terça-feira, 10 de março de 2020

PROFESSORA DA UNIFEI E OUTROS PESQUISADORES DESCOBREM ESPÉCIES DE BESOUROS NOVAS PARA A CIÊNCIA

Descoberta foi feita na Serra da Mantiqueira
 Jurasai itajubense macho e fêmea

Pesquisadores da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e da Universidade de São Paulo (USP), com a colaboração de pesquisadores da República Tcheca e da Alemanha, descobriram na Serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais, larvas e adultos de espécies de besouros novas para a Ciência. Elas pertencem a uma nova família de besouros, nomeada Jurasaidae. A descoberta foi publicada no último dia 31 de janeiro no jornal cientifico Scientific Reports.

A descoberta começou com o estudo de larvas de besouros da Reserva Biológica Municipal da Serra dos Toledos (RBST), na cidade de Itajubá, Sul de Minas, pela pesquisadora Simone Policena Rosa, do Instituto de Recursos Naturais (IRN) da UNIFEI. As larvas eram muito diferentes das larvas conhecidas de besouros por possuírem peças bucais muito modificadas, em forma de bico, o que chamou a atenção da pesquisadora da UNIFEI e de Cleide Costa, do Museu de Zoologia da USP, especialista no estudo de imaturos de besouros e colaboradora na pesquisa.

Larvas e fêmeas Jurasai e Tujamita

“Entre maio de 2016 e 2018 foram feitas várias expedições na reserva, que resultaram na coleta de cerca de 80 larvas, algumas das quais atingiram o estágio adulto, tanto fêmeas como machos, de duas espécies distintas”, disse a professora Simone. Segundo ela, a criação das larvas no Laboratório de Zoologia da UNIFEI permitiu a correta associação dos imaturos e seus estágios adultos, tanto fêmeas como machos.

Também foram incluídos no estudo machos adultos de uma terceira espécie coletada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. “Os adultos eram ainda mais intrigantes, pois eram neotênicos, ou seja, eles retêm características morfológicas de imaturos. Os machos têm corpo mais mole, com cutícula mais flexível e fina que os besouros normais, não neotênicos, e as fêmeas têm um grau de neotenia ainda mais acentuado, parecendo-se muito com as larvas”, explicou a docente da UNIFEI.

Ela informou que os besouros pertencem a dois gêneros distintos, Jurasai e Tujamita, nomes que derivam do tupi-guarani e fazem alusão ao aparato bucal da larva, pois Jurasai significa “boca pequena”, e à neotenia, pois Tujamita significa “adulto-criança”, e pertencem às espécies Jurasai itajubense, J. digitusdei e Tujamita plenalatum.

De acordo com a pesquisadora, as larvas e as fêmeas desses besouros são muito pequenas, com 3 a 9 mm de comprimento, e vivem no solo, junto às raízes de plantas. “Ainda não se sabe muito sobre a biologia destas espécies, mas os pesquisadores acreditam que as larvas se alimentam de líquidos das hifas de fungos micorrizos com sua peça bucal em forma de bico”, detalhou a professora.

Ela também disse que os machos são também muito pequenos, com 3 a 5 mm de comprimento, e, possivelmente, não se alimentam, vivendo de suas reservas apenas o suficiente para encontrar a fêmea e copular.

Com base no estudo da morfologia, as pesquisadoras brasileiras perceberam que as espécies pertenciam a um grupo de besouros no qual a neotenia é bastante comum, a superfamília Elateroidea, mas ainda não era possível determinar a família a qual eles pertenciam.

Com a colaboração dos pesquisadores Katja Kramp e Robin Kundrata, da Alemanha e República Tcheca, respectivamente, foi possível investigar as relações evolutivas das novas espécies em uma análise filogenética baseada em quatro marcadores moleculares, o que revelou que elas pertenciam a uma linhagem completamente distinta das outras famílias de Elateroidea, ou seja, elas não podiam ser classificadas em nenhuma família já existente. Por isso houve necessidade de agrupá-las em uma família nova para a ciência. 

“Os besouros pertencem a ordem Coleoptera, o grupo de organismos mais diverso do planeta, com cerca de 400 mil espécies agrupadas em 211 famílias”, explicou Simone.

A docente destacou que os besouros, assim como vários outros animais e plantas, têm sido estudados intensivamente desde a metade do século XVIII, com o início formal da Sistemática, área da Biologia que se dedica a descrever e classificar os organismos de acordo com suas relações de parentesco evolutivo. 

“Todos os dias novas espécies são descritas e podem ser classificadas em famílias já estabelecidas. Algumas poucas famílias de besouros foram propostas nos últimos 50 anos para espécies já conhecidas e catalogadas”, disse a professora.


A pesquisadora da UNIFEI também informou que a descoberta de uma família a partir de espécies ainda não descritas é algo bem mais raro na ciência e quase todas foram baseadas unicamente em indivíduos machos. “A proposição de Jurasaidae se destaca por ser uma das poucas famílias que inclui, além dos machos, dados de larvas, pupas e fêmeas”, comentou a docente.

Esta é, portanto, uma descoberta fantástica para a biodiversidade brasileira e para a Coleopterologia, ciência que estuda os besouros. “A descoberta desta nova família mostra que ainda há uma diversidade desconhecida para a Ciência na Floresta Atlântica. Além disso, os besouros neotênicos, com machos pequenos, de corpo mole e fêmeas semelhantes às larvas, sem asas, são reconhecidos por terem pouca capacidade de dispersão, estarem restritos a determinados locais e serem dependentes de ambientes climaticamente estáveis”, destacou a professora.

Para Simone, “os besouros neotênicos são, portanto, excelentes indicadores de áreas que abrigam organismos sobreviventes de linhagens com longa história evolutiva, e a descoberta da nova família de besouros reforça a importância da preservação dos remanescentes de Mata Atlântica, refúgios da biodiversidade muitas vezes ainda desconhecida para a ciência”.

Os interessados podem acessar o link da publicação e, no item Supplementary Information, obter informações adicionais, como um arquivo com descrições, fotos mais detalhadas das novas espécies e um vídeo de um casal de besouros em cópula.

da assessoria da UNIFEI

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