sexta-feira, 29 de julho de 2016

AMOR PELA MÚSICA CRIA "CELA DO VIOLÃO" NO PRESÍDIO DE POÇOS DE CALDAS


A Cela 8 tem a mesma ‘cara’ das outras do Presídio de Poços de Caldas, no Sul de Minas. A diferença está na paixão que une os nove ocupantes: um violão. 

Apesar de recém-chegado, o dono do instrumento e professor da turma, Edmar Rodrigues, de 25 anos, conquistou o apoio da direção do presídio para um projeto de educação musical. 

Assim, todos os presos que manifestaram interesse em aprender foram reunidos na cela 8. 

Todos os dias, eles passam uma parte do tempo às voltas com exercícios de notação musical e treinos no violão. 

O apego de Edmar à música tem história. Ele aprendeu a tocar violão ainda criança, com o pai. Antes de ser preso, complementava o salário de cozinheiro de hotel tocando à noite em bares e restaurantes. 

Pensou em quanto a música poderia amenizar o sofrimento pela privação da liberdade e ocupar o tempo ocioso dentro da cela.

Edmar conta que a ideia de ensinar outros presos foi de se sentir útil e contribuir para melhorar o ambiente no presídio. 

“Estou aqui longe dos meus filhos e da minha família. De certa forma a música me aproxima deles. Além disso, os meus alunos estão indo muito bem. São dedicados. Para todos nós, a prática do violão faz esquecer por algum momento que estamos presos”, diz.

Para o aluno Cherlem Robson da Silva, há oito meses no Presídio de Poços de Caldas, essa aproximação com a família tem um sentido ainda mais claro. 

Ele nunca aprendeu a tocar, apesar de ter sido estimulado pelo filho, que chegou a lhe dar um violão de presente. O instrumento estava sem uso há um bom tempo quando Cherlem foi preso. 

Agora, ele é um dos mais animados da Cela 8: “Na parte teórica, estou indo bem. Mas preciso aprender mais a prática, principalmente umas músicas do Raul Seixas e do Amado Batista, que são dois artistas que eu gosto muito”, diz o detento.

A diretora adjunta do Presídio de Poços de Caldas, Monique Xavier, diz que a experiência da cela da música comprova a importância de se proporcionar atividades culturais para os presos, como forma de ressocialização e melhora do relacionamento entre e eles e com os servidores da unidade. 

Ela não só é incentivadora do projeto como assumiu a tarefa de revisar e imprimir as provas e exercícios de música elaborados por Edmar.

Outro talento
Monique observa que não é tão raro se encontrar talentos entre os presos, cabendo à administração dar oportunidade para eles, considerando o comportamento e condições de segurança. 

O detento Paulo Eduardo, por exemplo, ocupa boa parte do tempo fazendo desenhos de moda. Preso há quatro anos, ele começou a riscar croquis quando ainda estava detido num presídio da Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Logo que chegou a Poços de Caldas, em abril deste ano, ele pediu autorização para receber da família um conjunto de lápis, borracha e canetinha para que pudesse continuar desenhando. 

“Eu já tenho sete coleções, de 20 a 22 peças cada. Comecei a desenhar dentro da cela e acho que fui aprimorando a cada dia”, contou orgulhoso o detento, mostrando os seus desenhos.

Paulo Eduardo planeja abrir ateliê próprio quando alcançar o livramento condicional. “Quero ver minhas coleções nas ruas”, afirma. 

Os sonhos não param aí: ele quer transpor a estética, que considerada surrealista, para telas a óleo. 

Sem nunca ter tido uma única aula de arte na vida, o preso diz se inspirar no pintor surrealista espanhol Salvador Dali.

por Flávia Lima - da assessoria

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