Pular para o conteúdo principal

SEGURANÇA PÚBLICA CIDADÃ É CAMINHO PARA COMBATER HOMICÍDIO DE JOVENS NEGROS E POBRES

Comissão Especial quer debater propostas para plano de enfrentamento da violência contra população periférica 

Ana Paula Oliveira, moradora de Betim, perdeu o filho de 14 anos em um episódio de violência policial. O adolescente fazia reparos em um veículo quando foi baleado. 

Os agentes, que segundo ela teriam confundido a ferramenta de trabalho com um revólver, ainda não foram punidos: “meu filho era negro e morador de favela, por isso acharam que ele era um bandido”. 

O relato emocionado ocorreu em audiência pública realizada no último dia 29, pela Comissão Especial criada na Câmara BH para tratar do problema dos homicídios da juventude negra e pobre. 

Requerida pelo vereador Arnaldo Godoy (PT), a reunião tratou dos resultados da CPI instalada na Câmara de Deputados para debater o tema e abordou ainda perspectivas de inovação na legislação e nas políticas públicas municipais para garantir mais segurança para a população jovem e periférica.

Para Áurea Carolina (Psol), embora a gestão das funções de polícia seja responsabilidade da União e dos Estados, é necessário que o parlamento e a administração municipal articulem esforços para prevenir e coibir a violência em âmbito local. 

No entendimento da vereadora, no entanto, é necessário que essas políticas incorporem a perspectiva de uma segurança pública cidadã e garantidora de direitos.

CPI da Câmara dos Deputados
Na mesma perspectiva, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), que presidiu na Câmara dos Deputados a CPI da Violência Contra Jovens Negros, defendeu a ampliação da participação dos municípios na definição dos rumos das políticas de segurança.


O relatório final da CPI inclui a proposição de sete projetos de lei e cinco emendas à Constituição, todos eles voltados combater o extermínio das juventudes negras. 

No entendimento do deputado, uma ação importante seria a criação de um Plano Municipal de Segurança que inclua diretrizes para a redução da violência contra a população negra e periférica.

A proposta foi apoiada por Áurea Carolina, relatora da Comissão Especial de Estudos que trata do tema na Câmara de BH. Segundo a vereadora, a expectativa é que os trabalhos futuros do colegiado incluam a realização de debates com a sociedade civil e o poder público para propor as diretrizes de um plano do tipo em nível local.

Políticas municipais
Representando a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial, a gestora Márcia Alves destacou que PBH planeja desenvolver projetos focados na prevenção à violência em territórios vulneráveis. 

Três diretrizes foram apresentadas como norte dos trabalhos: prevenção à letalidade juvenil, a criação do programa Territórios de Prevenção, a ser desenvolvido em parceria com as escolas, além de ações de prevenção à violência junto à Guarda Municipal, que vão incluir formações para o incentivo à atuação cidadã de agentes da corporação.

Luta anti-racista
A experiência de Ana Paula Oliveira, que perdeu um filho adolescente por força da violência policial, não é um caso isolado no Brasil. Segundo dados divulgados pelo Senado Federal, cerca de 23 mil jovens negros são assassinados por ano no país. 


Entre 2002 e 2012, a violência letal contra essa faixa da população cresceu mais de 32%, enquanto o percentual diminuiu entre os jovens brancos. Hoje, para cada jovem branco assassinado, 2,7 negros são vítimas de homicídio no país.

O enfrentamento da situação, segundo o professor Juarez Dayrell, que coordena o Observatório das Juventudes da UFMG, demanda ações concretas de enfrentamento ao racismo. 

De acordo com ele, a violência contra as juventudes negras extrapola a dimensão física: “há denegação do direito à escola, acesso escasso à alimentação, moradia, lazer e cultura”, afirmou o professor, destacando que essa situação contribui para potencializar ainda mais a vulnerabilidade à violência.

Ainda segundo ele, “pensar soluções para o genocídio negro exige rever as bases que fundam a desigualdade no país”.

Para a ativista e educadora Benilda Brito, os números da violência no país estão associados a um movimento de criminalização da juventude negra. 

Segundo ela, a discriminação racial contribui para desumanizar os afrodescendentes, que deixam de ser tratados como seres humanos à semelhança de seus concidadãos, processo que naturaliza a negação de direitos e situações de violência e injustiça. 

Ponto de vista semelhante foi defendido por Larissa Borges, subsecretária de Política para Mulheres em Minas Gerais, que destacou que os homicídios de jovens prejudicam a construção de um novo país: “matar juventude negra é matar a nação e o futuro do Brasil”, avaliou a gestora. 

Os trabalhos da Comissão Especial de Estudo continuam em andamento da Câmara de BH. Entre as ações previstas, estão a realização de dois seminários: um para debater políticas públicas para a juventude e outra para tratar do tema da segurança pública cidadã. As datas ainda serão definidas pelo colegiado.

da assessoria CMBH

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

VIGILÂNCIA SANITÁRIA INTENSIFICA FISCALIZAÇÕES PARA PREVENIR O COMÉRCIO DE BEBIDAS IRREGULARES

A Vigilância Sanitária de Varginha está realizando uma ação intensiva de fiscalização em distribuidoras e mercados da cidade para prevenir a comercialização de bebidas adulteradas e irregulares. Até o momento, foram apreendidas bebidas com prazo de validade vencido e sem procedência, mas nenhum caso de bebida falsificada ou adulterada foi identificado no município. Cinco equipes da VISA estão vistoriando 40 estabelecimentos, com foco em bebidas destiladas como cachaças, vodcas, whiskies e gins. A ação faz parte do trabalho preventivo da Secretaria Municipal de Saúde para proteger o consumidor e garantir produtos seguros. Dica importante: Antes de comprar, verifique o lacre e o rótulo, desconfie de preços muito baixos e, em caso de dúvida, entre em contato com o fabricante pelo SAC informado na embalagem. 📞 Denuncie bebidas suspeitas! Vigilância Sanitária de Varginha Telefone: (35) 3690-2204 Site: visavarginha.com.br/index.php/denuncias/

BOLSONARO CONDENADO

Nesta quinta-feira (11), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria, condenar os oito réus do Núcleo 1 da ação penal 2668, a trama golpista. A AP 2668 tem como réus os oito integrantes do Núcleo 1 da tentativa de golpe, ou “Núcleo Crucial”, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR): o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF; o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (réu-colaborador); o ex-presidente da República Jair Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. A acusação envolveu os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de E...

DECOLONIZAR A FILOSOFIA

Sinopse: "Política de Descontinuidade: Ética e Subversão" é uma obra provocativa que mergulha nas complexidades éticas e políticas da sociedade contemporânea. Escrito com clareza e profundidade, o livro lança luz sobre as dinâmicas de poder que moldam nossas interações diárias, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento e à marginalização dos corpos designados como dissidentes. Com o Prefácio de Adilson Moreira, a obra Políticas de descontinuidade: ética e subversão tem como propósito compreender a dinâmica das estruturas discriminatórias e seu apreço péla retroalimentação do poder. Deste modo, propor, por meio de uma ética da diferença, da solidariedade e antidiscriminatória, a corrosão desses sistemas de precarização e aniquilamento. O autor, Thiago Teixeira, explora como conceitos como racismo e ciseterobrutalidade reforçam uma hierarquia injusta entre os indivíduos, perpetuando fronteiras entre vida e morte e reforçando normas sociais que marginalizam e oprimem. ...