Mayra Luisa, da Angola, espera ingressar em algum programa de pós-graduação e Keven Lopes, de Cabo-Verde, vislumbra possibilidades de emprego com a retomada do turismo em sua terra natal 
Com elogios à qualidade do ensino na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e à receptividade dos juiz-foranos, os estrangeiros que colam grau pela instituição entre os próximos dias 15 e 17 vão se despedindo de suas faculdades. 

Ao todo, são dez alunos com origem em variados países, como Cabo Verde e Suécia, os quais seguem para a vida profissional com diferentes objetivos.

O idioma compartilhado ajuda a explicar a grande predominância de alunos vindos de ex-colônias portuguesas na África para estudarem na UFJF, assim como o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). 

Por meio dessa iniciativa, são oferecidas oportunidades de ensino superior em países com os quais o Brasil mantém acordos culturais e educacionais. Por isso, na UFJF, é comum se deparar com estrangeiros vindo de nações como Angola, Cabo Verde e Guiné Bissau, que acabam criando laços com o país.

É o caso do cabo-verdiano Keven Lopes, prestes a completar nove anos na UFJF. Ele chegou no primeiro semestre de 2008 para estudar Engenharia Civil e, apesar de falar português, as diferenças no idioma e no sotaque e o modelo de ensino brasileiro representaram obstáculos no começo. 

“O ensino aqui é bem diferente, já que em Cabo Verde nós somos mais influenciados pela Europa. E tem até mesmo a língua, já que no nosso país temos muita presença também do crioulo.”

Para sua adaptação, Lopes destaca como fundamental a receptividade das pessoas: “Pessoal sempre nos acolheu muito bem. No final, tudo deu certo. As pessoas gostam dos estrangeiros que chegam.” 

Sobre Juiz de Fora, o cabo-verdiano diz que o município possui boas características para quem quer estudar: “A cidade é ideal para estudar. Tem tudo, desde segurança até a ser uma cidade muito boa para se viver. Além disso, o povo é muito acolhedor, e a Universidade é uma das melhores do Brasil.”

O trato dispensado pelas pessoas também é destaque de Isabel das Dores, que chegou de Guiné-Bissau no segundo semestre de 2012 para estudar Psicologia: “Apesar dos desafios e dificuldades, acho que tudo foi muito positivo, tanto academicamente, como no relacionamento com as pessoas.” A estudante só estranhou os trabalhos em equipe na sala de aula: “A coletividade, o trabalho em grupo que tem aqui, não são tão comuns assim na Guiné.” 

Para Isabel, a experiência positiva se deve em grande parte à “graça de ter tido uma turma muito boa e ser muito bem recebida.” 

A estudante é oriunda da capital de seu país, Bissau, município que concentra grande parte dos cerca de 1,8 milhão de habitantes da pequena nação na costa ocidental da África. 

Sobre o futuro, Isabel agora aguarda o resultado da seleção do curso de mestrado. Se conseguir a aprovação, permanecerá no Brasil. Caso contrário, não descarta retornar ao país natal.

Situação semelhante é a da angolana Mayra Luisa, que veio para a UFJF no primeiro semestre de 2012 para estudar Administração. 

Com o fim do curso, a aluna aguarda os resultados dos programas de pós-graduação para definir seu futuro. 

Mayra deixou a província de Cabinda, no norte do país, seguindo os passos de sua irmã mais velha, formada em Engenharia Civil pela UFJF, e aprovou o ensino recebido: “A Universidade é muito boa, tem uma visão bem ampla, independentemente do curso. Desenvolve uma visão mais crítica, menos focada no mercado.” 

Sobre a cidade, Mayra ressalta ter convivido com “uma nova cultura, muito diferente” e, na UFJF “tem pessoas de várias regiões do país”.

Mudança na rota
Desde 2008 no Brasil, momento em que o país vivia bom desempenho econômico, em especial para a construção civil, Keven Lopes presenciou os momentos de auge e de queda do mercado econômico brasileiro. 

Segundo ele, quando decidiu vir para o Brasil, esta era a escolha de muitos de seus colegas, considerando também a proximidade entre os países “O Nordeste é muito próximo para nós, é possível se chegar com um voo apenas”. As capitais Natal e Fortaleza foram o destino de muitos amigos na época, aponta Lopes.

No entanto, com o fim da alta no preço das commodities que beneficiaram o Brasil, Lopes observa que “cada vez vem menos gente de lá para cá”. 

A recuperação europeia também fez aumentar o fluxo de turistas em seu país, melhorando as condições da população: “Vão muitos portugueses pela proximidade, mas também tem ingleses, espanhóis, italianos. Vai gente da Europa toda.” Lopes enxerga a retomada do turismo como um atrativos para voltar à Cabo Verde: “Onde tem turistas, tem que se construir hotéis, restaurantes, lojas, e tudo mais. Realmente, do jeito que o Brasil está hoje, é complicado ficar.”

Oportunidade nos países em desenvolvimento
Criado em 1964, o PEC-G hoje contempla 59 países, em três regiões: África, Ásia, América Latina e Caribe. 

O programa é uma iniciativa dos Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Educação, em parceria com universidades estaduais e federais em todo o Brasil. 

Por meio do PEC-G, alunos que tenham concluído o ensino médio, e com proficiência na língua portuguesa, que tenham entre 18 e preferencialmente até 23 anos, têm a oportunidade cursar gratuitamente a graduação em território brasileiro.
da assessoria UFJF