Pular para o conteúdo principal

ARTIGO: EXTINÇÃO DOS PARTIDOS E ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS PARA TODOS OS CARGOS


Na sua longa evolução histórica e constitucional, os partidos políticos brasileiros experimentam agora a sua pior crise existencial. Na grande maioria estão desmoralizados como instituições representativas, envoltos em denúncias de corrupção e contabilidades irregulares, e práticas condenáveis, perdendo em ritmo acelerado legitimidade e credibilidade. Cada vez mais, os partidos se firmam como entes burocráticos, estáticos, cartoriais, sem nenhum papel relevante nas discussões que abarcam a sociedade.

Quase sem função na vida democrática atual, servem apenas para “registros” de candidaturas e balcão para negociações pouco transparentes, entre conchavos e coligações, onde o tempo gratuito na mídia vale trocas inconfessáveis, num sistema eleitoral esquizofrênico. O quadro é agravado por um sistema eleitoral ultrapassado, ineficiente e confuso que poucos compreendem, que favorece os aventureiros e oportunistas, e que privilegia os candidatos endinheirados – um dos estímulos à corrupção desenfreada. Um sistema que elege uns com os votos dos outros, e onde as disputas eleitorais são feitas internamente e não entre partidos…

A crise de representatividade dos partidos, que deságua na formação de uma classe política com baixa legitimidade e via de regra despreparada e, por isso mesmo, desacreditada, não é privilégio do Brasil. As principais democracias do mundo vivenciam problemas semelhantes. Nos EUA, o candidato Trump destroçou e atropelou o partido republicano. Na França, o candidato Macron, até bem pouco tempo desconhecido, vencerá as eleições presidenciais praticamente sem um partido, fulminando as legendas tradicionais. Exemplos não faltam.

O mundo, nas últimas décadas, sofreu transformações inimagináveis com o extraordinário avanço das tecnologias, especialmente as da informação. As redes sociais deram aos cidadãos comuns um poder comunicativo jamais visto pela humanidade! Hoje, as notícias e opiniões circulam o mundo em quantidades imensuráveis, às margens dos governos e de quaisquer controles. As ferramentas tradicionais de comunicação de massa – TVs, jornais e rádios – e as grandes redes por elas formadas, já não dominam as informações, que brotam aqui e acolá por intermédio de aparelhos celulares individuais, com postagens instantâneas que viralizam no mundo virtual e atingem milhões de usuários em questão de horas.

Todas essas mudanças trouxeram um sentimento de instantaneidade e de urgência, onde imperam o simplismo e o imediatismo! Tudo muito diferente das estruturas obsoletas da política, como a irritante burocracia e demora das ações administrativas dos governos, a morosidade da justiça e dos processos, a lentidão dos legislativos que perdem tempo demasiado em discussões sem fim. Há, indubitavelmente, um grande mal-estar entre os cidadãos e como são conduzidas as questões públicas e políticas.

Outro agravante foi a diluição do poder dos Estados, atingidos quase de morte pela globalização tecnológica e financeira. A dependência crescente de um sistema econômico “quase único” de dimensões planetárias, reduziu drasticamente o poder e soberania dos países, e os seus governos têm espaços cada vez mais restritos de ação. Consequentemente, a classe política dirigente, e os poderes que integram (executivo, legislativo e judiciário), perdem capacidade operativa. Assim, a política é despida, em grande parte, das possibilidades transformadoras que a alimentam, capitulando-se aos receituários mundiais, padronizados e ditados pelo capital globalizado e pelas regras de comércio mundial, pelos organismos supranacionais, por grandes corporações internacionais, e também pelos vilões, o terrorismo, as variadas formas de tráfico, crime organizado etc.

Enquanto a política movimenta-se no ambiente local e busca empolgar mentes e corações para propostas e plataformas renovadoras e de mudança, o poder foge-lhe das mãos, pulverizando-se entre vários atores globais. A capacidade realizadora da política está muito aquém das expectativas que ela pretende passar aos cidadãos. O resultado óbvio é a desilusão, a decepção, que logo vira descrença e revolta. A política tradicional precisa reinventar-se! O atual modelo foi vencido pelo tempo e pela evolução instrumental da civilização. É inconcebível crer que este novo mundo que nos cerca possa ser domado por num modelo político concebido no tempo da “capa e da espada”, e que muito pouco mudou neste período. A verdade é que enquanto os mais variados setores e segmentos da sociedade se apropriaram dos avanços civilizatórios e dos seus frutos, a política manteve-se inerte, estática, ao ponto do mesmo formato político de um século atrás ainda ser as nossas referências principais…

