Pular para o conteúdo principal

PESQUISADORES, SERVIDORES E ESTUDANTES FAZEM ATO CONTRA FUSÃO DE MINISTÉRIOS

Ato reuniu cerca de 300 pessoas no gramado da Reitoria

Três décadas após a criação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a sociedade brasileira compreende o valor do investimento no setor para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. 

Uma política de Estado, aliada ao esforço coletivo, aumentou exponencialmente a capacidade de produção científica, e essa história de conquistas não pode sofrer retrocesso.

Movidos por essa convicção, manifestada pelos organizadores e pelos oradores, cerca de 300 pessoas participaram no início da tarde desta quarta-feira, 8, no gramado em frente à Reitoria, no campus Pampulha, de ato contra a fusão do MCTI com o Ministério das Comunicações (MiniCOM).

O ato teve participação de dirigentes e ex-dirigentes da Universidade, professores, técnicos e estudantes e apoio de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). 

A nota divulgada na última segunda-feira, 6, pelo Conselho Universitário da UFMG, que classifica de “grave retrocesso” a fusão dos ministérios, foi lida na abertura da manifestação.


Ao falar “como cidadão, docente e reitor”, Jaime Ramírez [ ao lado] afirmou que a comunidade da UFMG deve deixar clara sua indignação contra uma decisão “inaceitável” e defendeu uma política de Estado para a ciência e tecnologia “forte e de longo prazo, que atenda aos interesses do país”.

O reitor disse que a Universidade deve se posicionar a favor de avanços conquistados também em áreas como educação, saúde e cultura. “Precisamos estar preparados para indicar nossa contrariedade com relação a essa nova configuração e resistir, seja como for”, afirmou Ramírez.

A vice-reitora Sandra Goulart Almeida também ressaltou o papel da UFMG como foco de resistência. “Não podemos abrir mão de valores como os que têm gerado avanços e contribuir para um movimento unificado que leve à recriação do MICT, que deve ganhar cada vez mais relevância, como promotor de desenvolvimento, cidadania e inclusão”, disse.

‘Coisas que não se misturam’

O professor Ronaldo Pena, reitor na gestão 2006-2010 e hoje à frente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), lembrou que não se faz desenvolvimento sustentável sem inovação tecnológica. 

“Não se deve misturar coisas que não se misturam, como comunicações e ciência tecnologia e inovação. O MCTI tem sido gerido por pessoas com trajetória acadêmica, como José Israel Vargas e Clélio Campolina; não é lugar de barganhas políticas. É fundamental que nos articulemos para reverter a situação criada pela fusão dos ministérios”, enfatizou.


Vice-reitora na mesma gestão, Heloisa Starling, do Departamento de História, citou o filósofo Paul Valéry – “construir exige obediência aos mais belos pensamentos” – para sentenciar que “nosso ato de construir está em perigo”. 

Segundo ela, o MCTI tem sido espaço de diálogo entre formas distintas de conhecimento – envolvendo humanidades, artes e tecnologia de ponta – e, da mesma forma, na UFMG, a ciência não é dissociada do humano. 

“Uma república em que a ciência não tem valor não tem espaço para a tolerância e a solidariedade”, declarou.


Precedido de coro de “Fora, Temer”, que se repetiria em outros momentos, o professor do Departamento de Matemática Israel Vainsencher, representando também a ABC, mencionou o “cerco midiático que nos faz discursar apenas para nossos próprios umbigos” e criticou outros atos do governo provisório, como mudanças na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e corte de verbas para blogs independentes.

A diretoria do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Andrea Mara Macedo, classificou a extinção do MICT como “golpe de misericórdia”, após cortes de recursos que afetaram recentemente pesquisa e inovação. 

“Precisamos estar mobilizados e continuar pressionando”, defendeu Andrea. Assim que ela terminou de falar, alunos do ICB fizeram breve performance em prol dos direitos humanos e da democratização do acesso à universidade.

Progresso

“Os dois ministérios são excludentes entre si, têm missões muito diferentes”, disse, ao criticar a fusão, o professor Eduardo Mortimer, da Faculdade de Educação, que representava também a SBPC. 

Ele fez referência à melhoria da posição do Brasil no ranking de produção científica: em três décadas, o Brasil subiu da 21ª para a 13ª posição e aumentou em quase sete vezes sua produção. “O MCTI foi um dos responsáveis por esse progresso.”

Em nome da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a professora Eli Iola Andrade, da Faculdade de Medicina, reproduziu posição de programas de pós-graduação nessa área pelo compromisso com a pesquisa, a produção de conhecimento, a formação de recursos humanos e a integridade do Sistema Único de Saúde (SUS). 

