quarta-feira, 28 de setembro de 2016

OS SEGREDOS DA PRAEC

Transferências de servidores experientes, demissões e apadrinhamento. Como o órgão que sempre foi motivo de orgulho para a UFLA sofre com a ineficiência administrativa e afeta a comunidade estudantil

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC) é um dos órgãos mais importantes e 'sensíveis' da estrutura da Universidade Federal de Lavras (UFLA). 

Na reportagem especial de hoje, o Blog O Corvo-Veloz mostra como a mudança política na direção do órgão, com a troca de servidores experientes por novos apadrinhados tem afetado a vida dos estudantes, principalmente os moradores do alojamento estudantil, comprometendo o andamento das atividades regulares da pasta e até deixando estudantes sem acesso a refeições subsidiadas.

Tamanha importância da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis se dá também pela grandiosidade de recursos que a Universidade Federal de Lavras recebe somente para investimentos na assistência estudantil, ainda mais em um momento em que a instituição vive o aumento no número de estudantes em situação vulnerabilidade econômica.

Em 2015, a dotação orçamentária atualizada para a UFLA foi de R$352.109.020,00, dos quais somente R$295.335.131,00 foram empenhados pelo Ministério da Educação (MEC). Deste valor, R$5.369.346,00 foram repassados para a instituição investir na assistência ao estudante de ensino superior.

De um ano difícil como foi o de 2015, com fortes contingenciamentos, a Universidade Federal de Lavras saltou para o ano de 2016 com um bom orçamento, que atualizado está previsto em R$313.732.685,00. Deste valor, os recursos previstos pelo MEC para assistência estudantil pularam para R$5.917.809,00. Os números mostram um forte crescimento nos repasses para assistência estudantil na instituição neste ano.

Entre janeiro e agosto deste ano, o governo federal já empenhou R$ 258.076.288,00 da dotação orçamentária da instituição, sendo que para a assistência estudantil já foram empenhados R$4.178.332,13.

Esses valores foram repassados para a redação do Blog O Corvo-Veloz pela assessoria de imprensa do gabinete do ministro Mendonça Filho (DEM) na manhã desta segunda-feira, 26.

Responsável pelas políticas de assistência estudantil, moradia, alimentação, saúde, acessibilidade e esporte e lazer, a PRAEC mantém contato direto com a comunidade de estudantes e suas ações atingiram diretamente a vida deles.

Com as mudanças nas equipe de gestão ao final de cada processo eleitoral na UFLA, o órgão conseguiu manter a harmonia com o trabalho de servidores dedicados, muitos se esforçando além para garantir a qualidade da assistência estudantil.

Prova disso é que José Roberto Soares Scolforo foi reeleito reitor da UFLA com 76,7% dos votos válidos de estudantes (77,5% de graduação e 72,5% de pós-graduação), uma marca que entrou para a história dos processos de reeleição na instituição.

A escolha
Em junho deste ano, tendo iniciado o novo mandato, foi nomeada a equipe de trabalho, sendo que houve uma grande renovação na maioria das Pró-Reitorias, cargos de chefia e direção.

Para a PRAEC prevalecia uma incógnita, sendo que a nomeação da professora Ana Paula Piovesan Melchiori para o cargo pegou todos de surpresa na instituição.

De acordo com fontes do alto escalão da UFLA, inicialmente a professora, que é do Departamento de Ciência da Computação (DCC) estava cotada para a pasta da Graduação (PRG), mas com o vazamento da informação nos bastidores da universidade, teve início um grande descontentamento com a possível nomeação para o setor, vindo a direção a ter que buscar outras possibilidades.

Até então, era certa a permanência do antigo pró-reitor, que goza de prestígio com a comunidade estudantil. A PRAEC, conforme a nova pró-reitora mesmo mencionou em conversas com colegas, era a única ao qual ela não tinha nenhum conhecimento sobre seu trabalho e funcionamento.

A professora acabou vindo a ser nomeada para o cargo, poucos momentos antes do fechamento da equipe de trabalho do novo mandato. Como a definição foi feita quase em cima da hora, a transição foi feita de forma rápida, com a maioria dos servidores do órgão só tendo conhecimento da mudança no momento da posse.

