Quem olha a elite como um luxo e o povo como um lixo tem um vício mental que se reproduz em tudo o que pensa sobre o mundo. Para esta gente, política externa e relações de comércio internacionais são para ser feitas com os países ricos, aos quais possamos vender, bem barato, a pobreza e o atraso do nosso país. Por isso, as parcerias com países menos desenvolvidos e – sobretudo – com nossos vizinhos – chega ser algo desprezível. Este colonialismo mental talvez tenha uma de suas grandes expressões no falecido Juracy Magalhães. É dele a famosa frase: o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil. Juracy é um dos históricos exemplos de como o poder transtorna os cérebros fracos e os corações frios. Fervoroso nacionalista revolucionário, integrou o Governo Vargas, mas acabou conspirando contra ele e, confessadamente, até trabalhado para o FBI, como diz o livro Seja feita a vossa vontade, de Gerard Colby e Charlotte Dennett.
Com estas credenciais, era natural que se tornasse Ministro das Relações Exteriores da ditadura militar de 64. Juracy morreu há quase dez anos, mas parece que seu “espírito diplomático” anda baixando no tucanato. Durante muito tempo, o Brasil não se integrou ao resto da América do Sul, e nem os outros países olhavam para seus vizinhos de continente. Era cada um por si e todos pelos Estados Unidos. Foram precisos muitos governos e mudanças na roda da história para que os sul-americanos entendessem que juntos podiam mais. Numa economia globalizada e marcada por blocos, surgiu a idéia do Mercosul. Construí-lo não foi fácil. Houve muitos embates, divergências, mas se avançou a ponto dos quatro países originais – Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai – receberem a adesão de Bolívia e Chile, como associados, e da Venezuela, como membro pleno, dependendo apenas da aprovação do parlamento paraguaio.
Talvez fosse importante o tucano paulista se debruçar sobre o que se passou na Europa para a construção da União Européia e o papel exercido pela Alemanha e outros países mais prósperos em relação às economias menores do velho continente. Integração exige sacrifícios e solidariedade. Não se pauta por valores de mercado no qual só os mais fortes e espertos sobrevivem. inserção do Brasil no mundo precisa de uma visão estratégica, de estadista. Não de uma visão de livro-caixa, de um tecnocrata.
O volume de comércio entre os quatro países que o fundaram era de 4 bilhões de dólares. Em 2006, já chegava a 30 bilhões de dólares em trajetória ascendente. O bloco avançou para a criação do Banco do Sul, de fomento regional, nos moldes do BNDES, e se aproximou da Comunidade Andina de Nações para ampliar a integração a todo o continente. Existe uma bela canção de Milton Nascimento e Fernando Brant que diz que “ficar de frente para o mar, de costas para o Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”. O verso se adaptaria bem ao Brasil em relação à América do Sul, dizendo que ficar de frente para o mar e de costas para os vizinhos não vai fazer desse lugar um bom continente.
por Leonel Brizola Neto
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