terça-feira, 4 de junho de 2019

EXPEDIÇÃO BUSCA RESGATAR HISTÓRIA DO QUILOMBO NA REGIÃO DA SERRA DE TRÊS PONTAS


No dia 4 de maio, uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores de duas universidades realizou a primeira expedição a Serra de Três Pontas, no Sul de Minas. 

A ação foi coordenada pelos professores: Luís Cláudio Pereira Symanski, do Departamento de Antropologia e Arqueologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Marco Aurélio Leite Fontes, do Departamento de Ciências Florestais (DCF) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). 


Participaram ainda os discentes de graduação Isabella Oliveira, Tiago Henrique da Silva, mestrando Geraldo Pereira de Morais Junior, doutorando Wanderley Junior e a professora Ellen Alcantara Laudares do Departamento de Educação (DED) da UFLA, com o objetivo de localizar a região conhecida como “Quilombo do Cascalho”. 

Os pesquisadores voluntários deram início a um importante trabalho de vistoria da superfície, marcação de pontos com GPS em locais que apresentassem construções e estruturas aparentes alem de uma documentação fotográfica, mais um marco na história do município e de todo o Sul de Minas.


Os pesquisadores também visitaram a comunidade Quilombo Nossa Senhora do Rosário sendo bem recebidos pelo moradores locais muitos receptivos em passar as informações, alem de um a reunião com o renomado historiador Paulo Costa Campos colaborador do Projeto Área de Proteção Ambiental Serra de Três Pontas. A visita foi coordenado pelo discente Tiago Henrique da Silva, que é graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária (UFLA) com a orientação do professor Marco Aurélio Leite Fontes, do DCF da UFLA.

Na localidade Quilombo Nossa Senhora do Rosário visitaram a igreja e fizeram um reconhecimento inicial da área. Eles não encontraram elementos visíveis que remetessem à ocupação quilombola setecentista e, pelas informações locais, parece ter havido alguma ruptura entre aquela ocupação colonial e os ocupantes atuais da localidade. Nesse sentido, se faz necessário um estudo mais detalhado da cartografia histórica e das fontes documentais para se buscar circunscrever uma área provável de instalação do assentamento setecentista, a qual possa ser sujeita a prospecções arqueológicas sistemáticas. 

De acordo com os dados do historiador Paulo Costa Campos o Quilombo Nossa Senhora do Rosário, foi decretado Distrito de Três Pontas em 1883. No entanto, a origem deu-se entre 1740 e 1746 com a destruição do Quilombo do Ambrósio, localizado provavelmente entre os municípios de Cristais e Ibiá. 

Durante o ataque dos brancos, muitos negros escaparam e refugiaram-se em várias localidades, inclusive na região de Três Pontas, onde foram formados dois quilombos: o do Cascalho, próximo à serra e o Quilombo das Araras, também denominado Quebra-Pé e posteriormente Nossa Senhora do Rosário do Quilombo. 

Os brancos sentiram-se ameaçados e exigiram providências do governo. Segundo Paulo Costa Campos, uma expedição punitiva partiu do Arraial dos Buenos, que se situava na freguesia das Lavras do Funil, e dividiu-se em grupos, a fim de exterminar de vez os quilombos de toda esta região. A expedição avizinhou-se às Lavras do Funil e de lá prosseguiu viagem. 

No dia 27 de agosto de 1760, chegou ao sertão das Três Pontas. Os expedicionários atacaram e destruíram o chamado Quilombo Queimado. A seguir, no dia 30 de setembro de 1760, fizeram uma pausa no local chamado de Boa Vista hoje pertencente a Campos Gerais. A destruição do Quilombo foi por uma batalha entre quilombolas e capitães do mato. Depois os habitantes voltaram para o aldeamento. Na época havia 80 casas. Com os quilombos extintos, mais povoadores chegaram à região. 

Sobre a área de implantação do Quilombo do Cascalho, segundo a cartografia histórica, se situaria no sopé da serra das Três Pontas, se aproveitando da topografia e das drenagens locais. Também visitaram na área em questão e subiram no alto da serra, com o propósito de poder visualizar a região e definir as áreas mais propícias para a implantação do referido assentamento. 

A área em questão encontra-se, em sua maior parte, ocupada pelo cultivo do café, com exceção das laterais das drenagens, ocupadas por linhas compridas e estreitas de matas de galeria. Embora não tenham encontrado indícios do quilombo em questão, há uma boa probabilidade de vir a encontrá-lo com o uso de prospecções arqueológicas sistemáticas concentradas nas colinas aplainadas situadas entre as duas principais vertentes que descem da Serra de Três Pontas.

Próximos passos 
Dado procedimento as atividades do projeto APA Serra de Três Pontas será realizado em breve a segunda expedição que está sendo construída com apoio de representantes do Conselho Gestor Municipal de Área de Proteção Ambiental Serra de Três Pontas com o objetivo de realizar levantamento de Fauna e Flora na Serra, com a participação de novos pesquisadores voluntários que estaremos divulgando logo quando fecharmos as agendas.

 Também serão encaminhados convites para acompanhamentos dos trabalhos aos representantes das respectivas entidades: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo de Três Pontas, Conselho Municipal de Políticas de Igualdade Racial (COMPIR), Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Três Pontas (CONDES-TP), Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Três Pontas. de forma a termos amplo apoio logístico , estrutural e institucional para o sucesso dos levantamentos que será realizados pelas equipes.

O professor Luís Cláudio Pereira Symanski, ressalta que buscará financiamento para esta pesquisa em editais nacionais e estrangeiros, considerando, ainda, a possibilidade de uma parceria com a University of Illinois para o desenvolvimento da mesma. 

Cabe destacar o enorme potencial científico desses quilombos, por se tratarem de assentamentos da primeira metade do século XVIII que foram organizados por escravizados fugitivos, muitos dos quais africanos da região do Congo e Angola. 

O estudo sistemático desses sítios, a ser iniciado com o Quilombo do Cascalho, fornecerá informações inéditas sobre o cotidiano, a cultura, a economia e as formas de organização social no interior desses estabelecimentos, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da história da diáspora africana no Brasil.

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