua equipe.
Desde Geisel que o Brasil não vê um Ministério sem a presença da representação feminina. A chegada dos negros à Esplanada dos Ministérios foi ainda mais tardia, com Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, ministro dos Esportes (1995-1998) no governo Fernando Henrique Cardoso.
Entre 23 ministro nomeados por Temer, pelo menos sete já apareceram nas investigações da Operação Lava Jato, maior investigação contra a corrupção já realizada no país.
O próprio Michel Temer (PMDB) já apareceu na Lava Jato. Ele foi citado por delatores ouvidos pela força-tarefa.
O dono da Engevix José Antunes Sobrinho afirmou que Temer pagou propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente.
Delcidio Amaral, que teve o mandato cassado, também envolveu o presidente em interino no escândalo. Segundo o ex-senador, Temer era padrinho político do operador João Augusto Rezende Henriques, operador envolvido no esquema de corrupção da Petrobras, que foi preso pela PF.
Governo interino rejeito nas ruas
Já nas primeiras horas de seu governo interino, Michel Temer já sentiu nas ruas como a população olha sua ascensão ao poder. Aos gritos "Fora, Temer!" e reafirmando que o processo de impeachment de Dilma é um golpe, 30 mil manifestantes fecharam a avenida Paulista, em São Paulo.
Eles também afirmam que "ou sai o Temer, ou não vai ter sossego ". Convocada pela Frente Povo Sem Medo, em poucas horas, a manifestação foi lotando a Paulista. O ato contou com a forte presença da juventude universitária e setores populares, cantavam palavras de ordem em defesa das mulheres, LGBTTT e da população negra.
Além disso, os manifestantes denunciavam o papel da polícia nas periferias, cantaram contra a Rede Globo de Televisão e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Duro ajuste fiscal
Segundo o novo ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), a equipe econômica de Michel Temer pretende apresentar uma emenda no Congresso Nacional para alterar a meta fiscal desse ano das contas do governo federal, de um superávit de R$ 24 bilhões para um déficit de R$ 96,6 bilhões.
De acordo com o ministro, a medida é para acomodar a perda com renegociação da dívida dos Estados. Entre as propostas, está elevar a alíquota da Desvinculação de Receitas da União (DRU), de 20% para 30%, o que dará uma flexibilidade à alocação dos recursos públicos.
Já o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou hoje, sexta-feira, 13, que não descarta a volta da CPMF. Ele afirmou que serão tomadas "medidas duras" para que a trajetória da dívida do país seja sustentável.
Repercussão internacional
O Brasil “que queria ser moderno” agora recua no tempo e se coloca ao lado de Honduras e Paraguai, países onde “presidentes eleitos foram afastados de forma questionável”. Este é o tom da análise do afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, feito pela imprensa europeia após a decisão do Senado.
O site “Deutsche Welle (DW)” selecionou alguns textos, entre elas “Um país perde”, do “Spiegel Online”. Afirma que “o drama em torno da presidente é um vexame para um país afundado na crise”.
Para o correspondente Jens Glüsing, “o grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus representantes populares. Também em Honduras e Paraguai, presidentes eleitos foram afastados de forma questionável do cargo”.
Na análise do semanário “Die Zeit”, o afastamento de Dilma é “a declaração de falência do Brasil”.
O jornalista Michael Stürzenhofecker afirma que o país queria se apresentar como uma nação moderna com os Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma é um “recuo nos velhos tempos” e também os 31º Jogos não serão realizados numa “democracia sem máculas”.
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