O início
Transferências, mudanças e até demissões. Com o poder nas mãos e um discurso burocrata de que a prioridade são as 'regras', a nova PRAEC, sem fazer alarde, mexeu na composição do setor com desenvoltura, atingindo servidores experiente e com boa articulação, sendo que muitos deles até carregaram com afinco a bandeira do reitor durante sua campanha de reeleição, e acabaram rapidamente sendo substituídos por outros mais 'alinhados' e até sem conhecimento nenhum do setor em que se encontram.

Ao tomar posse, a Reitoria da universidade não previu que em um setor em que a experiência e a habilidade de funcionários já experimentados nas praxes administrativas e na articulação com o estudantes, iria se chocar as mudanças bruscas de grande parte destes servidores e afetar o andamento de projetos já iniciados.

Um desses projetos iniciado e levado a diante pela gestão passada da PRAEC viria, na nova gestão, a causar danos para os novos estudantes que ingressaram na UFLA na semana passada.

Trata-se da parceria com a Diretoria de Gestão e Tecnologia da Informação (DGTI) para a aquisição de sistemas automatizados em pontos estratégicos para vendas de tickets, o que diminuiria as filas no Restaurante Universitário (RU).

Devido a isso, a cada entrada de semestre, costumava ocorrer um atraso na entrega para o novo aluno, do cartão de acesso ao Restaurante Universitário (RU). A situação era imediatamente resolvida com a permissão do acesso por meio de comprovante de matrícula e documento de identidade do usuário.

Ao iniciar a nova gestão na PRAEC, um grande número destes servidores experientes no setor, foram trocados por apadrinhados da gestão que assumiu. Na semana passada, com a entrada de 1.700 novos estudantes na UFLA, foram confeccionados 1.500 carteirinhas, que dão acesso ao RU.

Por falta de material, não foi possível confeccionar o restante. O fato desencadeou uma grande bagunça na gestão do problema, que atingiu não somente o restante dos estudantes calouros de graduação, como também os da pós-graduação.

Sem cartão, sem comunicação correta sobre o problema, em contato com a redação do Blog O Corvo-Veloz, um estudante relatou a luta que tem enfrentado na instituição: “Ingressei agora na UFLA e sinto na pele a ineficiência da administração. Até o momento não consegui fazer minha carteirinha estudantil e sem ela não consegui usar o RU pagando como aluno. A única alternativa que me deram foi pagar como visitante com um valor 150% mais caro e assim, estou sendo obrigado a gastar um dinheiro que não tenho”.

Às 13h, desta segunda-feira, 26, o jornalista Sebastião Filho esteve na Diretoria de Gestão em Tecnologia da Informação (DGTI) da Universidade Federal de Lavras para apurar a situação.

Ao chegar ao local, havia uma fila de estudantes de graduação e pós-graduação buscando informações sobre o problema. Um funcionário do setor informava que não há material para a confecção das carteirinhas de acesso e que o problema só deve ser solucionado dentro de um mês.

Mesmo tendo direito a alimentação com preços subsidiados, devido este problema administrativo os usuários foram informados que terão que pagar o valor de visitante, que é de R$ 5,00 e cujo acesso é feito por meio de outro cartão, entregue no ato da compra do crédito e devolvido ao passar pela catraca.

O fato gerou grande revolta e é alvo de denúncia no Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle (MTFC), ex-Controladoria-Geral da União (CGU).

Confronto
Antes disso, a nova gestão da PRAEC já iniciou em confronto direto com os moradores do alojamento estudantil. Em um problema também envolvendo a carteirinha estudantil, ocorrido durante o período das férias escolares,

Estudantes da instituição foram proibidos de fazer a retirada de marmitex no Restaurante Universitário (RU) portando carteira estudantil em nome de outro usuário. Apesar de existir a proibição no regulamento, o fato sempre aconteceu com pleno conhecimento da instituição.

Muitos estudantes, em virtude da rotina de compromissos acadêmicos e não tendo como comparecer ao RU, pediam a um colega para fazer a retirada do marmitex em seu nome. O valor é o mesmo da refeição feita no local: R$1,00 para os estudantes em situação de vulnerabilidade econômica e R$2,00 o preço comum para estudante.

Para justificar a proibição, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários alegou que se trata de uma norma já estipulada oficialmente e que os estudantes estariam “pegando marmita e vendendo por mais caro”.

