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PESQUISADORA MINEIRA É PREMIADA POR ESTUDOS QUE BUSCAM REDUZIR O IMPACTO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

Elizângela Aparecida dos Santos investiga como as mudanças do clima afetam a agricultura, a segurança alimentar e o meio ambiente; Prêmio Fundação Bunge será entregue em 23 de setembro, em São Paulo

Presença feminina no setor de ciências agrárias, Elizângela Aparecida dos Santos, professora adjunta da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) será agraciada pelo Prêmio Fundação Bunge 2025, categoria Juventude, no tema "Gestão do risco climático na produção de alimentos". Inspirada no Nobel, a premiação que completa 70 anos em 2025 condecora personalidades que contribuem de forma significativa para o desenvolvimento social, cultural e científico do Brasil. Elizângela foi reconhecida por sua trajetória e dedicação em encontrar soluções para um dos desafios mais urgentes do nosso tempo: a emergência climática.

A jornada de Elizângela mostra a importância da educação para a transformação social e o impacto da pesquisa científica na construção de um futuro mais sustentável para o agronegócio brasileiro. Nascida em Piranga, Minas Gerais, e oitava de treze irmãos, Elizângela trilhou um caminho singular até se tornar referência na área das ciências agrárias, aprendendo desde cedo a valorizar o conhecimento. Seus pais, mesmo com poucos recursos, sempre incentivaram os filhos a estudarem e a buscar seus sonhos.


"Minha mãe me ensinou matemática com grãos de feijão. Foi uma grande professora minha, conseguiu me inspirar a ensinar", recorda a pesquisadora. Não à toa, Elizângela percebeu seu talento para o ensino ainda na adolescência. “Eu comecei a dar aulas particulares aos 13 anos, e isso me fez perceber que ensinar era uma forma de aprender”. Aos 16 anos, ela já ajudava seus colegas de turma com matérias mais complexas, revelando sua vocação para compartilhar conhecimento.

A escolha pelas Ciências Agrárias na Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi influenciada pela vivência com o pai, produtor rural. "Ele dizia que, se eu não estudasse, iria para a roça trabalhar com ele. Mas eu preferi estudar a roça", lembra Elizângela, unindo a teoria à prática para transformar o setor. Ainda na graduação, Elizângela começou a investigar os desafios enfrentados pelos produtores rurais diante das crescentes incertezas climáticas. O tema a despertou para a importância de entender como essas mudanças afetam os agricultores e, a partir disso, desenvolver soluções para mitigar seus impactos.

Sua linha de pesquisa abrange todos os tipos de produtores, desde os agricultores familiares até os grandes empresários do agronegócio, porque, como diz, “a questão climática não afeta um só deles. O que eu deixo claro nas minhas pesquisas é a questão do impacto socioambiental. E nem todos estão preparados para isso". O objetivo, segundo ela, é entender como as mudanças climáticas impactam a produção de alimentos, a segurança alimentar e o meio ambiente, propondo soluções inovadoras e adaptadas à realidade de cada produtor.

"Entender qual produtor é mais vulnerável, ou as regiões mais vulneráveis, nos permite definir assessoria técnica de maneira mais direcionada", afirma. "Agricultores familiares, por exemplo, têm menos possibilidades de se adaptar às questões climáticas, por não terem assessoria técnica necessária, ou um seguro rural eficiente. Muitas vezes, eles nem têm acesso às informações de crédito rural", explica.

O mestrado e o doutorado, também realizados na UFV, aprofundaram seus conhecimentos em economia aplicada ao agronegócio e consolidaram sua expertise na gestão de riscos climáticos. No mestrado, Elizângela focou seus estudos na análise da eficiência agroambiental do uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, buscando compreender os principais fatores que explicam a demanda por esse insumo no Brasil. Os resultados obtidos indicaram um uso excessivo desse tipo de fertilizante, que se traduziu em ineficiência agroambiental. Para reverter a questão, Elizângela sugeriu, em seu estudo, que “políticas públicas que garantissem mais assistência técnica agrícola e formas alternativas e racionais de uso de nitrogênio poderiam contribuir para otimizar as doses sintéticas aplicadas na produção, minimizando os efeitos ambientais, sem gerar prejuízos econômicos aos agricultores e climáticos à sociedade como um todo”.

Já no doutorado, Elizângela buscou analisar a relação entre desigualdade de renda e emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs) pelas famílias brasileiras. A pesquisa, que analisou dados de 2009 e 2018, revelou que, embora as emissões médias das famílias tenham diminuído significativamente devido a avanços tecnológicos, o aumento da renda impulsiona o consumo e, consequentemente, as emissões, especialmente entre as classes mais baixas. Além disso, o estudo apontou para uma grande disparidade nas emissões, com os 10% mais ricos emitindo uma quantidade desproporcionalmente maior de GEEs em comparação à metade mais pobre da população.

Apesar da constatação de que rendas mais altas estão associadas a maiores emissões, a pesquisa aponta que é possível conciliar a redução da desigualdade de renda com a diminuição das emissões de GEEs. Os resultados indicam que políticas de redistribuição de renda não necessariamente levam a um aumento significativo nas emissões médias, sugerindo que o combate à desigualdade e a proteção do meio ambiente não são objetivos conflitantes.

Finalizado o doutorado, Elizângela assumiu, em 2023, o posto de Professora Adjunta no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (ICA/UFVJM), no campus de Unaí (MG), uma região de forte vocação agrícola em Minas Gerais. Desde então, além de ministrar aulas na graduação e pós-graduação, dedica-se também a pesquisar e coordenar estudos de graduandos e pós-graduandos em gestão do risco climático, buscando soluções para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do agronegócio.

Os estudos abrangem questões como a vulnerabilidade no uso da terra em municípios das sete reservas da biosfera no Brasil; o impacto dos Sistemas Agroflorestais na adaptabilidade da agricultura familiar em face das mudanças climáticas; o grau de vulnerabilidade às mudanças climáticas dos municípios pertencentes aos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; e, ainda, a ingestão diária de resíduos de agrotóxicos pela população adulta, analisando a exposição diferencial entre indivíduos residentes em áreas urbanas e rurais.

Para o futuro, a professora espera inspirar outros jovens a se dedicarem à pesquisa e à inovação. Ela planeja também continuar seus estudos, fazendo um pós-doutorado no exterior, com o objetivo de aprofundar seus conhecimentos em economia aplicada ao ambiente e agronegócio.

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