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OS DESENCONTROS DO PREFEITO

Da esperança depositada em uma votação histórica, a polêmicas, embates com funcionalismo público e uma administração que ainda não encontrou a sua marca própria

Sem adversários com grande densidade eleitoral, uma forte ausência às urnas motivada pela crescente descrença do eleitorado brasileiro na política e carregando uma forte marca consolidada na cidade de seu sobrenome, o médico José Cherem não somente ganhou a eleição para prefeito de Lavras, no Sul de Minas, como também surpreendeu pela votação histórica no pleito de 2016.

O prefeito eleito de Lavras nas eleições de 2016, obteve 38.057 (78,12%), sendo a maior vitória da história do município. 

Após um período de turbulências no comando da prefeitura local, como também diversas mudanças na cena política local, com o estremecimento das relações entre grandes caciques do município, a votação de Cherem demonstrou a disposição de uma parcela da sociedade lavrense em depositar a confiança e a esperança em um nome novo e que era totalmente de fora dos holofotes da chamada "velha política".

Mas contrariando as expectativas que sempre rondam o primeiro ano de mandato, quando o chefe do Executivo vitorioso tem uma verdadeira "lua de mel" com o eleitorado, ainda mais no caso de José Cherem, com uma eleição tão vitoriosa, em Lavras, a situação foi totalmente inversa.

Os desencontros e polêmicas do Governo Cherem, já em seu primeiro ano, surpreendeu até mesmo os seus opositores. A "lua de mel" fugiu da regra e o prefeito seguiu o ano acumulando forte desgaste, somado a decisões contraditórias e opostas as promessas da campanha vitoriosa.

Logo no início do mandato, o Governo Cherem seguiu a linha da gestão que acabou e decretou calamidade financeira no município. Neste momento, os servidores públicos municipais permaneciam sem receber o salário atrasado de dezembro e os contratados da administração que saiu estavam sem receber seu acerto. 

Decretada calamidade financeira, o prefeito José Cherem jogou nas mãos das recém-chegadas, novas e antigas figuras do Legislativo local, a incumbência de dar-lhe amplos poderes por meio de uma lei delegada. 

Com o mote de que a medida seria necessária para empreender uma verdadeira reforma administrativa na estrutura da prefeitura municipal, a lei delegada que ascendeu na mesa do Executivo local sob a autorização de 13 dos 17 vereadores da cidade, se mostrou um verdadeiro "trem da alegria".

Pela Lei Delegada 004 de 31 de janeiro, publicada no Diário Oficial do Município no dia 2 de fevereiro, subiu o número de cargos de assessorias e gerências na atual administração. A máquina da prefeitura passou a contar também com cargos de assessoria de níveis 7, 8, 9 e 10, cujos salários partiam de R$3.200 a R$5.000. 

Pela lei delegada de José Cherem foram ampliadas para 73 os cargos de assessoria, indo dos níveis 1 ao 10. Na Lei Complementar de 2014, os cobiçados cargos de gerente somavam 18, com remuneração de R$4.452. Apesar de na lei delegada do atual prefeito a função ter sofrido uma redução mínima nos vencimentos, passando para R$4.000, o número destes cargos subiu para 20.

No gabinete, além do cargo de Chefe de Gabinete, cujo salário é de R$2.700, o prefeito José Cherem criou os cargos de Assessor de Governo, com salário de R$5.000 e o cargo de Assessor Institucional com um 'supersalário' de R$7.900. Ao todo, o Gabinete do prefeito passou a ter 3 cargos de confiança. 

A Assessoria de Governo conta com um vaga, já a Assessoria Institucional possui duas vagas, sendo que o cargo de Assessor Institucional passou a ser o segundo maior salário de função comissionada do município, perdendo apenas para o de procurador-geral, cujo salário é de R$11.500. 

No desenrolar do ano, uma série de medidas administrativas, somado aos problemas corriqueiros da cidade que não estavam tomando a devida atenção por parte do Executivo local, a imagem do prefeito e de sua administração foi gradativamente somando um forte desgaste que culminou com desastrosa trombada do prefeito com os servidores públicos municipais.

Ao enviar dois projetos polêmicos que prejudicavam substancialmente a carreira e os benefícios do funcionalismo municipal, somado a relutância ao diálogo e a total falta de habilidade e articulação política, a crise ultrapassou o Palácio Perimetral e caiu no colo dos vereadores municipais, que se viam apertados entre seguir a votação de um projeto do Governo Cherem e trair os servidores municipais em seus direitos adquiridos.

