quinta-feira, 20 de agosto de 2020

PESQUISADORES DA UNIFAL-MG INVESTIGAM COMPONENTES DO CORONAVÍRUS ASSOCIADOS À VACINA BCG

Componentes podem ser uma alternativa para estimular a capacidade do sistema imunológico de combater à Covid-19

Identificar a estrutura biológica do vírus SARS-CoV-2 e, consequentemente, a maneira como atinge os seres humanos é um dos grandes desafios científicos a serem enfrentados por pesquisadores do mundo todo. 

Na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), uma pesquisa nesta área busca criar uma fórmula para aumentar a capacidade do sistema imunológico de combater a doença, utilizando componentes que possam estimular a resposta imune protetora no ser humano, associados ao componente usado na vacina BCG.

Coordenada pelo professor Leonardo Augusto de Almeida, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UNIFAL-MG, a pesquisa foi contemplada com R$ 150 mil para desenvolvimento, na Chamada de Projetos e Ações de Pesquisa e Inovação para o Enfrentamento à Covid-19, lançada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UNIFAL-MG. 

O estudo é desenvolvido em parceria com a UFSJ, o Instituto Adolfo Lutz (IAL), de São Paulo, e a UNIFENAS. A pesquisa envolve professores e discentes também do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UNIFAL-MG nas análises de bioinformática.

“A partir das sequências do genoma do vírus, que está disponível em bancos de dados públicos na internet, é possível identificar o que o vírus expressa dentro da célula do hospedeiro para poder se replicar. O vírus depende totalmente da célula da pessoa infectada para fazer mais cópias de si mesmo e espalhar dentro do indivíduo e, assim, se espalhar para outros indivíduos”, explica. 

O pesquisador informa que existem mais de 15 mil genomas sequenciados no mundo, os quais podem ser utilizados para identificar os componentes do vírus.

O professor Leonardo informa que para identificar as variações das estruturas virais de todos os vírus causadores da Covid-19, o grupo da UNIFAL-MG conta com o apoio da professora Débora Oliveira, da UFSJ, campus Divinópolis, e do professor Nelson José de Freitas Silveira, do ICEx da UNIFAL-MG.

Na pesquisa proposta pela equipe de pesquisadores liderada pelo professor Leonardo, a identificação dos componentes será feita por meio da vacinologia reversa. “A vacinologia reversa permite identificar de forma mais racional o que é mais imunogênico no vírus, por técnicas de informática associadas à biologia”, comenta.

Segundo o pesquisador, por meio da vacinologia reversa há um direcionamento melhor de identificação de qual parte do vírus tem maior probabilidade de gerar uma resposta imune específica contra ele. “Há um menor gasto para o desenvolvimento de uma vacina e até mesmo um menor número de ensaios, incluindo a diminuição de número de animais em estudo, para se obter um resultado efetivo”, acrescenta.

Estudos ao redor do mundo sobre o que poderia atenuar os sintomas da Covid-19 mostram que a vacina BCG aplicada logo no nascimento para prevenir casos graves de tuberculose e controlar outros processos infecciosos em crianças, pode oferecer uma possibilidade promissora se associada à porção da estrutura do vírus, que é capaz de estimular a resposta imune. 

“Alguns trabalhos observacionais têm demonstrado uma correlação entre indivíduos vacinados com BCG e desenvolvimento mais brando da Covid-19 ou até mesmo não desenvolvendo a doença mesmo se infectado pelo vírus”, relata Prof. Leonardo.

Uma das ideias por trás dessa informação, segundo o pesquisador, é a da resposta imune inata treinada, que ao entrar em contato com um estimulador da resposta imune, como o caso do BCG, um contato subsequente com outros microrganismos poderia induzir uma resposta mais efetiva contra agentes infecciosos. 

“Essa resposta é diferente da resposta imune mediada pelos linfócitos e pelos anticorpos, mas que auxilia essa resposta a ser melhorada”, diz.

A pesquisa envolve a análise da capacidade da formulação em ativar a resposta imune treinada em células, utilizando diversas técnicas clássicas e de ponta da Biologia Molecular. Conforme o professor Leonardo, após essa análise, as porções mais promissoras serão aplicadas para análise em animais de laboratório, em parceria com a professora Patrícia Paiva Corsetti da área de Medicina Veterinária da Universidade de Alfenas (UNIFENAS), e em seguida, serão associadas aos dados de reconhecimento dessa porção por anticorpos de pacientes positivos para a Covid-19, do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, em colaboração com o pesquisador científico Carlos Prudêncio.

“Sabemos que o desafio será grande em um curto período de tempo, mas não estamos medindo esforços para o andamento desse projeto e conseguir dentro de 12 meses obter pelos menos os dados in vitro (nas células) para iniciar o processo de imunização dos animais”, afirma.

Em função do potencial dessa associação gerar uma resposta imune, o coordenador da pesquisa aponta que os resultados terão impacto direto na qualidade de vida da população. 

“Os resultados produzidos neste projeto poderão ter um grande impacto na saúde pública devido a possibilidade de identificar uma porção do vírus capaz de gerar uma resposta imune contra esse microrganismo e conseguir treinar a resposta imune do paciente ao ponto de melhorar a resposta inicial e evitar o desenvolvimento da doença”, argumenta, afirmando que será possível também, em colaboração com o Instituto Adolfo Lutz, auxiliar no diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus.

da assessoria da UNIFAL-MG 

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