A alegação de uma suposta "venda de marmitas" como justificativa deixou perplexos os discentes da UFLA. A reportagem do Blog O Corvo-Veloz procurou então a instituição.

A pró-reitora, Ana Paula Piovesan Melchiori, negou que houvesse proibido o fornecimento de marmitex aos estudantes em nome de outro usuário do restaurante.

Segundo ela, houve "um ajuste no procedimento previsto no Regulamento do Restaurante Universitário". O regulamento foi aprovado em 2013.

Outro caso
Logo no início de sua gestão, ao ser questionada sobre a não realização mais do transporte em casos de pessoas com problemas de saúde, a pró-reitora de Assuntos Estudantis e Comunitários (Praec) foi enfática ao dizer que em casos de emergências deve ser acionado o SAMU e o Corpo de Bombeiros.

Até pouco tempo, quando alguém no campus da UFLA necessitava se deslocar até um hospital para atendimento em casos fora de urgência e emergência, contava com um servidor do serviço de vigilância patrimonial que fazia voluntariamente o transporte do estudante.

Recentemente, os vigilantes foram proibidos de fazer esse transporte. A situação é mais grave ainda para os moradores do Brejão, localizado na parte de baixo do campus da UFLA.

O assunto foi alvo de reportagem do Blog O Corvo-Veloz, publicada no dia 12 de agosto deste ano.

Política de bolsas na UFLA e cortes
Outro questionamento levantado pelos estudantes é em relação a política de concessão de bolsas. A notícia de que haveria mudanças nos critérios de avaliação e o consequente corte de bolsas na Universidade Federal de Lavras causa preocupação.

A instituição junta os repasses federais das políticas nacional de assistência estudantil com recursos próprios, formando uma única política, denominada de Programa Institucional de Bolsas.

O decreto do PNAES garante que cada instituição federal de ensino superior possa definir os critérios e a metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados. 

De acordo com a pró-reitoria Ana Paula Piovesa Melchiori, na UFLA, o estudante faz a sua classificação de vulnerabilidade, que tem validade por dois anos, podendo pedir a reavaliação toda vez que sua situação sofrer alteração. 

É justo é período de renovação, que para muitos já está chegando e a desorganização administrativa na nova gestão da PRAEC que tem gerado preocupação na universidade.

A pró-reitora Ana Paula Piovesan disse para a reportagem que a instituição não pretende criar novas bolsas, situação que contrasta com o aumento no número de estudantes que necessitam de auxílio. "Não temos previsão de cortes e nem de aumento no número de bolsas", disse. 

Ela falou também sobre os critérios de escolha para concessão de bolsas. "Os critérios de concessão de bolsas não mudaram, eles são os mesmos desde a criação do Programa de Bolsas Institucionais. Nele, são atendidos de forma prioritária os estudantes com maior grau na escala de vulnerabilidade, conforme o número de bolsas disponíveis. Sendo aprovado, o estudante é informado que a sua bolsa tem validade pelo período estabelecido no edital e que a manutenção da bolsa está condicionada à renovação da candidatura nos editais subsequentes, além de estar dentro da faixa de vulnerabilidade prevista em cada edital".

Apesar do posicionamento, tem havido cortes. A UFLA já chegou a ofertar 1.500 bolsas. Em março de 2015, a universidade tinha 1.450 e atualmente disponibiliza 1.300 bolsas, pagas no valor de R$300,00.

Alojamento estudantil
Para o alojamento estudantil, o popular Brejão, a nova gestão da PRAEC planejou rapidamente medidas 'duras'. Diante das polêmicas que tem sido geradas, a ordem é esperar o clima "esfriar".

Uma delas começou a ser feita e atingiu em cheio um funcionário terceiro que há se dedicou a prestação de serviços a instituição no alojamento. Em um momento em que o país vive uma recessão econômica e a cidade de Lavras fechando postos de trabalho, o discurso alegado é que no local tem que colocar "uma pessoa mais ríspida", com perfil de "comandante" e que também possa informar a nova PRAEC sobre o cotidiano dos moradores do local.

Além disso, a cantina localizada nas dependências do alojamento teria que ser fechado. A alegação é que o local dá prejuízo financeiro, que são cobertos pela Pró-Reitoria.

