ISTOÉ – Como vai sua saúde, vice-presidente? É verdade que houve uma grande melhora?
Alencar – Às vezes falam sobre esse assunto, mas as coisas não são publicadas direito. As notícias saem com dados equivocados. Porque eu já passei por 15 cirurgias. Esse tumor é recorrente e volta. A característica dele é reincidir. Ele é chamado de sarcoma em tecido mole e não está localizado em nenhum órgão do aparelho digestivo e nunca esteve. É um câncer que dá no músculo ou na gordura. A primeira vez que esse tipo de tumor me acometeu foi em 2006.
ISTOÉ – Ocorreu, então, a primeira das 15 cirurgias?
Alencar – Sim. Fui operado em 18 de julho de 2006 no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Três meses depois foram feitos novos exames e se constatou a volta do tumor retroperitoneal. Eu estava em campanha e continuei trabalhando. Quando vencemos a eleição, amanheci no hospital para fazer os exames. As eleições terminaram em 29 de outubro e no dia 30 eu estava lá.
ISTOÉ – O tumor voltou no mesmo local?
Alencar – Numa microrregião diferente. Então, fui operado pela segunda vez em Nova York, no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, famoso hospital que tem um grande cirurgião, Marc Brannon, campeão em sarcoma. Ele me operou em 14 de novembro de 2006. Uma operação demorada, de quase sete horas, porque ele adotou uma radioterapia intraoperatória para ver se erradicava o tumor. Em 2007, novos exames constataram a volta dos nódulos. Dessa vez no abdome, e não lá atrás. Uma coisa de cinco nódulos. Passei por novas cirurgias, todas no Sírio Libanês. Em 2008, mais cirurgias. Só esse sarcoma, eu operei oito vezes.
ISTOÉ – Este ano, houve novas cirurgias.
Alencar – Ao todo, foram três cirurgias. Uma em janeiro, que durou 18 horas, e duas em julho, porque surgiram 18 novos nódulos no abdome. Esse tumor não é brincadeira. É retirado completamente e com ampla margem (Alencar faz um desenho no papel). Os médicos retiram tudo o que está ao redor. Mas ele volta porque deixa algumas células. Só na região das alças intestinais, no meio delas, tiraram 11 tumores. Mas ficaram alguns. Os médicos não sabem ao certo quantos, porque estavam muito juntos. Uns falam que ficaram cinco, outros que ficaram três, mas na parte baixa do intestino. Esses não teve jeito de serem tirados. E foram crescendo.
ISTOÉ – Como o sr. recebeu as más notícias?
Alencar – Com serenidade, porque o desespero não ajuda. Fui escoteiro e o Baden-Powell, fundador do escotismo, dizia que o escoteiro sorri nas dificuldades.
ISTOÉ – Foi quando os tumores voltaram a crescer que o sr. decidiu deixar o tratamento experimental e voltar ao método tradicional?
Alencar – O doutor Paulo Hoff, oncologista do Sírio Libanês, que é o meu principal médico, disse assim depois das cirurgias de julho: “Acho que nós temos que voltar à quimioterapia clássica. Porque hoje há condições de se fazer coquetéis por via oral, além da quimioterapia intravenosa, com medicamentos associados ao tratamento. Vamos fazer uma tentativa.” Começamos no dia 1º de setembro. Em 21 de outubro, portanto 50 dias depois, fizemos os primeiros exames de imagens. Os nódulos tinham decrescido 30% e os exames não detectaram ponto novo.
ISTOÉ – Enfim, uma boa notícia.
Alencar – É verdade. Uma grande notícia. Os médicos se reuniram e ficaram impressionados com o que viram. Continuamos o tratamento: 46 dias depois, em 7 de dezembro, foram feitos novos exames de imagens. Nova redução. Uns falam de 30%, outros de 40%. Os médicos diziam que as imagens confirmavam os exames de apalpação.
ISTOÉ – O sr. percebeu a melhora?
Alencar – Também faço apalpação, mas não sou médico. Assim ocorreu e eu continuo o tratamento. Já foram 12 quimioterapias. Comecei em setembro. Faço duas semanas seguidas e uma não. No segundo e no terceiro dias, os efeitos colaterais são mais fortes. Tem febre, cansaço. Mas há os antídotos que a gente toma. Se bem que alguns antídotos também têm efeito colateral.
ISTOÉ – O sr. está caminhando para a cura?
Alencar – Estou caminhando para a cura celeremente. E eu vejo a mão de Deus. Isso só pode ser milagre. Recebo orações do Brasil inteiro. Meu gabinete está catalogando tudo. É uma fábula o que se recebe de cartas, mensagens e orações de todo o País. É uma coisa impressionante. Formou-se uma corrente nacional. Eu costumo citar o almirante Barroso. Na célebre Batalha do Riachuelo, ele dizia assim: “Sustentar o fogo que a vitória é nossa!” Eu falo isso: “Sustentar o fogo.” O meu fogo são as orações, que estão me valendo muito. Nenhum médico deixou de me dizer que esse tumor era impossível. Todos foram absolutamente francos comigo.
ISTOÉ – E os médicos não costumam ser religiosos.
Alencar – Mas respeitam. Há uns dois anos, o dr. Paulo me disse: “Eu tenho que falar com você, porque você é um paciente que merece toda a minha atenção. Esse caso é muito difícil, para não dizer impossível. Mas pode existir um milagre.” Não perdi a fé em nenhum momento. Mesmo porque eu sempre repeti: Se Deus quiser me levar, ele não precisa de câncer. Se ele não quiser que eu vá, não há câncer que me leve. E tudo indica que Deus não quer me levar.
por Octávio Costa e Adriana Nicacio
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