Em gravação, ministro de Temer sugeriu que uma 'mudança' no governo federal resultaria em um 'pacto' para barrar a Operação Lava Jato
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Romero Jucá foi um dos principais articuladores da ascensão de Temer ao governo |
Em diálogos gravados no mês de março e divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira, 23, mostram que o ministro do Planejamento do governo interino de Temer e senador licenciado, Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, da qual ambos são investigados.
A Transpetro é subsidiária da Petrobras e é a maior processadora brasileira de gás natural e tua nas operações de importação e exportação de petróleo e derivados, gás e etanol.
De acordo com a reportagem de Rubens Valente, as conversas, que estão em poder do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ocorreram semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que abriu processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Na conversa, Sérgio Machado se mostrou preocupado com o envio do seu caso para a Polícia Federal (pf) de Curitiba, no Paraná, e chegA a fazer ameaças: "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...".
Em resposta, Romero Jucá afirmou que seria necessária uma resposta política: "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá. Ele acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado disse: "aí parava tudo".
Ainda na conversa, Jucá diz que "ministros do Supremo" teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.
O senador licenciado afirma também que tem "poucos caras ali [no STF]" ao quais não tem acesso e um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, a quem classificou como "um cara fechado".
Em outra parte da conversa, Romero Jucá concorda que o envio do processo para o juiz federal Sérgio Moro em Curitiba não seria uma boa opção.
Jucá classificou o magistrado como "uma 'Torre de Londres'". O termo é uma referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16.
De acordo com a fala do ministro do Planejamento do governo de Michel Temer (PMDB), os suspeitos eram enviados para lá "para o cara confessar".
Na conversa, eles dizem ainda que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Isso porque, segundo Jucá e Machado, Renan odiaria Cunha. "Só Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, porra", afirma Jucá no diálogo, que foi gravado.
"O Renan reage à solução do Michel. Porra, o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. 'Michel, vem cá, é isso e isso, isso, vai ser assim, as reformas são essas'", destacou Jucá ao ex-presidente da Transpetro.
Exonerado
O Diário Oficial da União (DOU) trouxe na edição desta terça-feira, 24, a exoneração do ministro do Planejamento, Romero Jucá.
Um dos articuladores da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado e homem de confiança do presidente interino, ele foi exonerado, nesta segunda, 23, após anunciar que iria se licenciar do cargo.
Embora tenha anunciado a licença, Jucá disse que pediria exoneração porque voltará a exercer o mandato de senador por Roraima.
O senador é investigado na Operação Lava Jato e em outro processo no Supremo Tribunal Federal (STF) e sua do governo ocorre um dia depois de o jornal Folha de S.Paulo divulgar conversa em que ele sugere um "pacto" para barrar a Lava Jato ao falar com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Em entrevista coletivo ontem, Romero Jucá afirmou que não devia "nada a ninguém" e não via "nenhum motivo para pedir afastamento".
O então ministro disse também que o termo "estancar a sangria", usado na conversa com Machado, se referia à economia.
Primeira bomba do governo Temer
De acordo com jornal americano New York Times (NYT), as novas acusações aumentam os questionamentos sobre o que estaria por trás do impeachment de Dilma Rousseff.
'As gravações, de uma conversa em março, sugerem que o Sr. Jucá entrou com um acordo com o objetivo de impedir e possivelmente até mesmo parar a investigação da Lava Jato. Sugere ainda que o impeachment foi parte do plano’, destaca o NYT.
Golpe
A presidente afastada Dilma Rousseff comentou, na noite desta segunda, 23, durante o 4º Congresso Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores da Agricultura Familiar, em Brasília, a divulgação do áudio da conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, no qual eles afirmam que o impeachment serviria para abafar a operação Lava Jato.
“Se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder, na fraude, as declarações fortemente incriminadoras do Jucá sobre os reais motivos do impeachment e sobre quem está por trás dele eliminam qualquer dúvida. Repito: a gravação escancara o desvio de poder, a fraude e a conspiração do processo de impeachment promovido contra uma pessoa inocente, sem nenhum crime de responsabilidade", afirmou ela.
Meta fiscal
A agenda do presidente interino Michel Temer deve perder velocidade no Congresso Nacional com a saída de Romero Jucá do governo.
Sem ele e Eduardo Cunha, dois dos principais operadores do presidente interino no Legislativo, ficará mais difícil aprovar uma pauta econômica ambiciosa, destaca a colunista Natuza Nery.
“Em conversas reservadas com aliadas de sua confiança, o próprio ex-ministro do Planejamento reconheceu que, uma vez fora da Esplanada, terá menos poder para influenciar votações polêmicas”, diz.
Caso a nova meta fiscal não seja aprovada até a próxima segunda-feira, 30, o governo Temer terá que trabalhar com a meta enviada pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso, que prevê um superávit de R$ 24 bilhões.
Na semana passada, o peemedebista chegou a declarar que, sem a aprovação, ele teria que "pedalar", referindo-se às manobras contábeis adotadas por sua antecessora e que serviram de argumento para a oposição pedir o afastamento de Dilma.
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