segunda-feira, 21 de setembro de 2020

DÉFICIT HÍDRICO E ALTAS TEMPERATURAS IRÃO AFETAR PRODUÇÃO DE CAFÉ EM 2021 NA REGIÃO

Filme de polietileno na cobertura do solo ajuda a proteger a lavoura

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que, em 2020, a produção de café na região sul de Minas Gerais deve se situar entre 17 e 17,8 milhões de sacas, o que representa um crescimento de até 27,3% em comparação à safra 2019. Em 2021, a safra já seria naturalmente menor em função da bienalidade de produção, porém essa queda poderá ser ainda maior devido a fatores climáticos, que têm sido determinantes no volume da produção de café no Brasil. 

De acordo com o professor do Departamento de Agricultura (DAG) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Rubens Guimarães, as temperaturas elevadas, aliadas ao déficit hídrico observado nos últimos meses, são as principais limitações climáticas à produção do cafeeiro nas diversas regiões de cultivo e pode levar a grandes perdas para os produtores em 2021.

O professor lembra que a ocorrência de fatores climáticos adversos é frequente, como o excesso de chuvas nos anos de 1976, 1982, 1983, 1987; o frio intenso, com geadas severas em 1892, 1902, 1918, 1942, 1975, 1979; o calor excessivo em 1985, 2000, 2007 e 2014; e secas severas em 1942, 1961, 1963 e 2014). “Como se observou em 2014, a temperatura elevada aliada ao déficit hídrico são as principais limitações climáticas à produção do cafeeiro nas diversas regiões de cultivo, tendo sido calculado um prejuízo de mais de 30% na produtividade esperada de café naquele ano”, afirma Rubens.

De acordo com o produtor de café e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Gladyston Carvalho, “as lavouras de café vinham em excelentes condições, bem enfolhadas e vigorosas. Entretanto, neste momento em que as colheitas estão sendo finalizadas, observamos um aumento nas temperaturas e no déficit hídrico, causando uma desfolha intensa. Além desses fatores mencionados, a desfolha foi agravada pela dificuldade de controle da ferrugem, principal doença do cafeeiro. Apesar do verão ter sido com chuva regulares, contribuindo para o bom desenvolvimento vegetativo dos cafeeiros, fica ainda, a grande expectativa para o agricultor, de como será a safra em 2021”. 

Ainda de acordo com o pesquisador, o que sabemos “é que, se comparada com a previsão inicial que tínhamos para 2021, será, com certeza, menor, mas ainda é cedo para quantificar essa redução”.

Esses fatores adversos afetam não somente as lavouras em produção, mas também as lavouras em formação, causando um aumento na mortalidade de plantas jovens e onerando o custo de formação da lavoura cafeeira, pela necessidade de realização de um novo plantio, seja total ou parcial da lavoura. 

Segundo Gladyston, “em áreas irrigadas, os danos são menores, mas ainda existentes, uma vez que a demanda hídrica está muito acentuada”.

Técnicas para defesa do plantio
Pensando nessas adversidades climáticas, em 2016 foi instalado no câmpus da UFLA o experimento intitulado “Técnicas agronômicas para mitigação dos efeitos da restrição hídrica no cafeeiro”, que é conduzido até o momento. O objetivo desse estudo é aliar as técnicas já conhecidas com métodos inovadores para mitigação dos efeitos da menor disponibilidade hídrica no cafeeiro.

A pesquisa buscou entender os efeitos da seca e das altas temperaturas no solo e na planta de café, propondo combinação de técnicas como: manejo da cobertura do solo (com material orgânico ou mesmo filme de polietileno), manejo ecológico da braquiária, uso de fertilizantes de eficiência aumentada (estabilizados, de liberação lenta ou de liberação controlada), uso de polímeros retentores de água e condicionadores de solo. 

“Assim, foi possível propor técnicas de manejo da lavoura para aumentar a capacidade de armazenamento de água no solo (cobertura com resíduos vegetais, uso de polímeros retentores de água ou de compostos feitos de resíduos orgânicos), diminuir as temperaturas no solo e nas plantas para menor perda da água (melhorando a absorção de nutrientes com benefícios diretos no controle de pragas e doenças)”, relata o professor Rubens.

De acordo com o docente, “a melhor estratégia para que o cafeicultor se defenda das secas, que normalmente são potencializadas pelas altas temperaturas, é o manejo da lavoura, que deve ser planejado desde a sua implantação. Melhor cuidar de menores áreas de café bem manejadas (com altas produtividades) do que de grandes áreas pouco produtivas (com custos elevados)”.

do Portal Ciência da UFLA

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