Quanto mais o Palácio Perimetral insistia em não recuar, maior adesão tinha o movimento do funcionalismo, culminando em uma greve da categoria que entrou para a história da cidade, ganhando o apoio oficial de outras entidades sindicais e civis não somente de Lavras, mas também do Estado e marcando jargões como "o projeto vai ser aprovado sim, a Câmara não é casinha de boneca", que renderam assuntos em rodas de conversas pela cidade.

Durante o período de forte embate, entraram e saíram personagens, alguns puderam escrever uma página favorável na sua biografia da política local e poderão colher frutos desta postura, outros, que em circunstâncias passadas colheram bons frutos de oposições feitas perante a administração passada, rapidamente tiveram suas biografias colocadas em xeque durante a greve e saíram com arranhões de futuros pleitos eleitorais. 

Em um momento em que o país passou e passa por uma severa crise econômica, passou por crises institucionais e ainda sente o reflexo da crise moral que corrói a política nacional, o cidadão e a economia sofrem com um cenário de baixas estimativas.

Após uma vitória acachapante, o prefeito em seu primeiro ano não conseguiu imprimir uma marca em sua administração. Em muitas conversas pelo município, eleitores ressaltam que esperavam uma "levantada na moral da cidade".

Somado a isso, o secretariado do Governo Cherem, embora conte com um alguns nomes até com bom trânsito em diversos setores da cidade e outros nomes com gabarito técnico e bom currículo acadêmico, também não se destoa muito atual administração. O secretariado em Lavras sempre foi um termômetro e um influenciador no desempenho das administrações passadas.

Talvez um dos grandes motivos também do desgaste da atual administração está justamente nas eleições 2016, em fatores que ficaram "fora de cena" dos debates pós-eleição, ofuscados pela expressiva votação obtida.

Em matéria publicada no dia 4 de outubro de 2016, o Blog O Corvo-Veloz detalhou a descrença e a ausência do eleitorado lavrense nas urnas. Somado ao seu eleitorado, que naturalmente com o tempo tem a tendência de perder, existe um outro eleitorado que depositou uma parcela de seus votos ou nos outros projetos políticos apresentados para a prefeitura em 2016, ou simplesmente ignorou todos eles, optando pela ausência das urnas ou pelos votos brancos e nulos.

Nas eleições municipais de 2012, o eleitorado de Lavras somava 67.931 eleitores. Desse número, 56.634 ( 83,37 %) compareceram às urnas. 11.297 eleitores deixaram de votar. Já de voto nulos, foram contabilizados 3.515 9 (6,207%) e votos em branco somaram 1.980 (3,496%).

Somando as abstenções, votos nulos e brancos, totalizam 16.792. Esse número corresponde a mais da metade dos votos obtidos pelo candidato a prefeito eleito em 2012 (23.973 votos). O segundo colocado naquele pleito obteve 19.376 votos e o terceiro colocado somou 7.790 votos.

Outro dado curioso das eleições municipais de 2012, é que somados, os votos do segundo e terceiro colocado (27.166 votos no total) ultrapassou o número de votos obtidos pelo candidato que foi eleito nas urnas da cidade.

Nas eleições municipais de 2016, a descrença dos lavrenses com o atual sistema político foi ainda maior. Contando, naquele ano, com 71.345 eleitores, somente 58.351 (81,79%) compareceram nas 194 sessões eleitorais do município.

O prefeito eleito de Lavras nas eleições de 2016, obteve 38.057 (78,12%), sendo a maior vitória da história do município. O segundo colocado, obteve 7.489 (15,37%), o terceiro colocado 1.651 (3,39%) e o quarto colocado 1.521 (3,12%).

12.994 (18,21%) eleitores se abstiveram de votar. Na eleição para prefeito, votos brancos somaram 3.133 (5,37%) e nulos foram 6.500 (11,14%).

Com quatro candidatos a prefeito, de acordo com esses números, votos brancos e nulos mais que dobraram nas eleições deste ano, em relação ao cenário de 2012. Juntos, abstenções, votos brancos e nulos somaram 22.627.

Já as votações do segundo, terceiro e quarto colocado, juntas totalizam 10.661 votos. Esse número menos corresponde a mais da metade da soma total de abstenções, votos brancos e votos nulos.

Contabilizados a soma total de votos dos outros três candidatos a prefeito e mais a soma total de abstenções e votos nulos e brancos, o resultado (33.288 votos) pouco menor que a soma de votos obtida pelo candidato a prefeito eleito de Lavras.

Diante deste cenário, o prefeito José Cherem, ao qual nas eleições de 2018 recaíra grandes responsabilidades nas suas costas, tem o desafio de conseguir um norte que destaque a sua gestão, que até o momento, não conseguiu ainda se destoar da "velha política".

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