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GOVERNO FEDERAL DOOU PARA RIBEIRÃO VERMELHO VEÍCULO USADO POR FISCAIS DA 'CHACINA DE UNAÍ'

Descoberta foi feita pelo Lavras Online; Prefeito de Ribeirão Vermelho destaca sentimento de tristeza pelo caso que chocou o país e o mundo
Motorista Ailton, ainda consciente, dirigiu com os fiscais dentro do veículo por vários quilômetros da fazenda de Mânica até próximo do Trevo Sete Placas na LMG 188, em Unaí, no Noroeste de Minas; Caso teve repercussão internacional e ficou marcado pela impunidade

Manhã de 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais do trabalho João Batista Soares, de 50 anos, e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, de 42, lotados em Belo Horizonte; o fiscal de Paracatu Nelson José da Silva, de 52, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira, de 51, faziam uma operação de fiscalização em Unaí, no noroeste de Minas Gerais. Ailton era servidor da extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA) e solicitou sua transferência para a Delegacia Regional do Trabalho (DRT-MG), hoje Superintendência Regional do Trabalho em Minas Gerais (SRT-MG).

A fiscalização foi considerada pela hoje Superintendência uma operação de rotina, embora houvesse muitas denúncias de exploração de trabalhadores na região de Unaí.

Na estrada rural distante 55 km de Unaí, próximo à fazenda dos Mânicas, família conhecida como os "Reis do Feijão", os três fiscais e o motorista foram vítimas de uma emboscada e friamente executados em um crime de mando. Dois atiradores e um motorista participaram da ação, que resultou na execução dos quatro funcionários públicos com tiros de calibre 38 na cabeça. Mesmo ferido, o motorista Aílton Pereira de Oliveira, chegou a dirigir a picape Ranger em que estava a equipe por cinco quilômetros até o Trevo Sete Placas em Unaí, quando encontrou um fazendeiro e pediu ajuda. Ele foi socorrido levado para um hospital em Brasília, cidade distante 166 km de Unaí, mas morreu no dia seguinte.

Nesta quarta-feira, dia 23, a página Lavras Online, produzida pelo jornalista Silva Júnior, trouxe uma curiosidade sobre o paradeiro da Ford Ranger utilizada naquela fiscalização onde os servidores federais acabaram perdendo a vida. Anos após o crime e com a renovação de frota, o Governo Federal disponibilizou o veículo para doação, sendo recebido pelo município de Ribeirão Vermelho.

O veículo atualmente está em uso pelo Gabinete da Prefeitura de Ribeirão Vermelho. Embora com um passado triste, o veículo não possui nenhuma irregularidade e está em ótimo estado de conservação como patrimônio do município.

"Realmente a caminhonete tem um passado triste e curioso, mas em nosso município prezamos pela economia nos gastos públicos, o veículo foi fruto de uma doação e está sendo usada pelo gabinete, gerando uma economia para os cofres públicos pelo fato de não ser preciso a aquisição de outro veículo. Fico muito triste pela falta de justiça em nosso país", destacou o prefeito Welder Marcelo Pereira.

Impunidade
Inicialmente sentenciados a quase quatro séculos por morte de fiscais, mentores estão livres.

Em 18 anos, aquela que se tornou conhecida internacionalmente como a Chacina de Unaí, resultou em condenações que somam 481 anos, nove meses e 24 dias de prisão para sete dos oito acusados, sendo que um deles morreu em 2013, sem nunca ter sido julgado.

No dia 27 de maio deste ano, o Tribunal do Júri Federal condenou o ex-prefeito de Unaí Antério Mânica a 64 anos de prisão como mandante do assassinato. Porém Mânica pode recorrer em liberdade da sentença.

Após mais de 18 anos da chacina, os três pistoleiros, condenados a penas que foram de 56 a 76 anos de prisão, já progrediram de regime: Erinaldo Vasconcelos, que participou do julgamento como testemunha da acusação, na condição de réu colaborador, encontra-se atualmente cumprindo a pena em regime aberto, com tornozeleira eletrônica; Rogério Allan e William Miranda, após soltos, voltaram a delinquir. O primeiro encontra-se foragido; o segundo teve a progressão de regime anulada e voltou para a prisão, para cumprir o restante da pena.

Os réus José Alberto de Castro, Hugo Pimenta e Norberto Mânica (condenados pelo Tribunal do Júri em novembro de 2015 a respectivamente, 96 anos, 10 meses e 15 dias de prisão; 47 anos, 3 meses e 27 dias de prisão; e 98 anos) aguardam o resultado dos recursos em liberdade. Em 2018, seus primeiros recursos pedindo anulação do júri foram negados pelo TRF1, que, no entanto, reduziu a pena imposta aos três para, respectivamente, 58 anos, 10 meses e 15 dias; 31 anos e 6 meses; e 65 anos, 7 meses e 15 dias. Os três condenados novamente recorreram dessa decisão e os apelos encontram-se atualmente no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Eleições 2004
A apuração das eleições do município de Unaí em 2044, em Minas Gerais, foram concluídas à 1h08. O candidato do PSDB, Antério Mânica, venceu com 72,37% dos votos válidos. Em segundo, ficou Geraldo Minas Brasil, do PTB, com 27,63%. Candidato e eleito, Antério estava preso em Belo Horizonte, acusado de ser um dos mandantes dos assassinatos dos fiscais do trabalho em janeiro deste ano. Antério e seu irmão, Norberto Mânica, foram denunciados pelo Ministério Público. No mesmo domingo da eleição, o então ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, disse que o candidato eleito poderia ser diplomado, mesmo preso. Se ele não pudesse comparecer à posse, o vice-prefeito da chapa assumiria o cargo até que ele possa ser empossado. "Se ele vai comparecer ou não, vai do depender do carcereiro", afirmou à época. Antério Mânica compareceu, tomou posse e governo. Nas eleições seguinte, se reelegeu.

Eleições 2022
Em 2022, mesmo ano em que teve novo julgamento, Antério Mânica gravou vídeos declarando apoiando a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, do PL, que foi derrotado nas urnas. Mânica, que era filiado ao PSDB, deixou o partido após a legenda se recusou a apoiar Bolsonaro. Já o senador Carlos Viana, do PL, que foi candidato ao Governo de Minas, recebeu doação de R$ 100 mil do empresário Celso Mânica para sua campanha. Celso é irmão de Antério Mânica.

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