quinta-feira, 17 de agosto de 2023

POR QUE O REITOR DA UFLA É TÃO IMPOPULAR ENTRE OS TÉCNICOS-ADMINISTRATIVOS?


A atual administração da Universidade Federal de Lavras (UFLA) possui elevada rejeição nos 3 segmentos da comunidade acadêmica. Entretanto, parece que essa rejeição é maior entre os técnico-administrativos. Nesse texto vou tentar explicar por que isso acontece.

O reitor, no início do seu mandato, sem ouvir a categoria dos técnico-administrativos, fez várias mudanças na estrutura organizacional da UFLA. As mudanças promovidas pela atual gestão conseguiram piorar muito o que já não era bom.

Foram criadas as faculdades e duas estruturas administrativas nessas faculdades, a secretaria integrada e a gestão estratégica. Na prática, o que se fez, de forma atrapalhada e atropelada, foi passar tarefas que eram executadas pelas Pró-reitorias para esses novos setores.

Os técnico-administrativos desses setores tiveram que se virar para absorver, com um grupo muito reduzido de pessoas, várias atividades muito complexas, sem o treinamento necessário.

Além disso, os técnico-administrativos desses setores também tiveram que lidar com a visão distorcida de alguns pró-reitores que entendem que os técnico-administrativos dessas unidades são seus subordinados. Só que essa subordinação não existe no organograma da instituição.

A revisão da estrutura organizacional também foi negativa para as pró-reitorias. Notamos, ao compararmos a atual estrutura com a anterior, que vários setores foram rebaixados de “Diretoria” para “Coordenadoria”, houve redução ou estagnação do número pessoas dos setores e ocorreram trocas de pessoas sem uma capacitação adequada para os novatos.

Outros órgãos como a DGTI e, principalmente, a Biblioteca, também sofreram com essa gestão. A DGTI teve parte do prédio transferido para o Departamento de Física sem nenhum diálogo com os técnico-administrativos do setor. A reforma para receber o departamento de física começou no final do ano passado e tinha previsão de término em janeiro. Entretanto, essa reforma ainda não acabou e não tem previsão para terminar. Enquanto isso, os funcionários técnico-administrativos seguem trabalhando em meio ao barulho da obra.

Contudo, o caso mais grave, sem dúvida, é o da biblioteca. Por não aceitarem calados os desmandos da Pró-Reitoria de Graduação  (PROGRAD), o setor foi duramente perseguido. A descrição detalhada dessa perseguição foi registrada em uma carta aberta escrita pelos técnico-administrativos da biblioteca e divulgada pelo sindicato da categoria. Há relatos de desrespeito a legislação que determina atribuições exclusivas para os bibliotecários, assédios e perseguições. Essa carta, na íntegra, está no final desse texto.

Além dos problemas que podemos chamar de setoriais, há também os transtornos que atingem todos os técnico-administrativos. O Reitor segue adiando a regulamentação do programa de gestão, que irá permitir, entre outras coisas, o teletrabalho na instituição. A UFLA é uma das poucas universidades que não implementou o programa de gestão. Não sabemos se é por má vontade ou incompetência ou esses dois fatores somados. Há boatos que o programa de gestão será disponibilizado 3 meses antes da eleição para tentar obter alguns votos para o candidato da Reitoria. Vamos aguardar...  

A atual administração também vem negando praticamente todos os pedidos de redução da carga horária com redução proporcional da remuneração. Os técnico-administrativos que fizeram esse pleito, pelos mais variados motivos de ordem pessoal, foram surpreendidos pela absoluta insensibilidade e falta de empatia da atual administração, que negou os pedidos e ofereceu como opção “o olho da rua”, para os que entenderem que não podem ficar 8 horas por dia na instituição.

Essa postura da administração, sem dúvida, contribuiu para o aumento no número de pedidos de demissão e de transferências para outras unidades federais de ensino.

É muito triste ver uma categoria tão importante da comunidade universitária ser tratada com tanta truculência, insensibilidade e falta de empatia. Mas sejamos otimistas, falta pouco para essa gestão terminar.

