Sandra Goulart Almeida assina o termo de transmissão de cargo observada pelos professores Jaime Ramírez, Alessandro Moreira, novo vice-reitor, e Tomaz Aroldo da Mota Santos
Na cerimônia pública em que recebeu oficialmente do professor Jaime Ramírez o cargo de reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na noite desta quarta-feira, 21, a professora Sandra Goulart Almeida externou a crença de que o caráter público e diverso da universidade constitui a fonte de sua capacidade de prover respostas aos muitos desafios do tempo presente.
Segundo ela, o momento de transmissão de cargo sinaliza, por um lado, a continuidade sempre revigorada de um projeto de universidade e de país que outras gerações construíram, e, por outro, invoca justamente o pendor da UFMG para estar constantemente em busca da construção inovadora da transformação e da renovação.
Ao apresentar sua agenda de trabalho para os próximos quatro anos, ao lado do vice-reitor Alessandro Moreira, a quem deu posse na mesma solenidade, Sandra Goulart Almeida ressaltou a necessidade de questionar, a cada momento, quais aspectos de uma tradição, constituída de 90 anos de cuidadosa experimentação institucional, devem ser perenizados e quais devem ser revistos, no esforço de prospecção de um futuro imaginado.
A nova reitora lembrou, por exemplo, que em quase cem anos de história da instituição, ela é apenas a terceira mulher a ocupar o posto máximo – precedida das professoras Vanessa Guimarães Pinto e Ana Lúcia Gazzola.
Sandra é a terceira mulher a assumir o cargo máximo da UFMG
“Esse fato nos mostra o quanto ainda temos de avançar com relação à igualdade de direitos em nosso país e no mundo, em especial no campo profissional e nos cargos de maior destaque”, observou, acrescentando o desejo de que a honra que hoje lhe é dada “sirva de modelo e exemplo a tantas mulheres jovens e adultas”.
Lembrou ainda que o ambiente universitário é um espaço público de necessária convivência sempre respeitosa com a diferença e a multiplicidade, “que é seu maior valor”.
Assim, citou a necessidade de consolidar a política de direitos humanos e de ações afirmativas, criando condições para o estabelecimento efetivo de uma cultura de cidadania na vida cotidiana da comunidade universitária, “promovendo cada vez mais inclusão e fortalecendo a acessibilidade, a sustentabilidade, a permanência, a saúde mental e a qualidade de vida em nossos campi”.
Sandra Goulart Almeida afirmou que o norte das instituições públicas e de suas entidades representativas deve ser a luta “por um projeto de autonomia universitária em todos os aspectos – orçamentário, pedagógico, de liberdade de pensamento, de pesquisa, de crítica, de expressão, de laicidade – de dimensão nacional que garanta os recursos financeiros e os instrumentos adequados para promover o pleno desenvolvimento do sistema federal de ensino superior em patamares crescentes de qualidade”.
Gesto simbólico
Entre as centenas de pessoas que participaram da solenidade, no auditório e no saguão da Reitoria, a presença de 25 reitores e vice-reitores de instituições brasileiras representou solidariedade à UFMG.
“Todos nós entendemos e agradecemos o gesto simbólico de apoio”, disse a professora Ana Lúcia Gazzola, convidada a saudar os novos dirigentes.
Reitora no período 2002-2006, Ana Lúcia afirmou que hoje, mais do que nunca, a universidade pública se faz necessária, não apenas por produzir conhecimento, formar os melhores recursos humanos do país, criar condições para a mobilidade social e prestar serviços à sociedade, mas por ser “a única instituição que pode ter, sem a ambição de ocupar lugares outros de poder nas engrenagens sociais, um papel crítico e propositivo”, o que a torna um inestimável patrimônio para a construção de um futuro melhor para o país. Mas alertou: essa, que é a força e a essência da universidade pública, também “expõe a sordidez dos jogos de poder e ameaça projetos individuais e de grupos que contrariam e comprometem o interesse público”.
Ana Lúcia disse estar segura de que a coragem destemida com que a universidade debate as grandes questões sociais e se posiciona sempre com clareza em relação aos eventos do cotidiano “é a principal razão que leva às recentes ações contra as universidades federais do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Santa Catarina e de Minas Gerais”, com o claro intuito de desmoralizar a universidade pública federal aos olhos da sociedade brasileira. “Nenhuma outra razão poderia explicar a truculência, a violação dos direitos civis de nossos dirigentes, as acusações infundadas e desproporcionais, as medidas coercitivas descabidas e o espetáculo midiático”, enumerou.
Para a professora, nenhuma instituição do país tem o status ético da universidade pública federal brasileira, que é o lugar da pluralidade, das múltiplas visões, que se cotejam democraticamente, que devem ser examinadas e totalmente expostas e debatidas.
Despedida
Ao deixar o cargo que ocupou desde 2014, o reitor Jaime Ramírez falou do tempo, “essa matéria sem medida que escapa entre os dedos” e que hoje marca o término de um ciclo, para que outro se inicie. Emocionado, relembrou algumas fontes de inspiração para o seu trabalho, como o verde do campus a cada manhã, exposições, congressos, visitas às unidades, seminários, concertos e recitais na Escola de Música e “a solidariedade incansável da equipe, face a demandas, por vezes impossíveis”.
Ramírez expressou o orgulho que sente “como professor desta Casa” e afirmou que todas essas imagens e recordações agora se agruparão no inesquecível álbum do seu coração. “Posso afirmar, com a consciência tranquila e o senso do dever cumprido, que a professora Sandra e eu entregamos o melhor do nosso intelecto e tempo para o avanço de uma UFMG contemporânea”, afirmou.
Disse ainda que a excelência e a relevância que aqui se cultivam, em todos os níveis, não são apenas obrigação, são o melhor presente que uma universidade pode dar ao estado e ao país que a abrigam. "O sinônimo contemporâneo de relevância chama-se inclusão", disse. E completou: “temos a segurança de que a UFMG deu passos certos e seguros para acolher uma diversidade de alunos cada vez mais representativa da nossa sociedade”.
Após o encerramento da solenidade, alunos e egressos da UFMG entregaram aos componentes da mesa carta na qual demostram preocupação com os rumos da política de ações afirmativas, “que precisa ser fortalecida” para garantir a permanência de estudantes cotistas.
Além do reitor Jaime Ramírez (gestão 2014-2018) e dos novos dirigentes da UFMG, compuseram a mesa de honra o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac, o secretário de Planejamento e Gestão, Helvécio Magalhães, representando o governador Fernando Pimentel, o secretário de Cultura, Angelo Oswaldo, e os reitores da UFMG Tomaz Aroldo da Mota Santos (gestão 1994-1998), Francisco César de Sá Barreto (1998-2002), Ana Lúcia Gazzola (2002-2006), Ronaldo Pena (2006-2010) e Clélio Campolina (2010-2014).
A cerimônia também foi marcada pela apresentação da equipe de pró-reitores, diretores e assessores que compõem o novo Reitorado.
com assessoria
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