O Brasil assiste atônito a uma avalanche de episódios negativos e desmoralizantes que ferem de morte a classe política e a vida pública como um todo. O sistema ruiu, emperrou, não funciona mais. E revelou-se um sistema produtor de uma classe dirigente desacreditada, com baixíssima legitimidade e de qualidade duvidosa, que não está preparada para conduzir o país e reformar outras áreas e setores. O caminho para uma mudança real jamais será ofertar mais do mesmo! Urge dar um fim ao que já acabou! Não há que falar em reformas paliativas ou remendos temporários e temerários se a base sobre a qual elas seriam implantadas não existe mais.

Ousadia e uma certa dose de radicalismo são necessárias neste momento. Ao invés de uma reforma política engendrada no calor da crise para maquiar ou tentar ocultar falhas e erros, mitigando os prejuízos causados pelos escândalos e a ineficiência pública generalizada, necessitamos ir mais longe. Avançar e simplificar.  Porque não extinguir todos os atuais partidos políticos e seus respectivos fundos e adotar a eleição majoritária para todos os cargos? Teríamos candidatos independentes e os mais votados seriam eleitos. Tudo muito simples e objetivo. Depois, legitimados pelo voto popular e por um pleito menos viciado e mais transparente, a nova classe dirigente discutiria qual seria o modelo partidário e eleitoral futuro, dando início a um novo momento. Já seria um bom passo na tarefa de reconstruir nossas estruturas políticas.

Antônio Carlos Andrada
Presidente da AMM
Advogado e professor universitário

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BOLSONARO CONDENADO

Nesta quinta-feira (11), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria, condenar os oito réus do Núcleo 1 da ação penal 2668, a trama golpista. A AP 2668 tem como réus os oito integrantes do Núcleo 1 da tentativa de golpe, ou “Núcleo Crucial”, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR): o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF; o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (réu-colaborador); o ex-presidente da República Jair Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. A acusação envolveu os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de E...

VIGILÂNCIA SANITÁRIA INTENSIFICA FISCALIZAÇÕES PARA PREVENIR O COMÉRCIO DE BEBIDAS IRREGULARES

A Vigilância Sanitária de Varginha está realizando uma ação intensiva de fiscalização em distribuidoras e mercados da cidade para prevenir a comercialização de bebidas adulteradas e irregulares. Até o momento, foram apreendidas bebidas com prazo de validade vencido e sem procedência, mas nenhum caso de bebida falsificada ou adulterada foi identificado no município. Cinco equipes da VISA estão vistoriando 40 estabelecimentos, com foco em bebidas destiladas como cachaças, vodcas, whiskies e gins. A ação faz parte do trabalho preventivo da Secretaria Municipal de Saúde para proteger o consumidor e garantir produtos seguros. Dica importante: Antes de comprar, verifique o lacre e o rótulo, desconfie de preços muito baixos e, em caso de dúvida, entre em contato com o fabricante pelo SAC informado na embalagem. 📞 Denuncie bebidas suspeitas! Vigilância Sanitária de Varginha Telefone: (35) 3690-2204 Site: visavarginha.com.br/index.php/denuncias/

DECOLONIZAR A FILOSOFIA

Sinopse: "Política de Descontinuidade: Ética e Subversão" é uma obra provocativa que mergulha nas complexidades éticas e políticas da sociedade contemporânea. Escrito com clareza e profundidade, o livro lança luz sobre as dinâmicas de poder que moldam nossas interações diárias, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento e à marginalização dos corpos designados como dissidentes. Com o Prefácio de Adilson Moreira, a obra Políticas de descontinuidade: ética e subversão tem como propósito compreender a dinâmica das estruturas discriminatórias e seu apreço péla retroalimentação do poder. Deste modo, propor, por meio de uma ética da diferença, da solidariedade e antidiscriminatória, a corrosão desses sistemas de precarização e aniquilamento. O autor, Thiago Teixeira, explora como conceitos como racismo e ciseterobrutalidade reforçam uma hierarquia injusta entre os indivíduos, perpetuando fronteiras entre vida e morte e reforçando normas sociais que marginalizam e oprimem. ...