CARTA ABERTA

Prezados/as colegas servidores/as desta universidade e demais membros da comunidade acadêmica,

Nós, técnicos administrativos lotados na Biblioteca Universitária, vimos, respeitosamente, por meio desta carta, expressar nossos sentimentos de tristeza, indignação, espanto de sermos desrespeitados e assediados ao acompanhar a 8ª Reunião do CUNI, ocorrida no dia 14 de junho do corrente ano, e os desdobramentos seguintes, devido a afirmações que não condizem com a realidade da biblioteca.

Link de acesso à reunião, a partir do minuto 13’30:

https://www.youtube.com/watch?v=TIsyf_i11V4

Sentimos tristeza porque vimos nos últimos anos, desde 2020, quando houve a retirada do cargo de direção da Biblioteca e a mudança para a nova estrutura da UFLA, a consequente redução da equipe e o surgimento de algumas adversidades na Biblioteca, como por exemplo: há equipamentos sem manutenção, desatualizados ou que não estão em funcionamento no setor; os coordenadores da biblioteca desmotivados por decisões unilaterais, falta de comunicação da DRPE/PROGRAD ou uma comunicação opressiva do Pró-reitor de Graduação, por e-mail ou em reunião, e ainda, a suspensão da concessão da jornada flexibilizada de 30 horas, concedida no interesse da administração, desde 1995 e regulamentada em 2008 por meio de portaria. O prazer em vir trabalhar tem se esvaziado a cada dia, devido a esses motivos e a decisão imposta, mantendo um professor, sem formação na área, respondendo pelo nosso trabalho.

Ressalta-se que, desde que a Administração da UFLA revogou a jornada de 30h da Coordenadoria de Informação e Serviços (CIS), de forma que consideramos imperativa devido ao pouco diálogo e sem levar em conta os possíveis impactos que isso poderia acarretar na qualidade dos serviços prestados, no ambiente de trabalho e na saúde ocupacional dos servidores, criou-se um um clima de insatisfação geral, uma vez que não foram consideradas as especificidades do setor, decorrentes de uma lógica de trabalho que se pauta por atendimento contínuo e direto ao público e por um período superior a doze horas ininterruptas. Na referida reunião do CUNI, o Reitor da Universidade disse que a jornada de 30 horas, tal como se dava na Biblioteca desde 2008, era uma “aberração” e que não havia fundamentos que a justificassem, tendo se sustentado tão somente na permissividade de gestores anteriores que não quiseram “comprar essa briga”. Tal afirmação é, além de inverídica, absurda! O regime de 30 horas, tal como adotado na Biblioteca ao longo de mais de uma década, está previsto no Decreto Nº 1590/1995, ainda que seja facultado ao dirigente máximo autorizar essa jornada, não se tratando de uma anomalia. Esclarecemos ainda que somente os servidores lotados na CIS faziam jus ao regime de 30h e, durante todo este tempo, os serviços foram prestados aos usuários de forma eficiente e satisfatória, sem qualquer prejuízo à comunidade acadêmica. Antes da biblioteca sofrer uma redução drástica no quadro de servidores, era possível realizar atendimento ao público de segunda a sexta-feira, de 7h às 22h, e aos sábados, de 7h às 13h.

Sentimo-nos espantados, pois o Pró-reitor de Graduação perguntou, durante a reunião do Cuni, se o Repositório Institucional fazia atendimento direto ao público. Fica evidente que esse questionamento decorre de quem não conhece o funcionamento e os serviços prestados pela Biblioteca, no caso do Repositório. Afirmamos que o setor faz sim atendimento ao público, em especial aos pós-graduandos e que, até 2020, fazia carga horária de 8 horas diárias. Na gestão atual, de responsabilidade do Diretor da DRPE, Lucas Amaral de Melo, e do Pró-reitor de Graduação, Ronei Ximenes, o Repositório Institucional foi incorporado à Coordenadoria de Informação e Serviços (CIS), única coordenadoria autorizada a fazer jornada flexibilizada de 30 horas. Para se adequar à nova vinculação, os serviços do Repositório Institucional passaram a ser prestados por no mínimo 12 horas ininterruptas. O Repositório foi incorporado na CIS porque, até o início da pandemia, o atendimento do RI era feito totalmente presencial, inclusive durante a reforma da biblioteca, com balcão de atendimento ao lado do setor de Circulação e empréstimo de materiais. Importante destacar que nenhum dos coordenadores tem autonomia para alterar a carga horária dos setores ou de qualquer servidor sem o consentimento do Diretor da DRPE/PROGRAD. Dessa forma, a carga horária do RI foi alterada apenas após o aval da PROGRAD e, posteriormente, aprovação no Conselho de Graduação (CONGRAD).

