segunda-feira, 20 de junho de 2011

Editorial - UM DIA A CASA SAI

Tenho ouvido falar sobre a reconstrução da Casa Pelé e antes que “periquito leve a fama”, achei por bem contar a verdadeira história de como tudo começou. Ouvi da Prefeitura, dizer que “engenheiros e técnicos da Prefeitura estiveram com a família Arantes do Nascimento – em Santos – para desenharem a Casa do Pelé através da memória de Dona Celeste, mãe do conterrâneo e Rei Pelé”.

Inverdade (pra não dizer mentira!): não foi essa administração que conseguiu o feito. Aliás, não foi administração nenhuma. O fato é que, depois de insistir com vários prefeitos e nenhum deles abraçar a causa, fui procurar por Marisa Sarrápio – jornalista e escritora tricordiana – que trabalhava na Associação Comercial e Industrial no ano de 2.006. Contato feito, todos os funcionários da ACITC se envolveram com o Projeto Pelé, em especial o então presidente Paulo Henrique Gonçalves (o Paulinho do Posto Hess; filho do Sr Oswaldo da padaria São Thomé). A idéia era a seguinte: como não existe registro fotográfico da casa onde Edson Arantes do Nascimento nasceu, propus à Associação Comercial patrocinar uma viagem à Santos, para conseguirmos através de depoimentos de dona Celeste, fazermos um resgate descritivo de como era a casa.

E lá fomos pelas curvas das estradas de Santos, aflitos e emocionados com a missão, eu, Paulinho e Débora Pimentel, arquiteta credenciada pela Associação Comercial à epoca. Chegando lá, surpresa: além de Dona Celeste, Maria Lúcia (irmã do Rei) e Danielle (filha de Maria Lúcia e advogada nas empresas Pelé), estava também presente Tio Jorge - irmão caçula de Celeste - que também é tricordiano, nasceu e morou naquela casa até seus 14 anos de idade.

No início foi um pouco difícil porque, afinal, era uma volta de sessenta anos na história! Mas como somos todos mineiros, a conversa foi aquecendo e as lembranças vindo à tona! Foram três horas e meia de uma boa prosa onde, entre uma lembrança e outra, rimos muito das histórias de Tio Jorge, choramos com as lembranças emocionantes dos dois e, enquanto isso, a arquiteta Débora silenciosamente soltava os traços e fazia surgir as primeiras imagens da Casa Pelé. Além da parte estrutural da casa, foram relembrados móveis, utensílios, cores, enfeites e histórias, numa tarde agradabilíssima e emocionante para todos nós.

De volta à terrinha, Débora – cheia das informações – fez surgir em uma planta baixa, a casa onde nasceu Pelé!  Projeto pronto, apresentamos ao "prefeito de plantão" naquele ano de 2.006 que de cara descartou a idéia por “não gostar do Pelé”. A Associação Comercial se empenhou e foi procurar empresas na cidade que poderiam investir na reconstrução da casa. Os empresários estavam com a visão curta e nada fizeram!

Projeto arquivado – mas nunca esquecido – apresentei-o novamente ao atual prefeito. Consegui convencê-lo a adquirir o terreno onde Pelé nasceu para reconstruirmos a réplica da casa. Ouvi de um cidadão (antes dele assumir uma secretaria nesta administração) que “iria reconstruir a casa sim, mas não naquele terreno, pois aquele terreno era contra mão. Vamos construir sim, mas em um local mais central, de fácil acesso”... Ora: se o único diferencial nosso é sermos berço do Atleta do Século, como mudar a casa de lugar? Seria o mesmo que tirar Jerusalém de lá e levar o local onde nasceu Jesus para o Vaticano – “mais central e de fácil acesso!”.

Eu disse uma frase ao prefeito e ele sabiamente tem usado-a, o que me deixa muito feliz: “estátuas, monumentos, museus... qualquer cidade do mundo pode construir pra homenagear Pelé. Mas a casa dele, no terreno onde ele nasceu, somente nós podemos ter”.  E assim foi (ainda bem que o surto do secretário não foi levado a sério!).

O atual prefeito abraçou a causa (afinal, na sua administração anterior ele havia perdido a oportunidade de fazer algo por Pelé. Essa era sua segunda e talvez última chance!). Pegou o projeto feito pela Débora Pimentel e passou ao então engenheiro da prefeitura, Gilmar Vilela. Gilmar aperfeiçoou o projeto e foi esse o que seria apresentado ao Rei (já me disseram que Karina Junqueira – arquiteta na prefeitura – também fez acréscimos ao projeto).

Ano passado, eu ainda funcionário da Prefeitura agendei o tão esperado encontro: prefeito de Três Corações com o tricordiano Pelé, apresentando um projeto viável, com verba do Ministério do Turismo e sem pedir nada ao Rei. Três de maio de 2.010 e lá estávamos em São Paulo. Pelé se emocionou com o projeto: ele nunca tinha visto como era a casa que havia nascido e aquele momento foi mágico. Tanto que ele disse que viria aqui naquele ano, no aniversário da cidade, lançar a pedra fundamental da casa. Seria um belo retorno, 27 anos após sua ultima vinda oficial, justamente no ano que ele completava 70 anos de idade!

Não conseguiram fazer a tal pedra, não avisaram para o Pelé nem pra família dele que o convite feito havia sido cancelado. Por um misto de vaidade, incompetência e desordem, perdemos a chance de comemorar em grande estilo os 70 anos do Edson, Dico, Pelé!  Não me deixaram fazer (por ciúmes ou sei lá o que) e não fizeram. Não suportei o descaso: entreguei meu cargo. Não estava ali pra ser enfeite nem muleta de ninguém: ou o projeto Pelé era tratado com seriedade, dignidade e grandeza, ou, então, eu pulava fora. Pulei!

Agora estão dizendo que a casa sai. Coincidência ou premeditado, está para sair em plena (e velada) campanha eleitoral. Já estão até dizendo que Pelé vem neste 23 de setembro ( ano passado disseram o mesmo!). Não acredito que ele venha: o Dico não gosta de ser usado para fins eleitoreiros! Mas...  Escrevi este texto para trazer luz à verdade e narrar parte de meus 17 anos de luta em prol do Pelé. Querem reescrever a história só pra ter o nome escrito em uma placa. Tenho dó! Mas nem me importo: não possuo o pecado da vaidade. Sei que se sair nesta administração, o que for relacionado a Pelé tem grande parte devido ao meu estado de “Peléjamento” de quase duas décadas.

Só gostaria de pedir que “os donos da placa e do poder” não se esqueçam de citar Paulinho Gonçalves e Giovanni Correa da Associação Comercial que DOARAM o projeto da casa para essa Prefeitura. E também da arquiteta Débora Pimentel, pois sem seus primeiros traços, nada disso estaria acontecendo!  Essa é a verdadeira história da Casa do Pelé. O resto é blá blá blá e jogada política!

Peléjando eu estava...
Peléjando continuo!

Fernando Ortiz

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