AGRITECH UFLA IMPULSIONA A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO CAMPO E A CONSOLIDAÇÃO DE INGAÍ COMO DISTRITO AGROTECNOLÓGICO
Um estudo conduzido pelo Centro de Estudos em Mercado e Tecnologias no Agronegócio da Universidade Federal de Lavras (Agritech UFLA) revelou o potencial de Ingaí (MG) para se tornar um modelo de inovação no meio rural: um Distrito Agrotecnológico (DAT). Funcionando como um piloto de fazenda inteligente, os DATs são áreas previamente selecionadas com intuito de investigar e validar tecnologias habilitadoras para o desenvolvimento de soluções digitais priorizadas para cada realidade. Ao todo, dez DATs estão sendo criados no País, abrangendo todas as regiões. Ingaí (MG) é o único DAT no estado de Minas Gerais e o foco será na produção de leite, tradição do município. Em cada DAT, um ou mais produtos são selecionados.
O DAT é um espaço de articulação territorial que busca promover a inovação na agricultura, reunindo ações de capacitação, assistência técnica e uso de tecnologias para fortalecer a produção agropecuária. O projeto, em Ingaí, é fruto da associação de instituições como o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA). Conta com financiamento da Fapesp e é liderado pela Embrapa. Dentro da UFLA, conta ainda com apoio da Agência Zetta de Inovação, Geotecnologia e Sistemas Inteligentes da UFLA, que contribui para a execução das pesquisas e com o conhecimento em gestão territorial.
O artigo, nomeado “Pathways to Rural Sustainability: Opportunities and Challenges in the Creation of an Agrotechnological District in Ingaí City, Brazil” (em tradução livre: “Caminhos para a sustentabilidade rural: oportunidades e desafios na criação de um Distrito Agrotecnológico no município de Ingaí, Brasil”) foi publicado no portal da Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), editora científica global de acesso aberto, reconhecida por facilitar a ampla disseminação de conhecimento acadêmico em diversas áreas.
O diagnóstico feito a partir da pesquisa indicou que o município, tradicional produtor de leite, reúne condições estratégicas para a criação de um DAT, iniciativa que, segundo os pesquisadores, pode transformar a base produtiva local e abrir caminhos para uma agricultura mais conectada, eficiente e sustentável.
A partir de entrevistas com agentes do setor agrícola, realizadas em março de 2024, o estudo identificou os principais gargalos enfrentados por produtores da região: infraestrutura de conectividade limitada, dificuldades na gestão das propriedades, resistência à adoção de novas tecnologias e barreiras no acesso ao crédito. Também foram apontadas questões estruturais, como a dependência do poder público e os desafios relacionados à sucessão familiar.
Apesar das limitações, a pesquisa destacou oportunidades concretas para o avanço do setor. A promoção da inclusão digital, o fortalecimento das redes de apoio e a capacitação dos produtores foram elencados como caminhos viáveis para impulsionar a produção e ampliar a competitividade da pecuária leiteira. Tecnologias simples, como sensores para monitoramento do rebanho, softwares de gestão e ferramentas de rastreabilidade podem melhorar a qualidade do leite, reduzir custos operacionais e ampliar o acesso a mercados mais exigentes.
Consolidação de Ingaí como DAT
As evidências levantadas pelo estudo não ficaram apenas no papel. Na noite de 14 de maio de 2025, em cerimônia no Auditório Municipal de Ingaí, foi consolidado oficialmente o município como um dos dez Distritos Agrotecnológicos do Brasil, sendo o primeiro no estado de Minas Gerais, no contexto do Projeto Semear Digital. O evento reuniu produtores, pesquisadores, gestores públicos e representantes de instituições parceiras, marcando o início de uma nova fase para a agropecuária local, baseada na inovação e na valorização da produção regional.
Um dos marcos da solenidade foi a assinatura da carta de apoio institucional, que formalizou a parceria entre a Prefeitura de Ingaí, a Embrapa, a UFLA, a Emater-MG e demais entidades envolvidas na construção do DAT. A união entre esses atores reforça a proposta de um ecossistema colaborativo voltado à modernização do campo e ao fortalecimento das cadeias produtivas locais.
A proposta de transformar Ingaí em um polo de inovação no agronegócio dialoga com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ao promover inclusão tecnológica, qualificação profissional e crescimento econômico regional. Com a instalação do DAT, o município passa a integrar uma rede nacional de territórios que adotam estratégias digitais para alavancar a produção agropecuária, tornando-se referência em práticas sustentáveis e tecnológicas.
Além de representar um novo capítulo para a economia local, a experiência de Ingaí poderá inspirar outros municípios mineiros, especialmente em um estado que lidera a produção leiteira no País, a apostar na digitalização como ferramenta de transformação no meio rural.
Benefícios esperados com o projeto
O Projeto Semear Digital, implantado no Distrito Agrotecnológico (DAT) de Ingaí, traz uma série de benefícios diretos aos produtores rurais da região. “O DAT integra ações de capacitação, assistência técnica e adoção de tecnologias digitais, apoiando os produtores na gestão das propriedades e na qualificação dos processos produtivos, sempre considerando as características e as necessidades locais”, explica o professor do Departamento de Administração e Economia (DAE) e coordenador do Agritech UFLA, Paulo Henrique Montagnana Vicente Leme.
Com o uso de aplicativos e plataformas, os produtores poderão acessar informações estratégicas, como previsões climáticas e orientações sobre manejo, fortalecendo a tomada de decisões no dia a dia da produção. A parceria com a UFLA e outras instituições garante ainda suporte técnico qualificado, promovendo o aumento da produtividade, da qualidade dos produtos e da renda no campo.
Este projeto está sendo financiado pela Fapesp.
*Do Portal da Ciência UFLA
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