Sentimo-nos desrespeitados porque há doze bibliotecários na biblioteca da UFLA, mais dois em outros setores da universidade, especialistas em Biblioteconomia, os quais se formaram nesta área, fizeram concurso para as vagas específicas, e o Pró-reitor de Graduação alegou, em uma reunião ocorrida entre os servidores da biblioteca, que não confia em nenhum deles para o cargo de direção e que a Biblioteca precisa de um engenheiro para organizar as “coisas por aqui”. Sentimo-nos desrespeitados porque a Biblioteca foi gerida por bibliotecários com formação em Biblioteconomia, desde 1966 e agora, está sob a responsabilidade de um docente não especializado na área. Sentimo-nos desrespeitados porque as demais diretorias da UFLA são ocupadas por profissionais especializados, às vezes técnico-administrativos, às vezes docentes, mas todos com formação na área que é objeto daquela diretoria.

Sentimo-nos indignados porque o Pró-reitor de Graduação tentou nos desmoralizar, praticamente, insinuando que “estamos atrás” apenas de um Cargo de Direção (CD4). Apesar dele ter afirmado que fez algumas consultas aos bibliotecários sobre o interesse em assumir a Coordenação Geral (FG1), não foi mencionado sobre a possibilidade de um bibliotecário assumir o cargo de direção (CD4). Mas o professor foi nomeado para o cargo de Direção e não o de Coordenação Geral. Cabe ainda expor que todas as atividades e responsabilidades que a antiga diretoria da biblioteca possuía foram mantidas com o coordenador geral, condição formalizada segundo o regimento da Biblioteca Universitária, o qual menciona que “a Coordenadoria Geral é a instância executiva de direção, supervisão e suporte às atividades da BU”. Ora, se o cargo de Coordenador Geral manteve essas responsabilidades, por que não manter o cargo de direção para bibliotecário? Apesar da confessada falta de confiança do Pró-reitor de Graduação em todos os bibliotecários da universidade, vale ressaltar que todo crescimento da biblioteca, seja ele em serviços oferecidos ou tecnologias trazidas para melhorar a qualidade destes, aconteceu durante os anos em que a Biblioteca era dirigida por profissional bibliotecário, com dedicação exclusiva ao cargo de diretor, ao contrário do que tem acontecido nesta gestão, realizada por um professor que divide as atividades da Biblioteca com as inerentes à profissão docente.

Sentimo-nos assediados moralmente, ameaçados e intimidados, pois apesar do Pró-reitor de Graduação afirmar, na Reunião do CUNI, que tais mudanças relacionadas à estrutura da PROGRAD e da Biblioteca seriam para "entregar/devolver um ambiente de trabalho melhor aos servidores", um dia após, fez uma reunião com parte da equipe da Biblioteca, com a presença de 8 servidoras e 1 servidor, com falas que podem ser consideradas constrangedoras e autoritárias, inclusive com ameaças de abertura de sindicância e processos administrativos para intimidar possíveis “refratários”, expressão dada por esse pró-reitor àqueles que expressam opiniões distintas às dele. Esse é o ambiente saudável que foi projetado para a biblioteca universitária?

É importante constar que a equipe da Biblioteca Universitária nunca foi contrária à reestruturação da Pró-Reitoria de Graduação. Contudo, primamos por um ambiente de trabalho saudável, onde todos possam ser ouvidos e possam colaborar em um processo de melhoria contínua, e acreditamos que os atos de gestão devam ser baseados em princípios como a impessoalidade, a legalidade, a moralidade e o respeito. 

Por fim, pedimos desculpas aos senhores pelo desabafo e pelo teor desse texto e desde já, agradecemos pela atenção.

Assinam esta carta 17 dos 23 servidores da Biblioteca Universitária (Bibliotecários e Assistentes).

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