quinta-feira, 11 de junho de 2009

FRASES FEITAS & CONCLUSÕES IMPERFEITAS

“Descobrir as próprias vulnerabilidades traz o respeito em relação aos sustentáculos alheios.”

Carlos Edyl

Quem é vivo sempre aparece. Quem está por cima uma hora desce. Quem se decepciona nunca esquece. São todas as frases feitas nas quais forcei a rima mas não significa que sejam verdades. Um exemplo é a grande decepção que tenho com minha memória. Não tenho o menor controle sobre ela. Mas se não me lembro daquilo tudo que gostaria, em compensação esqueço tudo que deveria. Todo dia tenho que começar tudo de novo. E fica mais fácil assim. Com esse mecanismo inconsciente de autodefesa que reduz o tédio da rotina cotidiana me oferecendo a possibilidade da descoberta inédita de um encanto imprevisto e inesperado. De forma que acabo tirando proveito disso que seria decepção. Das outras decepções nem me lembro mais. Não perco tempo para juntar rancores e guardar desaforos advindos da mediocridade daqueles que, exatamente por medíocres, me são inofensivos. Decepções maiores são aquelas geradas por expectativas equivocadas em relação a determinadas pessoas. Passo a vida aprimorando descer. Desço nos cantos escuros e profundos da alma, e quem sabe assim eu cresço? Nesse premeditado e inverso caminho de se sentir ‘por cima’, fútil ilusão e sintoma de complexo de superioridade que, no paradoxo, atinge os ególatras e, enquanto assim, inferiores.


A soberba precede a queda. E não por ironia, se manifesta acompanhada do falso discurso que renega o orgulho e a vaidade. Hipocrisia e ignorância que repudia a humana normalidade. Riqueza material, beleza física, Poder, são poderosos propulsores que transformam a imprescindível auto-estima em pernosticismo, o mais pedante. Daí a necessidade de, durante a convivência humana, transcender o instinto que não faz visível o risco dos pré-julgamentos naturais se tornarem inflexíveis. Melhor, pior, maior, menor, tudo tem seu momento. E a beleza reside na diferença. a grandeza reside nos detalhes. Vê belezas quem sabe, e quer enxergar. Vê mais longe quem enxerga pra dentro. Ninguém é mais frágil do que aquele que desconhece suas fraquezas. Descobrir as próprias vulnerabilidades traz o respeito em relação aos sustentáculos alheios. Só quem pode desfrutar da leveza do céu é quem aprende a solidez do seu solo. Negar os defeitos, própria vaidade, não significa que não existam, mas sim que se ignora sua existência. É reconhecer ignorância e insensibilidade para todos demais defeitos, virtudes, características inerentes à condição humana. Quem se acha ‘por cima’ chega a acreditar ser esta sua natureza, enquanto se revela desprevenido diante uma precária constância. E quando da hora, mesmo que tardia, mas inevitável da descida, vem maior o sofrimento por até então evitadas as próprias profundidades.

Quem é vivo sempre aparece nos porões. E é melhor descer as escadas por vontade própria, não por castigo ou por não ter mais aonde ir. Descer sem ninguém, nada, obrigar descer. Descer por descobrir precisar. E nos subterrâneos, no meio de muito que se queria escondido, descobrimos nosso exato tamanho. Temos nada mais, nada menos, que a dimensão dos nossos medos. Dos nossos sonhos. Somente quem experimenta e aprende o caminho que nos inferniza sabe desfrutar da intensidade do céu que nos é possível

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Carlos Edyl Santiago Filho, jornalista, como bom aquariano, habita porões e reside em profundos céus sem se preocupar em distingui-los.

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