
Supostos problemas em processos eleitorais e antigas irregularidades de gestão ameaçam uma das tradicionais universidades do interior de Minas. Após quatro décadas de atuação no mercado de educação superior, a Universidade Vale do Rio Verde (Unincor), com nove campi no Estado, incluindo a sede em Três Corações, na região Sul, tenta superar uma turbulência que desencadeou em altos passivos trabalhistas e em paralisações de professores. As possíveis irregularidades, que também incluem a Fundação Comunitária Tricordiana de Educação, mantenedora da Unincor, viraram alvo de denúncia ao Ministério Público Estadual (MPE). O órgão designou um gestor para assumir a tarefa de colocar "a casa em ordem". Mas para que isso aconteça, o patrimônio da Unincor começa a ser vendido e não se descarta o fechamento de unidades no interior, como em Leopoldina, após estudo de viabilidade financeira. De acordo com a promotora de Justiça curadora de fundações, Valma Leite da Cunha, uma fazenda subutilizada pela universidade em Três Corações já foi vendida, no valor de R$ 2,7 milhões, para saldar os pagamentos atrasados do funcionalismo.
A promotora e o atual gestor indicado para administrar a Unincor, Matheus Bressan, não revelaram o total da dívida - que ainda persiste -, mas admitem a necessidade de ser negociada uma área em Betim, com extensão aproximada de 25 mil metros, para ajudar no pagamento de pessoal. "Existe um endividamento grande e uma queda das receitas. Buscou-se inicialmente o financiamento e ainda insistimos nessa linha de pensamento. Porém, enquanto não sai a liberação de recursos, passamos para outro passo, a venda de imóveis desnecessários à finalidade educacional", disse Valma. Documentos levados ao MPE dão conta de um conjunto de bens estimado em R$ 450 milhões. Ex-diretor de recursos humanos da Embrapa na capital federal, formado em agronomia e pós-graduado em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), Matheus Bressan assumiu o desafio de sanear as dívidas da Unincor há cerca de 45 dias. Para isso, também houve o enxugamento da máquina. Ele não revelou números absolutos, mas admitiu ter ocorrido a rescisão de 30% dos contratos com o corpo docente.
"Não gosto de fazer julgamentos, mas houve má gestão. Os contratos não eram bem formulados e o quadro de pessoal era inchado, criando altas despesas. O que vi quando cheguei era uma administração arcaica, fora da realidade do século XXI", analisou. Uma consultoria externa à universidade foi contratada para colher informações que permitam um diagnóstico da instituição de ensino. O estudo não visa um mapeamento completo por falta de recursos. Porém, as situações mais delicadas estão sendo verificadas, como o futuro das unidades de Leopoldina e Itaguara, na região Central. Apenas 29 alunos do curso de música estudam no campus de Leopoldina e, a formatura, ocorrerá este ano. "Vamos repensar a existência da unidade, olhando bem o mercado da região. Mas se o estudo apontar para a inviabilidade, vamos ter que fechar", disse.
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