A medida afeta em cheio os estudantes, ainda mais em um momento que a instituição não tem previsão de ofertar o café da manhã, uma luta histórica da comunidade estudantil. Pesquisas comprovam que o café da manhã é um grande aliado do bom rendimento acadêmico.

Com a proposta de fechamento da cantina, os moradores não teriam mais acesso a produtos básicos como pães. 

10 comentários:

Anônimo disse...

Pois é... com essa proibição explícita de uma pessoa pegar marmitex em nome de outro usuário (que, impossibilitado de ir ao RU, pede para um colega pegar marmitex pra ele), fico pensando: como então, fica a questão de usuários com dificuldade de locomoção??

Na UFLA têm alunos com deficiência física/locomotora, que possuem, portanto, dificuldade de se deslocar. Ainda mais nos finais de semana, em que o horário do ônibus interno é reduzido (sobretudo no domingo, que nem tem o ônibus). Muitos não possuem automóvel próprio - e, portanto, fica bem mais fácil para tais estudantes pedirem a um colega buscar o marmitex para ele.

Então, com essa proibição, será mais uma barreira de acessibilidade para tais usuários?

(A não ser que, então, a PRAEC, através da Coordenadoria de Acessibilidade, emitisse um documento - em forma de folha ofício ou mesmo um cartãozinho - que abrisse exceção e desse direito a outra pessoa pegar marmitex em nome dele, através da apresentação desse documento juntamente com a carteirinha de estudante do aluno). Senão, aí fica difícil... :-/

Anônimo disse...

MMMMM! Tive uma ideia - paliativa a todos esses problemas, claro - mas que pode ajudar muita gente!!! :-D

Por um lado, está tendo o corte de bolsas - que dificulta muito quem precisa se manter em Lavras. Por outro lado, devido à contenção de gastos, não poderá haver café da manhã servido na Universidade.

Sendo assim, fica a sugestão, para os estudantes que necessitam de um dinheirinho extra: no mesmo ''embalo" em que vem aumentando o número de alunos que vendem diversas sobremesas na saída do RU, quem tiver vontade e disponibilidade, poderá também preparar lanches para vender na parte da manhã... o que acham?

Claro que levar líquidos para vender - tais como leite, café - é meio difícil... (A não ser que fosse leite em pó, a ser tomado na própria caneca que o aluno normalmente já tem, rsrsrs). Mas quem quiser vender pães com algum tipo de recheio, sanduíches, já quebraria um galhão!!! Tanto para quem vende... quanto para quem se alimenta! ;-) #FicaADica

Anônimo disse...

Eu sou uma que votou no Scolforo, tenho confiança nele. Mas realmente essa escolha da PRAEC não caiu bem, com todo respeito. Uma pessoa que nem conhece nada de assistência estudantil, não tem diálogo. Não tem mais condições disso ir adiante.

Anônimo disse...

Eu sou uma que votou no Scolforo, tenho confiança nele. Mas realmente essa escolha da PRAEC não caiu bem, com todo respeito. Uma pessoa que nem conhece nada de assistência estudantil, não tem diálogo. Não tem mais condições disso ir adiante.

Anônimo disse...

A coisa tá feia viu, aí ai

João disse...

Tinha mesmo que ter um critério para nomear. A pessoa não conhece nada do lugar e ainda tira quem conheço. Só podia dar nisso.

Anônimo disse...

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7234.htm

Anônimo disse...

Fui aluno da professora Ana Paula. Eu não estava ciente que ela se tornou pró reitora de assuntos estudantis até ler essa reportagem. Fiquei surpreso de como tiveram coragem de colocar uma pessoa tão desorganizada pra um cargo tão importante. O resultado é claro que seria algo assim e digo que vai piorar. Ela é uma pessoa totalmente desorganizada e não tem perfil para esse tipo de cargo, principalmente assistência estudantil. Não tenho dúvidas de que surgirão problemas mais graves.

Anônimo disse...

Pior que isso é ver prefeito brejeiro defendendo ela porque trocou favores.

Anônimo disse...

E varios prefeitos são baba ovos dela em especial um que faz floresta pois é rei em fazer denuncia dos outros sendo horrivel a convivencia como ele tá querendo representar uma galera? da qual é puxa saco para ganhar mordomias pessoais da ana paula e passar em cima dos outros e ferrar os brejeiros como é habito desses prefeitinhos!