O diretor do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Waldemar Macedo, destacou que o setor de ciência e tecnologia não pode ser instrumento de barganha e que é preciso “perseverar” na defesa da manutenção do MCTI.

‘Queremos mais’
As entidades que representam estudantes, técnico-administrativos e professores também fizeram uso do microfone. Isabela Mendes, da diretoria recém-eleita do DCE, garantiu apoio da entidade ao movimento “contra retrocessos e pelos direitos sociais". 

"Não queremos menos ciência, tecnologia e inovação. Queremos mais”, disse a estudante.

A coordenadora do Sindifes, Cristina Del Papa, manifestou apoio ao ato de iniciativa de pesquisadores contra a fusão dos ministérios, chamou a atenção para projeto de lei que contém medidas prejudiciais aos servidores federais e pregou a defesa “da educação e da universidade pública, de qualidade”. 

Representante da Apubh, o professor Armando Neves exaltou a união dos diversos segmentos contra o que também classificou de retrocesso. 

“Devemos nos espelhar nos artistas, que conseguiram a recriação do Ministério da Cultura. E promover outros atos como este, tantos quantos forem necessários.”

A professora Rita Marques, coordenadora da Rede de Museus da UFMG, empenhou apoio da Sociedade Brasileira de História das Ciências. 

Clélio Campolina, reitor na gestão 2010-2014 e ex-titular do MCTI, enviou mensagem em que defendia "esforço urgente e consistente" em ciência, tecnologia e inovação, sem o qual "o futuro do país estará comprometido", e se disse angustiado com com a "decisão de atrofiar as funções do Ministério".

Vice-reitora Sandra Goulart Almeida: UFMG como foco de resistência

O professor Tarcisio Mauro Vago fechou o ato lembrando que a UFMG sempre combateu e criticou governos, “todos eles, quando necessário". 

“A Universidade, como patrimônio público, se posiciona em defesa da sociedade”, disse.
da assessoria - UFMG

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

VIGILÂNCIA SANITÁRIA INTENSIFICA FISCALIZAÇÕES PARA PREVENIR O COMÉRCIO DE BEBIDAS IRREGULARES

A Vigilância Sanitária de Varginha está realizando uma ação intensiva de fiscalização em distribuidoras e mercados da cidade para prevenir a comercialização de bebidas adulteradas e irregulares. Até o momento, foram apreendidas bebidas com prazo de validade vencido e sem procedência, mas nenhum caso de bebida falsificada ou adulterada foi identificado no município. Cinco equipes da VISA estão vistoriando 40 estabelecimentos, com foco em bebidas destiladas como cachaças, vodcas, whiskies e gins. A ação faz parte do trabalho preventivo da Secretaria Municipal de Saúde para proteger o consumidor e garantir produtos seguros. Dica importante: Antes de comprar, verifique o lacre e o rótulo, desconfie de preços muito baixos e, em caso de dúvida, entre em contato com o fabricante pelo SAC informado na embalagem. 📞 Denuncie bebidas suspeitas! Vigilância Sanitária de Varginha Telefone: (35) 3690-2204 Site: visavarginha.com.br/index.php/denuncias/

BOLSONARO CONDENADO

Nesta quinta-feira (11), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria, condenar os oito réus do Núcleo 1 da ação penal 2668, a trama golpista. A AP 2668 tem como réus os oito integrantes do Núcleo 1 da tentativa de golpe, ou “Núcleo Crucial”, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR): o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF; o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (réu-colaborador); o ex-presidente da República Jair Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. A acusação envolveu os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de E...

CENTRO LOGÍSTICO DE POUSO ALEGRE INAUGURA NOVA SEDE PARA FORTALECER LOGÍSTICA NO SUL DE MINAS

Com investimento de R$ 200 milhões, expansão ampliará a capacidade aduaneira da região e vai abrir nova rota para o transporte de mercadorias mineiras Com aporte de R$ 200 milhões para impulsionar a expansão logística e industrial do Sul de Minas, o Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (Clia) de Pouso Alegre, inaugurou, nesta terça-feira (25/11), sua nova sede no município mineiro. A nova instalação ocupará uma área de 475 mil metros quadrados (m²), sendo destinados para galpões, área alfandegada, espaço para indústrias, centros de distribuição, outras atividades e estruturas. A implantação do projeto deverá ser finalizada em três anos. Por meio da nova sede do Clia de Pouso Alegre, as empresas do Sul do estado terão uma rede logística fortalecida, com conexões mais ágeis para portos marítimos, redução de custos para operações de importação e exportação, atração de novas indústrias e centros de inovação. Durante o evento de inauguração, o secretário Executivo de Desenvolvimento Econ...