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A ESCALADA DO CUSTO DA CESTA BÁSICA E O SACRIFÍCIO DA RENDA DOS CONSUMIDORES


Em outubro de 2021 a população das cidades de Cataguases, Pouso Alegre, São Lourenço, Três Pontas e Varginha pagavam, em média, R$575,12 em uma cesta básica. Meses depois, em maio de 2022, este valor subiu R$66,89, passando a custar R$642,01 correspondendo a uma elevação de 11,63%. Ao passo que a renda do consumidor, medida pelo salário mínimo, subiu 10,18% em janeiro deste ano. Ou seja, a alta do valor da cesta básica já foi maior que a correção salarial básica. O que isso quer dizer? Confira a análise do Departamento de Pesquisa do Grupo Unis em parceria com o GEESUL.

Cataguases, Pouso Alegre, São Lourenço, Três Pontas e Varginha são as cidades onde ocorrem as coletas de preços do ICB – Índice de Cesta Básica, coordenado pelo professor Pedro Portugal. A coleta já é realizada desde 2018 em Varginha, em 2020 iniciou em Três Pontas e a partir de 2021 foi implantada nas demais cidades que possuem unidades de ensino superior do Grupo Unis. A metodologia foi inspirada no DIEESE e acompanha mensalmente a evolução dos preços de 13 produtos componentes da cesta básica nacional de alimentos comuns na vida dos brasileiros: carne bovina, leite, feijão, arroz, farinha de trigo, batata, legumes (tomate), pão francês, café em pó, frutas (banana), açúcar, óleo de soja e manteiga. Os resultados referem-se ao necessário para a alimentação saudável de uma pessoa adulta.

Após alguns meses de coleta, foi possível identificar alguns padrões sobre o custo dos alimentos nestas cidades e como os preços se comportaram no tempo. A cidade de São Lourenço é a que apresenta o maior valor, chegando a registrar como custo da cesta R$698,42 no mês de maio de 2022, valor superior ao de Belo Horizonte no mesmo período (R$653,12, segundo DIEESE), um salto de 16,69% de outubro de 2021 para maio deste ano.

A cidade de Três Pontas aparece em segundo lugar, com o maior aumento, 14,32%, Pouso Alegre em terceiro lugar com 11,67% e Cataguases em quarto lugar com 8,12% de aumento no período. Já Varginha é a que apresenta, em média, os menores valores, R$601,18 em maio de 2022, tendo um crescimento de 7,23% no mesmo período citado acima.

Quanto às possíveis causas destes aumentos de preços, o professor Pedro salienta que referem-se principalmente ao comportamento da produção, oferta e disponibilidade interna desses produtos. Fatores climáticos como estiagem e geadas em algumas regiões e excesso de chuvas em outras impactaram o volume produzido. Soma-se a isso, os altos custos de produção e a desvalorização cambial, bem como o conflito na Ucrânia que influenciaram direta e indiretamente o comportamento dos preços.

E o que isso significa? Para o pesquisador do Dep. Pesquisa do Unis e fundador do Geesul, Guilherme Vivaldi, o indicador reflete o custo de vida nas cidades, tendo em vista que a alimentação é um dos principais gastos das famílias. A média de aumento no período estudado foi de 11,19%, que representa R$135,62 do salário mínimo, valor este que poderia estar sendo utilizado com outras despesas como o gás de cozinha e as contas de água e energia. Com os reajustes dos salários não acompanhando a alta dos preços, as famílias acabam optando pelo endividamento ou pela redução na qualidade de vida.

Aprofundando mais a análise, foram coletados dados do Rendimento Médio nas cidades, segundo dados do IMRS (2019), e feita sua proporção em relação ao salário mínimo atual como uma aproximação do que seria o salário médio dos empregados com carteira assinada na cidade. Com isso, é possível verificar o peso que a cesta básica tem sobre a renda das famílias.

Através dos dados coletados é possível verificar que uma possível hipótese de preços mais altos em cidades com maiores salários, é descartada. São Lourenço possui a segunda menor renda média entre as cidades, e apresenta os maiores valores da cesta básica. Os trabalhadores formais que moram por lá, usam cerca de ⅓ da renda só com a alimentação básica. Em outra direção, temos Pouso Alegre, que apresenta menor sacrifício da renda média das famílias com alimentação básica, apenas 21,01%. Importante destacar que aqui consideramos os rendimentos médios de empregados formais, que geralmente são mais altos. Trabalhadores informais e com rendimento baixo são ainda mais impactados por essa realidade.

Esta informação não é importante somente para as famílias, mas também para os empresários. Empreendedores, de outros setores além do alimentício, de Pouso Alegre e Varginha, têm mais possibilidades de venda de seus produtos, se comparado aos de São Lourenço e Três Pontas, vendo que naqueles locais sobra mais renda do consumidor para outros tipos de produtos.

Uma hipótese para essa divergência de preços entre as cidades pode ser a competitividade. As cidades com maiores valores de cesta básica são as que apresentam menor presença de grandes redes de atacarejos. Quanto maior a competitividade dentro do município, maior a pressão sobre os preços, que tendem a cair, como no caso de Varginha e Pouso Alegre, que abrigam grandes redes de atacarejos, que além da “competição” pelo consumidor, possuem maior poder de barganha com fornecedores, podendo assim praticar preços mais atrativos.

O que podemos esperar do futuro?
Falar de futuro em Economia é muito complexo, por ser uma ciência social, existem muitos fatores que influenciam as possíveis previsões a serem realizadas. Porém, podemos elencar fatores que tendem a deixar este quadro ainda sem melhorias nos próximos meses.

O primeiro deles é de origem mundial. A guerra entre Rússia e Ucrânia já afetou a distribuição e os preços mundiais de petróleo, além de outros tipos de insumos, e esta situação não tem prazo para se resolver. Assim, combustíveis mais caros resultam em toda cadeia produtiva com mais custos e repasses aos consumidores. O segundo fator é de ordem política, estamos em um ano eleitoral, e nenhuma manobra política arriscada ocorre neste período, nenhum candidato quer se comprometer com temas sensíveis, como a questão tributária, então, isso só em 2023. Soma-se a isso a promessas de campanha, que podem estimular ou assustar investidores, tanto em âmbito nacional, quanto estadual.

O terceiro ponto é sobre as safras e intempéries climáticas. Mudanças bruscas no clima, mudam o panorama da produção agrícola e podem reduzir a oferta, e aumentar os preços. Veja o caso do café, que tinha saca a R$657,00 em janeiro de 2021, e agora devido aos problemas climáticos, chegou a R$1.305,00 (CCCMG, 2022).

O quarto e último, é o fator competitivo. Novas redes de supermercados em expansão podem aguardar os outros fatores citados acima para tomar suas decisões de investimentos, mais ainda quanto ao fator político. Muitos empreendimentos buscam cidades que possam ofertar subsídios para sua instalação, mas, em ano de eleição, tudo deve ser feito com cuidado, e esse intento pode não se concretizar.

Diante disso, não há otimismo quanto a fortes reduções dos preços dos alimentos nos próximos meses, o cenário deve ser acompanhado mês após mês, para tomadas de decisões mais seguras.

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