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CHUVAS NO SUDESTE: "ESTAMOS VENDO HOJE A CRISE DAS CIDADES DO BRASIL"

Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSJ, Ricardo Motta Pinto Coelho

As chuvas na região Sudeste neste início de 2020 têm chamado a atenção de todo o País. Só em Minas Gerais, até o final de janeiro, pelo menos 56 pessoas morreram e estima-se que mais de 40 mil estão desalojadas. O professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Ricardo Motta Pinto Coelho, deu entrevista para a rádio Sputnik esclarecendo qual o papel da interferência do ser humano e das mudanças climáticas nessas chuvas históricas.

"Em Belo Horizonte, a sexta-feira passada foi o dia em que mais choveu de todo o registro histórico de dados pluviométricos que a cidade tem", afirma Ricardo. Para o pesquisador, as mudanças climáticas estão por trás desse agravamento. “As variações sazonais se tornaram muito mais intensas. As secas são mais dramáticas, as chuvas são mais intensas. Os relatórios do Painel Climático da ONU mostram que essas são uma das previsões das mudanças climáticas", comenta.

Se, por um lado, os valores recordes se devem em boa parte às mudanças climáticas, o modelo de urbanização brasileiro contribui decisivamente para que os efeitos das chuvas sejam ainda mais devastadores. "Obviamente a interferência humana é muito importante”, aponta, incisivamente, Ricardo. E há responsáveis: “as pessoas tendem a julgar os mais pobres como sendo invasores, que inadvertidamente constroem nas margens do rio. Mas eu procuro pensar de maneira diferente. Acho que as prefeituras e os gestores públicos municipais têm que levar a maior parcela de culpa nesse processo"

Isso porque há uma “leniência dos poderes municipais, que atendem aos interesses da expansão imobiliária, interesses imediatistas de cunho comercial”. As avenidas construídas aos longos dos rios, lembra Ricardo, normalmente têm grande valor para o comércio.

As enchentes das cidades também refletem o desmatamento das áreas rurais. Muitas das cidades que sofreram agora, explica o pesquisador, são circundadas por intensa atividade agropecuária, que causaram grande desmatamento, inclusive ao longo dos rios, das vegetações ribeirinhas.

Todas essas perdas, de vidas humanas, residências, fauna, flora, bens materiais, poderiam ser evitadas? "O clima até certo ponto é imprevisível, mas poderíamos ter poder de resposta para enfrentar uma situação extrema”, delimita Ricardo. Como? Com uma reforma urbana no País: “não é responsabilidade apenas dos governos municipais e estaduais. O Governo Federal deveria agir de maneira muito objetiva e clara, induzindo um processo de melhor qualidade de zoneamento urbano. O que nós estamos vendo hoje é a crise das cidades do Brasil, que sofrem na seca, que sofrem nas enchentes.”

E vale permanecer em estado de atenção: o professor relembra, ainda, que fevereiro tradicionalmente é um mês com altos valores de precipitação no sudeste brasileiro.

Ouça, aqui, a entrevista completa.

da assessoria da UFSJ

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