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A UNIVERSIDADE E A DESIGUALDADE SOCIAL

Porta de entrada para a Universidade: Calouros na Ufla são recebidos com propaganda institucional que exclui a diversidade do povo brasileiro e os deficientes físicos
Milhares de estudantes ingressam oficialmente, hoje, segunda-feira, 18, na Universidade Federal de Lavras (UFLA) em meio a uma grande polêmica. No ano em que faleceu Nelson Mandela, o outdoor de recepção aos calouros colocado na Portaria Principal da UFLA contraria os programas de inclusão e diversidade do Governo Federal e as conquistas das minorias e deficientes físicos brasileiros.  

A propaganda institucional, colocada na porta de entrada da instituição, mostra dois estudantes brancos em destaque e apenas no segundo plano aparece uma estudante negra em montagem sombreada e desfocada e virou alvo de discussão nas redes sociais. A dívida do país com a população africana e indígena, que hoje se tornaram políticas públicas do Ministério da Educação (MEC), órgão ao qual a universidade é vínculada, fruto de anos de lutas, ainda encontra obstáculos em alguns meios de comunicação da UFLA. 

Diferentemente do que acontece nas emissoras de rádio e televisão da universidade (Rádio Universitária e TV Universitária) onde as atividades ligadas as políticas públicas das minorias e deficientes sempre encontram espaço, contando a TV inclusive com um apresentador e uma repórter negra, a comunicação institucional deixa a desejar. 

Blog O Corvo-Veloz realizou uma ampla pesquisa de imagens na internet contendo folders, cartazes e demais propagandas institucionais da UFLA e constatou que a presença de negros é baixa, quanto aos deficientes físicas, nem aparecem. Veja algumas abaixo: 









Iniciativas isoladas
Na Universidade Federal de Lavras iniciativas e discussões a cerca de políticas públicas para as minorias e deficientes ainda são atividades isoladas em alguns departamentos, como o de Educação (DED), Ciências Exatas (DEX) e o de Ciências Humanas (DCH). Por iniciativa de professores e estudantes do DCH, foi comemorado na universidade o Dia Mundial da África, atividade que ganhou destaque na rede social da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República. 

Quanto aos deficientes físicas, a UFLA possui uma infraestrutura física e de transportes bem moderna e ousada. Mas, somente agora vai realizar o concurso público para intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para atuar em seus vídeos institucionais. No início deste, um estudante com deficiência visual, após superar inúmeras dificuldades, conclui o curso de licenciatura Física na UFLA e foi aprovado para o mestrado na mesma área na universidade. 

Ao longo do curso, ele afirma que encontrou professores, amigos e colegas que souberam lidar com a deficiência. Em entrevista, ele sugeriu, por exemplo, que se tenha um estúdio de gravação em que os conteúdos possam ser transformados em áudio e utilizados pelo aluno, quando precisar, diminuindo a dependência de alguém que só pode fazer a leitura em determinados momentos.

Diversidade é um dos temas trabalhados pela equipe do Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras. Na foto, bonecos de pano enfeitando o 100º Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil, organizado pelo Departamento

Desigualdade à flor da pele
Até abril de 2012, levantamento apontado pelo portal G1 mostrava que estudantes negros ou pardos são contemplados em políticas de ação afirmativa de 21 instituções. Os indígenas também são contemplados por cotas em 19 processos seletivos nas universidades vinculadas ao MEC. Naquela ocasião, conforme o G1, a Universidade Federal de Lavras (Ufla) não tinha nenhuma política de ação afirmativa. Além disso, hoje, não existe nenhum negro ocupando cargos no alto escalão da universidade.

As cotas
Em agosto de 2012, os senadores aprovaram em Plenário, o projeto que destina 50% das vagas em universidades federais para estudantes oriundos de escolas públicas. O projeto aprovado pelo Senado combina cota racial e social. Segundo o texto, enquanto metade das vagas oferecidas serão de ampla concorrência, a outra metade será reservada seguindo três fatores: cor, rede de ensino e renda familiar.

A cota racial proposta é diferente em cada universidade ou instituto da rede federal. Estudantes negros, pardos e índios terão o número de vagas reservadas definido de acordo com a proporção dessas populações apontada no censo do IBGE de 2010 na unidade da federação em que está a instituição de ensino superior.

Com a aprovação da Lei de Cotas, a UFLA reserva, atualmente, 12,5% das vagas de cada curso e turno para cotistas, tanto no processo seletivo feito pelo SiSU quanto no Processo de Avaliação Seriada (PAS). A reserva de vagas, que está sendo feita de forma progressiva é destinada para estudantes que cursaram o Ensino Médio integralmente na rede pública, negros, partos e indígenas. 

Minorias
Em decorrência do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o conceito de minoria no Brasil está ligado à grupos distintos dentro da população do Estado, possuindo características étnicas, religiosas ou lingüísticas estáveis, que diferem daquelas do resto da população; em princípio numericamente inferiores ao resto da população; em uma posição de não dominância; vítima de discriminação.

No Brasil isto compreende os índios; os ciganos; as comunidades negras e remanescentes de quilombos; comunidades descendentes de imigrantes; membros de comunidades religiosas, imigrantes, homossexuais, portadores de deficiências, moradores de rua, moradores de vilas (ou favelas) idosos e mulheres.

O outro lado
Em resposta, a Assessoria de Comunicação (Ascom) da Universidade Federal de Lavras, órgão da Diretoria Executiva e responsável diretamente pelas imagens institucionais, afirma que não houve omissão no caso específico do outdoor em questão e que ao contrário, a Universidade procura demonstrar em suas campanhas a diversidade e a inclusão. Ressaltou também que promoverá em outras mídias, campanhas mostrando a diversidade e inclusão.

Conceito
A palavra universidade tem origem no latim Universitas e significa "Universalidade, o todo, e ainda o Universo, o conjunto das coisas, comunidade." 

Comentários

Anônimo disse…
Aproveitando pra falar de desigualdades: Interessante que a mesma universidade que critica a venda de ingressos por serem shows beneficentes reserva a metade frontal do palco para os vips, segregando o público e causando desconforto aos demais. Será que os vips doaram mais alimentos que os normais?
Anônimo disse…
Caros. Não existe preconceito e racismo na prestigiosíssima UFLA. Publicaremos muitos artigos científicos para calar a boca dos críticos.
Anônimo disse…
Não entendo. Se a BBC de Londres publica pesquisas que evidenciam a discriminação nas mídias brasileiras o que artigos de ciências agrárias poderiam fazer para modificar a atual situação do Brasil?

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